Por Andreia Fidalgo A reivindicação não é minha, embora me pareça justa. Está pichada em pleno Parque das Cidades, onde se ergue o fantasmagórico Estádio do Algarve, outrora construído para receber o Euro 2004. Desse evento propriamente dito, o Estádio apenas recebeu três jogos: dois da primeira fase e um dos quartos-de-final. Depois disso, o espaço recebeu alguns outros eventos públicos que, com o passar dos anos – e nunca tendo sido abundantes! – se têm tornado cada vez mais escassos. A sua construção não foi isenta de controvérsias. Logo à época, muito se discutiu sobre a validade de um investimento de muitos milhões de euros para um evento necessariamente efémero, não apenas para a construção deste estádio, mas também de outros que pelo país fora se fizeram. O tempo viria a dar razão às vozes críticas, com os estádios a entrarem em processo de abandono e colapso. A discussão da utilidade destes equipamentos e as vozes que se erguem contra a ideia de que são um “sumidouro” de dinheiros públicos, ainda continuam, pois, actuais. Em 2010, noticiavam-se as dificuldades da Câmara Municipal de Loulé e da Câmara Municipal de Faro para garantir o pagamento das despesas de manutenção do Estádio do Algarve, que rondavam os 10.000€ diários. Apesar de tudo, ao longo de todos estes anos, o facto é que os dois municípios algarvios se esforçaram, com sucesso e meritoriamente, para manter essa infra-estrutura operacional. No entanto, eu não venho aqui hoje para falar do estádio propriamente dito, embora me pareça que, de facto, esteja largamente subaproveitado e necessite de revitalização (ou, em alternativa, de uma empreitada para o mandar abaixo de vez!). O que me traz aqui hoje é toda a envolvente dessa infra-estrutura, designada por Parque das Cidades. Além das lógicas e necessárias zonas de parqueamento automóvel, o Parque das Cidades foi criado com o objectivo de constituir uma zona de lazer, na qual existe, inclusivamente um parque infantil, mas que é sobretudo vocacionada para a actividade física. O espaço verde é dotado de equipamentos de manutenção, de um campo de treino de basquetebol, de um campo de treino de futebol, além da passadeira vermelha bem longa que apela aos que praticam ciclismo e corrida. À partida, todos estes elementos parecem altamente positivos e benéficos para os habitantes dos dois municípios que podem usufruir de todas essas vantagens… Sendo assim, qual é o problema? Enquanto utilizadora regular do Parque das Cidades, onde vou fazer as minhas corridas, não posso deixar de me insurgir contra o elevado estado de degradação e abandono a que foi votada toda essa zona de lazer. Toda a zona verde e os equipamentos de manutenção estão degradados. Os parques de estacionamento, sobretudo os mais escondidos, indiciam serem palco frequente para actividades sexuais e, quiçá, para outras actividades menos lícitas. A sensação de insegurança, quer para um utilizador solitário – como é o meu caso – quer para um passeio em família, é tremenda, e confesso que a determinadas horas tenho mesmo medo de lá ir. Por isso mesmo, não posso deixar de me perguntar acerca da verdadeira utilidade daquele espaço, na medida em que, gerido com dinheiro público, deveria servir verdadeiramente para o usufruto dos cidadãos. Ao longo dos anos, muito se tem falado sobre a necessidade de dinamizar o Parque das Cidades. O seu Plano de Pormenor prevê a construção de unidades hoteleiras, o que em muito beneficiaria o intuito de se fazer desse espaço um centro de estágios para equipas de futebol. Precisamente nesse mesmo sentido, em 2017 arrancava o projecto de construção de um centro de treinos… A obra, iniciada e alardeada pelos municípios de Faro e Loulé em ano de eleições autárquicas, parou pouco tempo depois e encontra-se agora totalmente ao abandono. Portanto, mais um excelente contributo para o estado de degradação generalizado. O Plano de Pormenor do Parque das Cidades também previa albergar outras infra-estruturas de elevada importância, como o Hospital Central do Algarve. O tal Hospital Central prometido desde 2002. A cronologia desta saga, publicada no site da Administração Regional de Saúde do Algarve, é, no mínimo, insólita. Vejam-se as suas primeiras entradas: 2002 – Por Despacho do Ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, são constituídos os Grupos de Coordenação Interdepartamental para o lançamento das parcerias público-privadas, que inclui o Grupo Interdepartamental para o lançamento de uma nova unidade hospitalar no Algarve a desenvolver no Parque das Cidades Faro/Loulé (Despacho 19946/ 2002 de 10 de Setembro de 2002); Volvidos quase 20 anos, continuamos sem ver indícios do tal Hospital Central, nem no Parque das Cidades, nem em qualquer outro local. Mas uma coisa temos como certa: o Parque das Cidades continua a ser um sumidouro de dinheiro público. E isto, per se, é algo que nos devia preocupar a todos, cidadãos, e em particular aos munícipes de Faro e de Loulé. Seria bom, e já que estamos novamente em ano de eleições autárquicas, apelar a que ambos os municípios e respectivos candidatos esclareçam os cidadãos sobre os projectos futuros para este espaço… E que não sejam meramente promessas vãs de projectos que nunca se concretizam. Porque seria excelente se, de facto, todos nós pudéssemos usufruir do Parque sem medos, tirando o máximo partido de todos os benefícios que tem para oferecer.
3 Comments
Nelson Mendes
6/5/2021 00:40:53
A Sabedoria Popular e os Graffiti desde os tempos das pinturas rupestres que dizem as "verdades incómodas" para o Poder.
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R. Aballe
16/5/2021 21:06:30
Caríssima Andreia,
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R. Aballe
16/5/2021 21:07:25
Caríssima Andreia,
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