![]() Por Joana Cabrita Martins
A Região de Turismo do Algarve elegeu o seu “novo” representante máximo. João Fernandes, actual vice-presidente, será dentro de poucos meses empossado Presidente da RTA, após ter ganho as eleições desta sexta-feira, nas quais concorreu contra o actual presidente, Desidério Silva. Desde já deixo os meu parabéns ao novo eleito. E deixo também os meus desejos e ânsias, como Algarvia nascida na década de 80 e como actual empresária neste mesmo sector que, foi vendo a sua Região ser moldada, abandonada, adulterada, aniquilada na sua génese, na sua identidade, nas suas actividades endógenas pela actividade turística ao longo dos últimos 30 anos. Desejo que este novo mandato seja pautado pelo respeito e pela ética rumo à sustentabilidade da região. Que se promova e defenda um turismo em que os residentes locais tenham um lugar principal e não sejam meros figurantes. Significa isto, lutar por legislação que estruture e resguarde também ela o espaço e o papel dos residentes sem detrimento do dos visitantes por forma a criar uma coexistência em equilíbrio. Seja na salvaguarda dos mais básicos sectores sociais, como a regulação de acessos e preços de habitação, bens e serviços em que a desregulada especulação turística restringe e inflaciona, causando severos constrangimentos à população residente. Seja na regulamentação do trabalho no sector do turismo, relativamente a contratos laborais, horários, salários, que não sejam exploratórios, desumanos e sazonais. Que se promova e defenda um turismo em que a natureza, a paisagem e os recursos endógenos Algarvios que lhe são identitários e diferenciadores sejam enaltecidos. Em que a paisagem mediterrânica com a sua fauna e flora características, a sua agricultura e pecuária próprias, têm que, também eles ser actores principais neste turismo do séc XXI. A paisagem e os recursos naturais devem ser encarados como mais-valias a ressalvar e estimar e a não serem arrasados por empreendimentos turísticos megalómanos como se têm feito em áreas que deveriam ser protegidas, da costa ao barrocal. Que se promovam e defendam projectos turísticos com respeito pelo legado arquitectónico algarvio, que contem a sua história e que sejam feitos de acordo com os materiais, paisagem e condições climatéricas características do local a que se destinam, em detrimento dos empreendimentos sem sentido de pertença ou personalidade. Que se promovam e defendam projectos turísticos que reconheçam, elogiem e prestigiem a nossa cultura, história, estilos de vida regionais. Que se promova e defenda um turismo variado, diversificado e com carácter identitário e não massificado, apostando em empresas que estimulem a economia local e invistam os seus recursos financeiros e humanos na região. Que se promovam e defendam empresas e entidades que trabalhem um turismo singular e inovador, marcado pela qualidade com respeito por todos os anteriores factores e se distingam pelas boas práticas e cumprimento dos requisitos legais. Que se combata a massificação e a ilegalidade por um turismo sustentável e ético com respeito pela região, pelas suas gentes e pelos seus visistantes. Volto a mencionar Doug Lansky, como já fiz anteriormente, a propósito da sua visão e opinião sobre o tema: “Hoje é muito mais barato e muito mais frequente viajar. Isso é bom porque muito mais gente tem a possibilidade de conhecer outros países. Mas nas suas conferências diz que não é sustentável. Porquê? Porque não é. Quem fica com a maioria dos lucros de um aumento tão rápido do número de pessoas que visitam uma cidade são os Mariotts e os Continental, os Expedia, os Booking e os Starbucks deste mundo. Alguns nem pagam impostos nos locais onde estão, mas os que pagam, mesmo assim pagam uma taxa para hotelaria ou restauração que é a mesma cobrada a um outro restaurante ou hotel muito mais pequeno. Utilizam os recursos da cidade, criam filas para lugares e serviços que os locais também precisam de usar e tudo isto sem regulamentação. Também o turismo, para não se perder numa espiral de consumo ‘até à medula’ dos recursos das cidades onde existe, precisa de ser regulado. O turismo internacional está a crescer muito mais depressa do que a população. ” É o que se passa com todos os setores quando começam… Exatamente. Lança-se um novo produto, um novo setor e estica-se a corda quase até partir e depois os governos têm que entrar no jogo. Medicamentos, por exemplo. Ou comida. Durante muito tempo produziram-se medicamentos e produtos de alimentação sem qualquer regulamentação e um dia alguém notou que havia gente a morrer por culpa disso e passou a existir controlo. É uma coisa natural. O que se passa com o turismo, de forma muito resumida, é isto: uma cidade, ou vila, começa a receber turistas, os restaurantes ficam um pouco mais cheios e os hotéis começam a ter mais reservas, a ter um pouco mais de lucro. Depois, quanto mais pessoas vêm, as companhias internacionais, que conhecem bem a indústria, descem como abutres sobre esses sítios e tomam conta dos negócios. Chegam as H&M e as Zaras e as páginas de reservas de tudo em “pacote”, que deixam de fora os restaurantes pequenos e as lojas pequenas. As cidades têm que aguentar com o consumo dos seus recursos: a água, as ruas, o sossego, mas não há retorno para todas as pessoas.” Doug Lansky, jornalista de viagens e especialista em turismo em entrevista para o Observador Como o turismo no Algarve não é de hoje, mas sim de há 30 anos, deveremos por esta altura ter já assimilado estes paradigmas iniciais e ter uma estratégia sustentável desenhada. Assim sendo faço votos de que, para além de autor neste Lugar ao Sul, sejas um grande actor no sector do turismo neste lato lugar ao sul! Bom mandato João Fernandes! Nota: Por opção, a autora não escreve aplicando o acordo ortográfico actualmente em vigor.
1 Comment
Francisca Viegas
16/5/2018 14:50:32
Que as tuas palavras não caiam em “cesto roto”, Joana. Deixa-me fazer apenas uma pequena correção . Esta situação que reportas não tem 30 anos. Vim para o Algarve em 70 com uma formação em turismo fresquinha e, portanto, cheias de ideias, intenções e projectos ...deparei-me exatamente, embora em embrião, com o que descreves. Sempre me debati contra o que via acontecer que preconizava o estado actual do Turismo não só no Algarve, mas em Portugal. Sempre alertei, lutei e “chumbei” projectos quando estive em posição de o fazer. Como eu, outros o fizeram mas as vontades políticas , os lucros fáceis e sobretudo a inconsciência e desconhecimento levaram a um “crescendum” e, aqui estamos nós, aqui estás tu e outros a chamar a atenção, a lutar por um Algarve digno e sustentável. Continua com essa lucidez e assertividade. Obrigada, por mim e por uma região que precisa ser defendida urgentemente.
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