Por Bruno Inácio Estaríamos no inicio do verão. Não seriamos mais de 10 pessoas naquele encontro. O motivo prendia-se com a realização das eleições legislativas que iam ter lugar no dia 04 de outubro desse ano, 2015. Tratava-se de uma primeira reunião de preparação da campanha da candidatura da coligação “Portugal a Frente” no Algarve. Após várias trocas de ideias, várias sugestões, várias possibilidades, recordo que dei por mim a pensar: afinal qual é ou onde está o espaço público mediático do Algarve? Não temos uma televisão regional. Não temos um jornal diário impresso. Os espaços de encontro são dispersos e difusos. Se assim é, alguém que queria dizer alguma coisa, onde é que o diz? Como é que o diz? Não era a primeira vez que refletia sobre esta questão, mas confesso que a partir desse momento esta ideia ficou consolidada e presente na minha mente: o Algarve não tem espaço público mediático. Perdão, terá certamente algum espaço público mediático, mas é muito difícil, no Sul do País, alguém poder passar a sua mensagem. Isso não acontece no Norte que tem uma televisão dedicada a esta região e diversos jornais e revistas diários, semanais e mensais. No centro existem (pelo menos) dos jornais diários, o Diário das Beiras e o Diário de Coimbra. E nem vou falar de Lisboa e arredores. Esta questão parece-me particularmente importante porque o Sul de Portugal, nomeadamente o Algarve, precisam de criar mecanismos que possam alavancar o seu espaço público. Dai o título de texto que hoje escrevo: o Algarve necessita, ao meu ver, de um jornal diário, impresso, dedicado ao Sul do País. Não menosprezo, muito pelo contrário, o papel que a comunicação social regional que hoje existe tem. A imprensa regional mudou bastante nos últimos anos, houve uma selecção e reorganização de meios. Existem hoje meios (uns mais profissionalizados que outros) que estão claramente ao nível do melhor que se faz no país. No entanto não existe um jornal que, diariamente, vá para as bancas, que vá para a rua, contar o que se passa na região. Isso, parece-me, fazer toda a diferença.
A existência de um jornal diário que abrangesse o Sul do País seria uma ferramenta de grande importância para a nossa coesão regional. Seria um espaço de partilha do que acontece na região, do que pensam as pessoas da região. Mas seria também um instrumento de investigação para mostrar o melhor que fazemos, mas também, e não menos importante, de denúncia do que de mal é feito. Um espaço onde o contraditório pudesse ser exercido. Acima de tudo um espaço onde os Algarvios pudessem folhear a sua região. O diário tem essa vantagem, conta o que aconteceu ontem, mostra a quem está a ler o jornal em Tavira que ontem houve um determinado acontecimento em Portimão. E esse poder reforça a nossa coesão enquanto região. Dir-me-ão que já existem órgãos de comunicação que já o fazem através das novas tecnologias. Sim, claro que sim. Mas o ato de ler um jornal, de o folhear – apesar de ter cada vez menos adeptos – é efectivamente único e insubstituível. Bem sei que esta não é uma ideia nova. Em 1932/1933 existiu um “Diário do Algarve”, na altura afecto ao Estado Novo. Terá havido outras tentativas – e até outro jornal que não o já referido. Perdoem-me a ignorância – e certamente não é fácil montar um projecto desta natureza nos dias de hoje. No entanto, julgo que havendo empenho por parte das entidades públicas algarvias, mas também das maiores entidades privadas da região, seria possível dar um pontapé de saída para um projecto desta envergadura por forma a lhe dar o seu impulso inicial. Igualmente importante seria que esse impulso inicial não significasse o condicionamento do trabalho desse órgão de comunicação. A garantia da liberdade de publicação seria o ponto fundamental do sucesso do projecto. Fica o desafio, o estímulo, o que entenderem lhe chamar. Nem que seja, fica para memória futura.
1 Comment
Gonçalo Duarte Gomes
15/12/2017 10:28:43
Sem prejuízo da importância do suporte físico, que pelo menos durante uns bons anos vai continuar a ser insubstituível, parece-me que a carência de um fluxo diário de informação noticiosa acerca da realidade algarvia está muito bem coberta pelos formatos online já disponíveis - que de resto ganham prémios e obtêm reconhecimento a nível nacional.
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