Por Andreia Fidalgo Numa região em que a escassez de água é assunto premente– tal como já tem sido relembrado em diversas ocasiões aqui no Lugar ao Sul –, e onde, paradoxalmente, a cultura de regadio nunca teve tanta extensão como agora, nunca será demais relembrar a importância do sequeiro e das tradicionais árvores de fruto algarvias. Historicamente, a tríade em destaque foi sempre a mesma, e compunha-se pela figueira, pela amendoeira e pela alfarrobeira. Não há corógrafo que não as invoque, desde Frei João de São José que, em 1577 das figueiras diz serem as que “se dão em toda a terra e é novidade de cada ano e mais certa que o pão”; ou João Baptista da Silva Lopes, em 1841, que do fruto das amendoeiras recorda que muito se exportava e que, quando amargo, dele se fazem licores, ou então “adoça-se fazendo-o curtir em água por alguns dias, e então serve para os doces”; ou Charles Bonnet, que, em 1850, a propósito da alfarrobeira relembra que, “tal como a figueira, é a árvore mais útil e mais produtiva desta província”, cujo fruto, “triturado serve de alimento aos cavalos, mulas e vacas”, mas também de alimento aos mais pobres. Esta tríade arbórea que sempre marcou a paisagem algarvia – e à qual se soma a oliveira, embora esta não seja tão exclusiva da região – foi durante séculos o sustento da economia regional, e os seus frutos alimento do povo; hoje vê-se relegada para segundo ou terceiro planos e substituída por outras árvores de fruto que canalizam e esgotam um recurso vital que a região, note-se bem, nunca possuiu em abundância: a água! Os antigos sabiam-no e, por isso, respeitavam as limitações naturais do território. E nós, na nossa ânsia desenfreada de produzir mais, melhor e o que está na moda, saberemos voltar a respeitar?... Termino este breve apontamento invocando um poema de Leonel Neves, intitulado Em Louvor da Alfarrobeira, para que através dele possamos recordar a beleza singela das nossas tradicionais árvores de fruto. Em Louvor da Alfarrobeira
Leonel Neves, Natural do Algarve Faro: Universidade do Algarve, 1986.
1 Comment
Miguel
24/7/2020 01:21:49
E que belíssimo tributo ao nosso pomar de sequeiro, acrescento apenas que no pomar de sequeiro tradicional, também aqui e ali na maioria das vezes espontânea, cresce a azinheira que se junta à oliveira e à tríade restante, para criar uma das mais belas, produtivas e biodiversas paisagens silvo-agricolas de Portugal.
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