Por Luís Coelho A Transportadora Aérea Nacional (TAP) anunciou hoje um plano que visa aumentar de forma progressiva a sua actividade nos próximos meses. Segundo as informações que vieram a lume, a empresa considera que “(…) Em Julho, a TAP pretende retomar um total de 19 por cento do que era a sua operação normal antes da eclosão epidémica da Covid-19, atingindo um total de 247 voos por semana (…).” Até aqui tudo bem. Há apenas um pequeno pormenor que, no contexto actual, é um problema importante: a TAP exclui completamente o Algarve do seu planeamento. Esta não é uma situação nova. De facto, o número de voos da TAP a partir de (ou a chegar a) Faro é historicamente residual não tendo os mesmos qualquer expressão no movimento global deste aeroporto internacional. Quem conhece melhor o sector diz que tal é o resultado do modelo de negócio da TAP, organizado em hub e que tem a sua base principal em Lisboa. Não conheço o suficiente para disputar esta lógica. Parece-me, no entanto, curioso que a Transportadora Aérea Nacional – de capitais totalmente públicos até novembro de 2015 – tenha simplesmente ignorado aquele que é o principal destino turístico do País na forma como equacionou e continua a equaciona o seu negócio.
É também importante dizer que entre os dia 12 de novembro de 2015 e 6 de fevereiro de 2016 não tenho nenhuma opinião sobre o que a TAP e sua equipa de gestão fizeram ou deixaram de fazer. Foi o único período da história da empresa em que a mesma teve 100% de capital privado. No entanto, a partir do segundo trimestre de 2016 a conversa muda pois o governo liderado por António Costa decidiu “investir” 1,9 milhões de euros (financiados, claro está, por impostos) para garantir que o Estado Português voltava a deter 50% do capital da TAP. A consulta dos Relatórios e Contas Consolidados do Grupo ilustra bem o quão questionável foi esta decisão. A saber: em 2016 o Grupo TAP gerou um prejuízo de 23 milhões de euros; em 2017 apurou um lucro de 23 milhões de euros; em 2018 há um novo prejuízo, neste caso 117 milhões de euros. Consequência: em 2018 (último ano com informação disponível), o Grupo TAP apresenta um total do capital próprio de -616 milhões de euros. Estamos pois em face de uma empresa tecnicamente falida que é como quem diz com um passivo que é bem superior ao seu activo. Parece seguro que a parte económica não correu bem. Atentemos agora na dimensão mais política da coisa. Nessa frente, para o Algarve, o que se está a congeminar é um verdadeiro embuste. A saber: por conta da pandemia António Costa está a ponderar reforçar o “investimento” público nesta empresa. Sem ter certezas sobre os detalhes, atrevo-me a citar o número que tem vindo à baila nos últimos dias relativo ao custo desta operação para o erário público: 1 000 000 000 euros (dizer, en passant, que o passivo financeiro do grupo TAP em 2018 ascendia a 891 milhões de euros). Se assumirmos que cada região vai contribuir em função do seu peso no Produto Interno Bruto nacional, teríamos que o Algarve contribuiria com cerca de 5% deste valor ou, em vil metal, algo como 50 milhões de euros. No contexto acima descrito e atendendo ao panorama que vivemos na região, parece-me que este seria um investimento totalmente injustificável (perdoem-me os funcionários da TAP que não têm culpa da situação). De facto, no momento em que escrevo estas linhas, o Algarve lida com uma total incerteza relativamente aquilo que define a nossa capacidade para gerar riqueza colectivamente: o turismo. Com a pandemia Covid ainda bem presente e sem quaisquer certezas sobre o quão forte pode vir a ser a procura interna e externa em Julho e Agosto, alocar 50 milhões a uma companhia aérea que pura e simplesmente despreza o Algarve (no passado e no seu plano de retoma de curto-prazo) é, em Português que se entenda, bem estúpido. De facto, deixo desde já algumas alternativas que me parecem muito mais interessantes: 1) destinar os 50 milhões à Ryanair, Easyjet ou Jet2 de forma a promover a procura externa destinada à região; 2) alocar estes fundos a uma mega campanha de promoção do Algarve junto do público nacional e espanhol; 3) reforçar os orçamentos camarários na vertente social; 4) começar as obras do sempre adiado Hospital Central do Algarve ou 5) queimar o dinheiro, algo que me parece melhor do que subsidiar a incompetência. Permito-me ainda uma nota final para a reacção que o anúncio da TAP mereceu no País. Vi sem estranheza uma conferência de imprensa a norte, onde o Presidente da Câmara do Porto disse sem papas na língua que a TAP não pode ser uma empresa regional para a operação e uma empresa nacional quando pretende aceder a subsidiação pública. Nesse contexto, referiu que se a TAP quer dinheiro do Estado tem de pensar em Lisboa e, equitativamente, no Porto, na Madeira, nos Açores e no Algarve. Confesso que fiquei a admirar um pouco mais o Rui Moreira, que demonstrou um sentido de unidade que é raro neste País. Vi, também, o Presidente do Turismo do Porto e do Norte a explicar de forma clara o porquê da decisão anunciada pela administração da TAP ser altamente lesiva para toda uma região deste País. Fico pois a aguardar que os nossos representantes sigam este bom exemplo pois o Algarve não pode (mais uma vez) ficar a ver este importante debate sentado na bancada já que o que está em jogo é sério demais.
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