Por Bruno Inácio A regeneração urbana, a construção da cidade, a mobilidade. Conceitos que associamos de forma indelével ao core business da administração pública central e local. A reflexão em torno deste tema acaba consequentemente por se centrar nos políticos e naqueles que procuram intervir publicamente de forma mais ou menos interessada neste tema. A cidade, do ponto de vista conceptual tem sido explorada por muitos autores. Marx e Engels falavam sobre uma cidade (ocidental) moderna como o local da produção e reprodução do capital, produto da sociedade capitalista e parte integrante de processos sociais mais amplos. Mas estas são visões do século XIX que pese embora importa estudar devem ser contextualizadas. Os processos de planeamento aprofundaram-se e hoje conceitos como a “qualidade de vida” são factores-chave do pensamento estratégico da cidade.
Esta pequena abordagem vem no seguimento da entrevista que Filipe Vieira, administrador executivo do Hospital de Loulé, deu ao Jornal Barlavento (ler aqui) sobre o novo investimento que aquela unidade irá realizar na zona história da cidade. Já volto ao tema, mas antes permitam-me recordar o processo de requalificação do edifício actual do Hospital de Loulé. Após ter encerrado, assim permaneceu durante muitos anos sem qualquer solução à vista. O edifício, no centro da cidade, propriedade da Misericórdia de Loulé, foi acabando por se degradar e a pouco e pouco acabou por se tornar um cancro urbanístico. Seruca Emídio, à data presidente da Câmara Municipal de Loulé, assumiu como desígnio a sua requalificação. E julgo que o fez não só pela necessidade de aumentar a oferta de cuidados de saúde na cidade, mas também - e atrevo-me eu a dizer, sobretudo - porque percebeu todo o potencial gerador de vida que tal intervenção poderia acarretar. Recordo que a questão foi alvo de trica política. A oposição contestava este apoio público à Misericórdia que posteriormente iria concessionar a exploração a privados. Não quero aqui retomar essa discussão. Ela é válida e pertinente certamente, no entanto quero me centrar no efeito multiplicador positivo que o investimento trouxe à cidade de Loulé. O tempo passou e hoje o Hospital de Loulé tornou-se uma referencia na prestação de cuidados de saúde no sul do país. A requalificação do edifício trouxe um dinamismo colateral que não sendo quantificável é plenamente visível. É um facto que acrescentou valor, não só porque um marco importante da memória colectiva da cidade foi recuperado, como a sua recuperação contribuiu para a construção da mais e melhor cidade. Olhando para o futuro, o Hospital de Loulé prepara um investimento de 4 milhões de euros na recuperação do antigo Convento de Graça com vista à sua expansão e à criação de uma unidade clínica de ponta. Nesse processo o Hospital de Loulé propõe-se a manter a sua traça arquitectónica ao mesmo tempo que dá uma função a um edifício sem qualquer utilização. Este é um outro exemplo de degradação patrimonial que existe no centro da cidade. A autarquia, liderada por Vítor Aleixo, está a realizar um investimento na recuperação do Portal e requalificação do espaço interior da antiga igreja deste antigo convento. É um bom exemplo de como o público e o privado podem baixar a tensão que a sua génese invoca, para contribuir de forma uniforme para a criação de cidade. Retomando a entrevista de Filipe Vieira replico uma frase do responsável que me parece particularmente feliz: “Esta zona obriga a uma reformulação dos fluxos de pessoas e de viaturas. Nós, de facto, juntamente com a autarquia e com as entidades oficiais, temos aqui uma equação que tem de ser resolvida, que é conseguir alocar toda esta gente no centro da cidade. Penso que a criação desta nova unidade não só traz muita gente para habitar aqui em Loulé, mas também traz uma vivência fantástica. Consigamos todos re-equacionar uma solução integrada» Integrar. Parece-me a palavra chave. Olhar para a cidade, identificar as suas maleitas e numa estratégia integrada por em prática soluções funcionais. A atracão de mais pessoas, ou melhor, a atracão de mais vida para os centros urbanos de onde essa vida foi gradualmente expulsa pelas novas lógicas urbanistas de expansão, é um desígnio que exige criatividade e visão associada a uma lógica de planeamento descomplexada. E neste caso concreto, que hoje aqui vos falo, existe visão pública e privada em prol de uma melhor cidade.
1 Comentário
Luis santos
15/2/2017 22:20:50
Artigo com a qualidade que o autor já nos vem habituando.
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