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Uma alfarrobeira, uma amendoeira e uma figueira entram num bar

22/7/2020

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Por Andreia Fidalgo
Numa região em que a escassez de água é assunto premente– tal como já tem sido relembrado em diversas ocasiões aqui no Lugar ao Sul –, e onde, paradoxalmente, a cultura de regadio nunca teve tanta extensão como agora, nunca será demais relembrar a importância do sequeiro e das tradicionais árvores de fruto algarvias.
​

Historicamente, a tríade em destaque foi sempre a mesma, e compunha-se pela figueira, pela amendoeira e pela alfarrobeira. Não há corógrafo que não as invoque, desde Frei João de São José que, em 1577 das figueiras diz serem as que “se dão em toda a terra e é novidade de cada ano e mais certa que o pão”; ou João Baptista da Silva Lopes, em 1841, que do fruto das amendoeiras recorda que muito se exportava e que, quando amargo, dele se fazem licores, ou então “adoça-se fazendo-o curtir em água por alguns dias, e então serve para os doces”; ou Charles Bonnet, que, em 1850, a propósito da alfarrobeira relembra que, “tal como a figueira, é a árvore mais útil e mais produtiva desta província”, cujo fruto, “triturado serve de alimento aos cavalos, mulas e vacas”, mas também de alimento aos mais pobres.
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Esta tríade arbórea que sempre marcou a paisagem algarvia – e à qual se soma a oliveira, embora esta não seja tão exclusiva da região – foi durante séculos o sustento da economia regional, e os seus frutos alimento do povo; hoje vê-se relegada para segundo ou terceiro planos e substituída por outras árvores de fruto que canalizam e esgotam um recurso vital que a região, note-se bem, nunca possuiu em abundância: a água! Os antigos sabiam-no e, por isso, respeitavam as limitações naturais do território. E nós, na nossa ânsia desenfreada de produzir mais, melhor e o que está na moda, saberemos voltar a respeitar?...
​
Termino este breve apontamento invocando um poema de Leonel Neves, intitulado ​Em Louvor da Alfarrobeira, para que através dele possamos recordar a beleza singela das nossas tradicionais árvores de fruto.
Em Louvor da Alfarrobeira
           Todas são árvores de amar,
           estas que moram à nossa beira:
 
           A amendoeira, de namorar;
           amante esplêndida, a figueira;
           mas moça séria, para casar,
           fecunda e firme, – a alfarrobeira.

 
A mais bonita encanta e desespera
os namorados com seu riso breve.
Trouxe o inverno pássaros de neve
que acharam no Algarve a primavera,
 
e deles a amendoeira fez um véu
para os turistas que se encantam, vendo-a.
Mas cada flor que a tonta ofereceu
            é menos uma amêndoa…
 
A figueira é diferente: com seus modos
de matrona de beijos pequeninos,
embala a fome aos donos e a todos,
– pássaros, vagabundos e meninos.
 
Mas no Inverno já ninguém a ama,
e atira ao vento os braços desprezados,
            como uma mãe que chama
moços mortos no mar ou emigrados…

​A alfarrobeira, não! Séria, quieta,
mal se vê, não se despe, nem se perde:
concebe os frutos, íntima e discreta,
no silêncio da sua copa verde.
 
Fruto? Um esquife negro, nunca centro
de um bucólico olhar ou de uma gula.
O que é uma alfarroba? Pão de mula,
            com lágrimas lá dentro…
 
            Suor que em choro enrola
            tanta esperança morta…
Sementes de alfarroba que o Algarve exporta
            e que depois importa
            como tinta, como cola.
 
Tinta para um cartaz com amendoeiras,
cola de caixa com figuinhos lampos,
– são as lágrimas negras que nos campos
por nós choraram as alfarrobeiras.
 
Eu, que de todas sou bom amigo
e bom vizinho, sempre vos digo:
 
           A amendoeira, de namorar…
           Amante esplêndida, a figueira…
           Mas moça séria, para casar,
           – a alfarrobeira!


​Leonel Neves, Natural do Algarve
​
Faro: Universidade do Algarve, 1986.
1 Comment
Miguel
24/7/2020 01:21:49

E que belíssimo tributo ao nosso pomar de sequeiro, acrescento apenas que no pomar de sequeiro tradicional, também aqui e ali na maioria das vezes espontânea, cresce a azinheira que se junta à oliveira e à tríade restante, para criar uma das mais belas, produtivas e biodiversas paisagens silvo-agricolas de Portugal.
Costumo dizer que em politica e na economia não existem inevitabilidades, apenas escolhas e consequências; esperemos e trabalhemos para que a opção pelo racionalidade do pomar de sequeiro, se sobreponha à ganância e ignorância dos abacates e dos laranjais sem fim à vista.

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