Por Luís Coelho. Soubemos ontem que (finalmente) António Domingues decidiu bater com a porta na Caixa Geral de Depósitos (CGD). O agora demissionário Presidente do Conselho de Administração de um dos maiores bancos nacionais sai em guerra aberta com o governo (e com o Presidente da República), a quem acusa de falta de solidariedade institucional e incapacidade para gerir um dossier que, na prática, se tornou claramente político. Desfecho anunciado atendendo ao que foi escrito, comentado e falado sobre o tema desde há três meses a esta parte. De facto, a partir do momento em que a polémica estalou, Domingues só tinha uma de duas opções: 1. aceder desde logo a entregar a informação que lhe era pedida (o que até acabou por fazer, num gesto que só se pode louvar) ou 2. demitir-se de imediato. Acabou por acontecer um misto destes extremos, o que é lamentável. Em particular, um homem com a qualidade profissional do Dr. António Domingues não merece andar nas bocas do mundo pelas piores razões. Notem que muito provavelmente será lembrado como o gestor que não queria apresentar a sua declaração de rendimentos e património e não como o homem que conseguiu fechar o difícil processo de recapitalização da CGD a contento. Por outro lado, o nosso banco público sai mal desta situação, o que afecta negativamente todos aqueles que por aqui pagam impostos. Em particular, os putativos investidores vão seguramente recordar-se deste episódio quando a CGD tiver de ir ao mercado para financiar parte do seu plano de recapitalização. Neste contexto, haverá a certeza de que o homem ao leme do banco não é o mesmo que desenhou o plano que outro estará a executar; tal pode resultar em condições de financiamento menos interessantes para a CGD. Finalmente uma palavra para a parte política do processo. São muitas as situações onde Costa e “sus muchachos” me têm surpreendido (e muito!) pela positiva. Infelizmente, esta não é uma destas ocasiões. É incompreensível como é que alguém com responsabilidades políticas ao mais alto nível promete coisas que são simplesmente impossíveis de cumprir. Por outro lado, é embaraçoso ver como ministros (e primeiros-ministros!) jogam ao jogo do empurra no contexto de um tema tão importante como o da gestão de topo da CGD. Finalmente, é particularmente doloroso perceber como é que esses mesmos políticos optam por queimar um terceiro quando a pressão dos media (e da opinião pública em geral) assim o exige.
Uma nota final. O governo está neste momento à procura de um substituto para António Domingues e vários outros administradores da CGD. Este processo é para concluir em breve pois a nova equipa terá de começar a trabalhar já em Janeiro e tem muito que fazer. O problema reside no bem conhecido adágio popular que diz que “depressa e bem não há quem”. De facto, tendo em conta todo o ruído que existe em torno do assunto, temo que não será fácil motivar as melhores mentes para assumir o desafio que se coloca à CGD, embora reconheça que o prestígio (e benefícios conexos) sejam muito interessantes. Enfim, é esperar que o governo resolva da mesma forma que o Bas Dost no último fim-de-semana no Bessa: com estilo e precisão!
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