Por Luís Coelho. O título do post desta semana é assumidamente provocador. Infelizmente, o tema também não é para menos. Mas comecemos pelo início. Desde 13 de Julho de 2016 que Theresa May é a primeira-ministra do Reino Unido. Membro influente do Partido Conservador, May ascende ao poder depois da estrondosa derrota de David Cameron no referendo que consagrou o Brexit. Em boa verdade, até agora temos sido poupados ao temido terramoto pós-Brexit. Mas tal promete mudar. Muito e rapidamente. Theresa May fala esta terça-feira ao país e espera-se que dê detalhes sobre o que pensa fazer para concretizar o resultado do referendo que, indirectamente, a levou ao poder. Existem duas possibilidades extremas. A primeira é a de um “hard brexit”. Neste contexto, os brits retiram-se pura e simplesmente da órbita do mercado único europeu. A versão alternativa, comummente apelidada de “soft brexit”, prevê que à semelhança da Suiça, o Reino Unido continue ligado ao mercado único europeu em condições especiais. E depois? Bom, estes dois caminhos têm implicações muito diferentes. Na minha opinião teremos um mundo novo no que toca às relações com o Reino Unido caso o “hard brexit” se concretize. Ao abandonar o mercado único, os britânicos deixam de ter de cumprir com o princípio da livre circulação de capital, bens e serviços pelo que as futuras trocas comerciais com a União Europeu (EU) terão como pano de fundo as regras da Organização Mundial do Comércio. Isto implica lidar com pautas aduaneiras, mecanismo de controlo de capital e afins que, seguramente, afectarão trocas comerciais e o nível de investimento. Preparem-se pois todas as empresas algarvias que exportam alguma coisa (inclui-se aqui a venda de imobiliário) para o Reino Unido… Cumulativamente, esta versão do Brexit terá ainda um efeito importante sobre a circulação de pessoas. De facto, é de esperar que o Reino Unido imponha fortes restrições à imigração motivada por questões laborais. Desta forma, procurar emprego por terras de sua majestade ficará provavelmente muito mais difícil. Falta também saber o que vai acontecer a todos aqueles que neste momento já se fixaram neste país, algo que pode ser potencialmente explosivo. Por outro lado, o turismo pode também vir a sofrer caso os britânicos restrinjam o acesso de cidadãos da UE ao seu território. Em particular, tal situação pode motivar uma resposta musculada de Bruxelas que, no mínimo, aumente a burocracia necessária para que ingleses e afins possam viajar para cá. Isto configuraria uma péssima notícia para o Algarve pois, como todos sabemos, uma fatia importante do turismo da região é oriundo desta parte da Europa. O “soft brexit” é um meio-termo. Em particular, o Reino Unido continuaria a pertencer ao mercado único a troco de respeitar (ainda que parcialmente) o princípio da livre circulação de pessoas, bens, serviços e capital ao que se soma a necessidade de contribuir ainda que mais modestamente para o orçamento da UE. O problema deste tipo de solução é que a mesma é pantanosa em si mesma, i.e. imagino que nunca saberíamos exactamente o que esperar de parte a parte. De facto, importa relembrar que os britânicos já demonstraram vezes sem conta que são mestres na arte de ludibriar Bruxelas, bem ao estilo daquilo que Zeca Afonso descreve na sua canção “Vampiros”. Finalizo pois como comecei: Theresa May, que raio vais tu fazer? Em breve saberemos...
1 Comment
Bruno
17/1/2017 14:40:28
Caríssimo, não seja tão pessimista!
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