O Lugar ao Sul conta hoje com a opinião de mais uma convidada especial. A convite da Sara Luz, hoje, no Lugar ao Sul, escreve Sofia Amálio. É Internista no Centro Hospitalar Universitário do Algarve, EPE. Conheci a Sofia há uns anos atrás no serviço de Medicina Interna 1 do Hospital de Faro. Uma pessoa extraordinária e profissional para lá de competente. Lembro-me das horas que a Sofia fazia a mais, e tantas eram… Lembro-me da resposta sobre-humana a todas as solicitações quando estava de urgência… Lembro-me das decisões difíceis que tomámos em conjunto… Lembro-me da Sofia chorar ao meu ombro após ter informado uma mãe do estadio terminal da doença da filha, já tendo essa mãe perdido um filho uns anos antes… Lembro-me de tanto…
São pessoas como a Sofia que mantêm o SNS a funcionar. São médicos, enfermeiros, assistentes operacionais, técnicos de diagnóstico e terapêutica, administrativos, entre tantos outros que dão a cara… que fazem de tudo para manter o SNS vivo! Mas o desalento começa a instalar-se como se de uma epidemia se tratasse. O relato da Sofia espelha exatamente isso… E a minha verdade é também a da Sofia… Boa leitura! “Nasci no seio de uma família de classe média, numa pequena cidade do Sul do País. Cresci com uma educação assente em 3 pilares fundamentais: amor incondicional, a importância de estudar e apreender, ser sempre fiel aos meus princípios morais. A ideia de ser médica não se materializou na infância. Quis ser astronauta, Jardineira, jornalista e Designer de moda. Foi na escola que o interesse pelas ciências foi crescendo em mim tornando-se uma imposição. Ainda ponderei outros caminhos como Física e Eng. Aeroespacial, mas o que orientou a minha decisão final foi um aspeto essencial desta minha profissão. Gosto de Pessoas. Gosto de falar com Pessoas, de estar com Pessoas, de trabalhar com Pessoas. E foi isto que ditou a minha escolha. Terá sido uma escolha acertada? Os caminhos alternativos são hoje áreas em expansão, cada vez mais valorizadas. O aumento dos numerus clausus, que vão continuar a subir, com a já anunciada abertura de faculdades privadas de Medicina, já não garantem que todos os recém licenciados tenham acesso a uma especialidade. Os mais novos que ficam fora do sistema emigram cada vez mais. Com a chegada de tantos médicos indiferenciados ao mercado de trabalho, já começou o trabalho médico precário e avista-se o desemprego médico. A fuga de profissionais para instituições privadas em busca de melhores condições de trabalho está a desertificar o SNS piorando ainda mais as condições de trabalho dos que ficam. Quando já não for não necessário aos privados igualarem os salários do SNS para cativar médicos, o que acham que vai acontecer? A remuneração dos médicos, que ao contrário do frequentemente publicitado nos media já não é alta, vai decrescer progressivamente. À semelhança do que já aconteceu com outros grupos profissionais como professores e advogados a profissão médica começou agora a enfrentar uma fase de declínio. Não deixa de ser curioso que isto coincida com uma feminização da profissão, que passa assim de ofício dominado por de homens, que se demitiam do seu papel familiar e muito bem pagos, para uma atividade desempenhada maioritariamente por mulheres, que não podem ou não querem abdicar da sua vida familiar e mal pagas. O reflexo desta decadência é a descida da média de acesso ao curso de Medicina, que já não ocupa o 1º lugar nas pretensões dos estudantes nacionais. Quem está nessa posição de escolha começa a encarar esta profissão como um caminho demasiado penoso, com muitos anos de estudo e sacrifício pessoal sem qualquer garantia de estabilidade ou qualidade de vida. Apesar de tudo isto não me arrependo da escolha que fiz e mantenho-me fiel a esta profissão que é mais do que isso, é uma escolha de vida. Não! Não é por isso que estou desolada... Concluído o curso de Medicina, com alguns solavancos pelo meio que me obrigaram a interiorizar a ideia que nunca saberei tudo de tudo e me fizeram crescer, chegou a altura de escolher uma especialidade. Sempre soube que queria uma especialidade generalista, consciente de que são as mais trabalhosas e pior remuneradas. Escolhi Medicina Interna por acreditar nesta especialidade. Sou Internista por opção e convicção. O Internista é o médico dos médicos. A Medicina Interna é a especialidade que sustenta todo o funcionamento hospitalar. Nenhum hospital pode ter as portas abertas sem um internista. É a base de todas as outras especialidades. E, no entanto, é desconhecida das pessoas. Medicina Interna? O que é isso? Perguntam-me com frequência conhecidos e amigos. É o médico que tem de saber de tudo, é o médico que faz os diagnósticos respondo eu. E para ilustrar um pouco melhor: devíamos ser uma espécie de Dr. House, mas sem o sensacionalismo da série. Devíamos ser porque a realidade nos desvia desse ideal. Estamos no Serviço de Urgência para perceber o que os doentes têm antes de passarem a qualquer outra especialidade. Estamos em Unidades diferenciadas como as Unidades de Cuidados intensivos ou as Unidades de Doenças Vasculares Cerebrais. Estamos na Enfermaria para diagnosticar ou para gerir doentes complexos, que como têm muitas patologias não encaixam numa só especialidade. É verdade que, com o aumento da esperança de vida e ausência de estruturas sociais adequadas no nosso País, e porque um idoso é sempre um doente complexo com pluripatologia, também somos muito Geriatras e temos enfermarias inundadas de casos sociais (pessoas já sem doença mas que por questões sociais não podem ter alta). Mas também vemos em consulta jovens e grávidas com diabetes, com doenças auto-imunes, com infecção VIH, jovens obesos que precisam de perder peso, doentes sem diagnóstico para os quais fazemos diagnósticos raros e brilhantes! Infelizmente é uma especialidade pouco conhecida e reconhecida. Mesmo dentro da comunidade médica. As outras especialidades não sobrevivem sem a Medicina Interna, mas teimam em desvaloriza-la e desrespeita-la. As instituições também não têm interesse em reconhecer o seu valor. O trabalho do internista não se mede em atos, em cirurgias, em endoscopias ou em biópsias. O trabalho do internista é sobretudo intelectual e inquantificável, e por isso, na minha opinião, ainda mais valioso. Mas não há investimento na Medicina Interna. Não há espaço para evoluirmos através da disponibilização de técnicas como ecografia para as enfermarias e urgência. Desta forma, há um grande desalento entre internistas. Somos poucos para o trabalho que nos exigem. Sendo uma especialidade que tem de existir 24 horas por dia em qualquer hospital implica sempre trabalho nocturno, em fins de semana e feriados e como tal pouca qualidade de vida e implicações na vida familiar. Os internos que concluem a especialidade procuram caminhos alternativos e poucos ficam. Há dias em que por um momento questiono esta minha escolha...mas no instante seguinte a consideração pela Medicina Interna sobrevem a qualquer dúvida. Não! Esta não é a causa da minha desolação... Concluí a minha especialidade num hospital central de Lisboa. Pouco meses depois fizeram-me um contrato individual de trabalho e fiquei na mesma instituição por mais 2 anos. Além disso colaborava como assistente convidada na Faculdade de Medicina, atividade que desenvolvia com gosto e que acrescia uma pequena e simbólica remuneração ao meu orçamento mensal. Mas sempre tive o desejo de regressar a minha terra natal para junto da minha família e raízes. Numa cidade como Lisboa, com 2 filhos pequenos e sem qualquer apoio familiar, a vida pode tornar-se sufocante e sem graça. Por isso comecei a amadurecer a ideia de me mudar. Deixar um hospital central da capital, para um hospital dito central num sul cheio de carências foi uma decisão difícil de tomar. Mas caramba se não formos nós da terra a voltar! Ninguém quer vir para Marrocos! Como diz uma colega a brincar. Os colegas de Lisboa assustavam-me alegando o que se ouve nas notícias, a potencial falta de qualidade dos profissionais, a dificuldade de voltar para trás caso me arrependesse. Não quis saber. O meu marido deixou o seu emprego estável e bem remunerado. Fechámos os olhos e demos o salto. Concorri num concurso aberto a todos os especialistas de Medicina Interna, no qual existiam 13 vagas e só fiquei eu. Ninguém quis vir para Marrocos. Encontrei um hospital cheio de carências. Encontrei ótimos profissionais com vontade de mudar as coisas à custa do seu trabalho. Encontrei um Serviço de Medicina Interna bem organizado e a funcionar bem. Por outro lado, encontrei um Serviço de Urgência caótico com muitos médicos contratados “à tarefa”, indiferenciados (têm apenas o curso de medicina sem qualquer formação adicional), para assegurar a abordagem inicial aos doentes. Estes médicos contratados, recebem quatro vezes mais do que eu pelo mesmo período de trabalho. Avaliam inicialmente o doente, mas quem toma da decisão final da orientação do doente sou eu, que ganho 4 vezes menos. Somos poucos internistas, um, dois no máximo três, por período de urgência de 12 horas. Além de orientar os doentes abordados pelos “tarefeiros”, temos de assumir a responsabilidade dos os doentes mais graves que chegam ao Serviço de Urgência. Temos de responder às necessidades dos doentes internados em todo o Hospital, prestando o chamado “Serviço de Urgência Interna”. Somos poucos e muitas vezes sinto-me sozinha e desapoiada. Somos poucos e os nossos internos em formação estão, por vezes, sozinhos e desapoiados. Sei que as condições do SNS se têm degradado por esse País fora. Sei que se degradaram no hospital central de Lisboa de onde vim. Mas se isso é verdade no centro de Lisboa imaginem num dos mais periféricos hospitais do País. Redução de horário, saída para o privado têm feito sangrar este pequeno hospital nos 2 anos que cá estou. Nunca trabalhei no privado. Continuo obstinadamente a acreditar na importância do SNS e na sua valorização. Entretanto é criado um regime de incentivos para tentar cativar mais médicos para esta zona carenciada. Todos os que fizeram um contrato com o Hospital cerca de 3 meses depois da minha chegada têm direito, em números redondos, a mais 1000 euros de ordenado bruto por mês durante 3 anos. Eu por ter chegado 3 meses antes não tenho direito. Os colegas mais antigos ainda usufruem do regime da exclusividade, e alguns de contractos individuais com valores superiores ao atualmente estipulado no contrato coletivo de trabalho negociado com os sindicatos. Eu, e mais meia dúzia de gatos pingados, ficamos no meio e ganhamos, números redondos, menos 1000 euros que toda a gente ao fim do mês. Também trabalhamos neste hospital carenciado, também estamos sozinhos no Serviço de Urgência. Como não somos dos mais velhos, nem dos mais novos, somos talvez a força de trabalho mais importante. Alguns de nós formaram internos que agora ganham mais 1000 euros por mês. Mais que o seu orientador! Reclamámos à nossa entidade patronal. Primeiro ignoraram-nos. Depois disseram que nada podiam fazer. Que não podem tomar essa decisão. Remeteram para instâncias superiores que certamente também nos vão ignorar. Tenho 2 filhos pequenos, em idade pré-escolar. O pré-escolar público em Portugal é uma miragem, logo estão na escola privada. Tenho um marido que deixou o seu emprego bem remunerado em Lisboa. Tenho um apartamento T3 sem qualquer luxo. Tenho um carro da gama mais baixa. Não vou de férias para as caraíbas. E no fim do mês faço contas e não poupo dinheiro. Esses 1000 euros fazem-me falta. Fico triste. Mas pela injustiça. Nunca fui de valorizar demasiado o dinheiro e por isso, compro menos, vivo com menos e sobreviverei. E não! Não é por isto que estou desolada... Antes do verão, com um timing que não podia ter sido pior, o governo resolveu cortar o pagamento aos chamados “tarefeiros” reduzindo o valor hora que lhes pagam. No meu hospital muitos foram embora. De repente parte do Serviço de Urgência que era assegurada por estes colegas ficou a descoberto. Sobrou claro está para a Medicina Interna! Continuámos a ser poucos, ainda menos pois era período de férias, e ainda tivemos de abarcar a responsabilidade de mais doentes. Todos os dias de urgência preenchia o chamado registo de “gestão de risco clínico” que é diretamente reportado ao diretor clínico e à administração do Hospital. Expliquei que somos em número insuficiente, que não é possível para mim responsabilizar-me por todas as decisões tomadas naquele período de urgência, que o risco de erro é enorme. Que o desgaste físico e emocional para os internistas de urgência é incomportável por muito mais tempo. Que isto poe em risco os doentes assistidos neste Serviço de Urgência. Nunca recebi qualquer resposta. Escrevemos em conjunto uma carta à administração do hospital e à Ordem dos Médicos. Ameaçámos com uma escala de urgência do mês de Agosto com dias em branco, mas escala foi refeita pela administração com o mesmo número de internistas habitual, claramente insuficiente. Cada vez mais insuficiente... Atualmente, já no inverno, em vez de 3 Serviços de Medicina Interna com cerca de 40 camas no nosso hospital temos 5! São cerca de mais 30 camas de doentes internados no Serviço de Urgência e outras tantas espalhadas por todo o Hospital no espaço Físico de outros Serviços. O Bloco operatório já parou pois não há camas para internar os doentes operados. Continuamos a ser os mesmos...já sobrecarregados e em burnout. Todos trabalhamos para lá do nosso horário de trabalho, não ganhamos mais e não cumprimos os descansos compensatórios estipulados na lei. Não cumprimos senão o sistema colapsa. Outros não vão aguentar e vão sair. E o que dizem os nossos administradores? Que temos de acelerar altas, que não trabalhamos bem...Sinto-me escravizada pelo sistema. Num destes dias fiz banco 12 horas durante noite. Era a única internista. Não descansei as 4 horas estipuladas pela Ordem dos Médicos. Não descansei de todo. Quando passei o banco de manhã percebi que algumas situações graves nem tinham chegado ao meu conhecimento. E isto não sou capaz de aguentar!!Não posso mais aceitar! Felizmente nada correu mal, mas podia ter corrido. No caminho para casa as lágrimas escorriam-me gordas, salgadas e furiosas. Somos poucos internistas. Sinto-me sozinha e desapoiada. Trabalho para lá do meu horário de trabalho. Ganho menos por mês do que o justamente merecido. Não tenho condições para garantir que sob a minha alçada não se cometam erros. Não vejo fim à vista para esta situação. Não há dinheiro dizem-me. Não há soluções dizem-me. Do que é que estão a espera? De uma desgraça? Hoje sou médica e estou desolada..” Por Sofia Amálio
32 Comments
Filipa Mendes
1/3/2018 22:36:40
Tão verdade... lido parece mau. Vivido pelos profissionais de saúde e essencialmente pelos doentes, é pior ainda!
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Lourdes Borges
2/3/2018 16:23:36
Tudo o que a colega escreveu acontece no meu hospital..sou Anetesista e Directora Clínica de uma Unidade de Cuidados Paliativos com 20 camas...sózinha...esticada no BO com aumento de cirurgias programadas mais SIGIC ( é preciso pois foi contactulizado!!??)...Estamos em Burnout...mas é preciso ..5 semanas sem ver a família ( são 200 Km , portagens..gasolina..) e o dinheiro ( + cansaço!!) não estica! 34 anos de Medicina , 24 de especialidade...PARA QUÊ??? AVC não tarda muito!! ACUDAM AO SNS...FOMOS E CONTINUAMOS A SER DO MELHOR NA UE!!!
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RAMALHO GUEDES
2/3/2018 17:52:41
Grande Médica. OHospital de Faro vai perder uma grande professional. Sei o que é a Medicina Interna. Éa mãe das outras especialidades .A minha mulher era chefe de service.e den MedicinaI Interna PARABENS
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Mario Estevam
1/3/2018 23:49:44
os médicos são das piores classes corporativas. Criaram um pântano de interesses onde agora se estão afogar. Alguns querem fugir mas já não é possível. Está tudo a ser destruido. Basta ser doente e ver todos os dias o que se passa.
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Alberto Nosmim
1/3/2018 23:53:38
O senhor é um jornalista!
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Jarco
2/3/2018 11:18:41
Este problema também é o seu problema, Sr.
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Rosa Dantas
2/3/2018 14:12:33
Mario, quando precisar de um médico com total disponibilidade para si por algum problema grave, faça um favor a toda a gente e vá para trás de um ecrã escrever baboseiras. Há doentes que não merecem um pingo da dedicação que alguns médicos lhe dão. Nem coerentes são. Fora do consultório, somos uns bandalhos para si. Da jeito falar mal da classe. Quando precisa, não tem pudor nenhum de não só usufruir da boa vontade dos bandalhos (sim, porque muito do que é feito, é feito à custa da boa vontade das pessoas que trabalham no SNS), como também abusar dela. Tristeza de gente.
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Não
4/3/2018 10:27:08
Se é médica está precisamente a dar-lhe razão, o que acontece mesmo não o sendo. O Mário Estêvão tem toda a razão. Quer dizer, um médico vem lamentar-se da sua humanidade para com o sistema, o que poucas profissões exigem, depois deixa de achar legítima toda essa dedicação por questões monetárias. Nahm, não me convencem. Felizmente ainda existem profissionais competentes em todas as profissões!
Ana Cristina Diogo
2/3/2018 16:20:12
Sr. Mario...Vou avisa-lo quando o transplante de cerebro for real... evidentemente não sabe o que diz.
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Diana
2/3/2018 18:12:37
Detesto pessoas como o Sr. que só sabem dizer mal! Geralmente são uns infelizes... em vez de escrever essas barbaridades pense que se calhar são esses Seres Humanos altruístas que um dia vão salvar a vida de quem diz mal deles!
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Henriqueta Rego
3/3/2018 10:33:45
Quando este senhor for parar a cama dum hospital, este problema passara a ser tambem seu.
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Ricardo
3/3/2018 11:13:26
Caro Mário, certamente será jovem e saudável, qualidades pouco apreciadas até que desvanecem... engana-se quando diz “vosso problema”... este nosso problema está à sua espera de uma ou outra forma...
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Carina
29/5/2018 23:01:34
Custa-me ler isto!
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Ana Guerreiro
2/3/2018 11:22:57
Depois de morar em Espanha muitos anos e nunca ter precisado de recorrer a um médico privado, aqui já tive necessidade de fazer um seguro médico e estou a pensar que se calhar até tenho que o ampliar. Moro no distrito de Faro e no centro de saúde dizem-me que no sul no sistema público de saúde não há especialidades médicas, nem ginecología, nem dermatología, nem estomatología, para falar só das minhas necessidades. Se quiser mando-a para Lisboa, mas olhe que entre transportes, etc...vai ficar-lhe mais caro que ir a um privado, isto diz- me o médico de família, a sensação que tenho, pelo menos ao nivel da saúde publica é que voltei para um país subdesenvolvido. Os médicos que queiram mudar este estado de coisas precisam organizar- se e mexer-se mas os utentes também. Sofia, conta comigo!!!
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Teresa
2/3/2018 12:36:47
Bela, intensa e dura crônica! Como muitos de nós entendemos esse verdadeiro motivo de desolação. E obrigada por ser dos que continuam a fazer a diferença onde mais é necessário!
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António Paula Brito de Pina
2/3/2018 12:40:16
A gestão do SNS sempre se fez como todo o resto da Administração Pública: sem premiar o mérito nem castigar o demérito. Os funcionários são artificialmente todos iguais e quem trabalha e se esforça como esta dra. acaba por ser o bombo da festa. Espertos são os que fogem ao serviço, que fingem que trabalham, etc. O sistema na prática premeia-os. Tudo isto aliado ao facto de as administrações dos serviços estarem capturadas pelos partidos e ainda à atual hipocrisia do governo que finge que a austeridade acabou, faz a tempestade prefeita para a destruição dos serviços públicos e concretamente do SNS.
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Ana Silva
2/3/2018 12:53:22
Cara Sofia, preciso de entender melhor a situação: porque não se despede e volta a contratar com o novo contrato? Ou fica a fazer bancos como especialista tarefeira a ganhar quatro vezes mais e a decidir o horário em que trabalha? Vai sentir-se muito mais gratificada. Não precisa de ir para o privado. O Serviço Nacional de Saúde trata assim os médicos da carreira porque morrem de medo de cair na insegurança. O medo é o seu único aliado e a única força.
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António Paula Brito de Pina
2/3/2018 14:02:11
Ana Silva, se calhar tem mesmo razão. Os espertos não têm tanto medo e não têm tanto a perder em sair e depois são eles que ganham...
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Ana Silva
2/3/2018 15:28:49
Não é de esperteza que se trata, mas sim de burrice de quem não reage. Está a prestar um mau serviço aos doentes ao colaborar com a situação. Os doentes ficam melhores se o sistema melhorar, e isso não vai acontecer com o martírio da Dra. Sofia, mas com o poder ter a percepção de que deve arrepiar caminho. Recursos humanos altamente qualificados são o bem mais precioso que qualquer empregador possui, e o SNS não os está a tratar com o respeito que deve.
Ana Ferro
2/3/2018 14:33:39
A Dra Sofia Amálio, é uma profissional 5 estrelas, nunca esquecerei a paciência que ela teve comigo em Junho de 2015 quando o meu falecido pai esteve internado na Medicina Interna, sempre disponível com uma paciência de santo para comigo, explicando todos os detalhes, a forma como me disse Ana, eu referencio o seu pai para os cuidados continuados, mas depois bate na "trave" e dificilmente vai para a Unidade. Eu disse -lhe faça me isso Dra, que eu trato do resto, e assim foi ela referênciou e eu virei o mundo, e consegui. Foi a propría Dra Sofia que me ligou a informar, e me disse conseguimos Ana, o seu pai quando tiver em condições de sair daqui vai para um local onde possa tentar os cuidados apropriados. Quando teve alta e falou comigo, disse-me a Ana têm de estar preparada para tudo, sabe que o seu pai pode não viver muitos dias, tenha coragem e continue com essa força a lutar pela dignidade e o máximo de qualidade de vida para o seu pai.
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Pedro
2/3/2018 14:57:36
Excelente descrição da realidade do sistema público de saúde português. É verdade que a Dra Sofia Amália é excelente, que o SNS está em declínio, e que parte da responsabilidade disso deve-se à falta de dinheiro mas também ao facto de nós Portugueses não sabermos defender o que temos e não exigirmos o fundamental na nossa sociedade. As reivindicações das diferentes classes resumem-me na maioria dos casos a salários - mas não me lembro de greves a favor de uma justiça rápida, contra a corrupção (incluindo NÃO votar em políticos condenados) ou a favor de um sistema de saúde que mantenha os padrões de qualidade que tinha há 20 anos atras.
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Maria Dias
2/3/2018 19:38:59
Que eu, e os meus em caso se necessidade nos apareça pela frente Médicos com a Sofia... Não desista, existe alguém que nunca se irá esquecer do que fez...
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Júlio Monteiro
2/3/2018 19:52:45
Infelizmente é a triste realidade;que, com a recente resposta do Ministro da Saúde à demissão dos três Directores dos serviços de Medicina do CHUAlgarve(...no país, há cerca de 1.800 profissionais com cargos idênticos),desvalorizando o facto de pertencerem os três Directores demissionários ao mesmo hospital de referência de uma região já carenciada,não adivinha grandes melhorias nos próximos tempos.
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Horácio Guerreiro
2/3/2018 21:36:22
Cara Sofia,
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Carina Rocha
29/5/2018 23:35:21
Eu compreendo-os! Posso afirmar que nós enfermeiros que estamos 24h com os pacientes e familiares reconhecemos os médicos e outros profissionais que se suplantam a cada turno de trabalho. Nós que acreditamos num SNS credível e que trabalhamos com dedicação amor e afinco somos os menos valorizados pelas chefias. Mas o que me deixa feliz é ser reconhecida por aqueles que importam no meio deste cansaço, os utentes e familiares. Quando um doente vem à nossa procura e reconhecem este trabalho desgastante é desolador... Qd nos agradecem pelo nosso trabalho, mesmo estando em luto, só demonstra que realmente merece esta luta! Trabalhar mais que os outros e ter essa noção, compensa. Quando me dizem como uma familiar de um utente escreveu aqui, que a Dra esteve presente nos momentos finais e é relembrado esse momento como sendo de um profissionalismo e humanidade... é tudo o que me basta para acreditar que um dia, as lágrimas de cansaço fizeram a diferença na vida de quem eu ajudo! Trabalhar em saúde sem pensar no dinheiro que se ganha, é difícil, duro, mas faz tão bem à alma, o desalento amanhã estará presente, mas o dever cumprido faz-me acreditar que só os que valem a pena permanecer no SNS é que ficam, os que trabalham por dinheiro não estão para isto e saem para o privado! É uma espécie de seleção natural, ficam os melhores, os outros não me interessam que trabalhem comigo. A Dra concerteza tem colegas como eu que o relógio ainda não chegou à hora de passagem de turno e já tiraram a farda” pq vão fazer tarde ou noite” ao privado!, eu permaneço, faço M/T no serviço e à noite os doentes choram pq me vou embora. E eu choro pq preciso de descansar, preciso para que amanhã aguente um novo dia, mas choro pq sei que à poucos colegas que se sacrificam, um dia talvez seja assim, mas enquanto puder, marcarei a diferença não para as minhas chefias, mas para quem realmente importa no meio disto tudo! Um dia perdemos os pacientes para o privado, pq os profissionais de saúde do SNS perderam a paciência para o mesmo. E somos cada vez menos os que valem apena que trabalhem para o público pois cada vez menos existem profissionais como a Dra ou como eu, que amam ao ponto de sacrificar a nossa saúde física e mental com exaustão e burnout. Estamos quase extintos, mas existimos, era bom que começassem a valorizar-nos pelo que somos e fazemos num só local de trabalho do que outros que acumulam empregos.
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O Serviço de Urgências precisa de Anjos como a Senhora Doutora e vocês precisam de decidir bem e rápido e muito honestamente entendo-a perfeitamente. Estou convicto que a Senhora quando deita a sua cabeça na sua almofada este de consciência tranquila. Está PAZ que têm no fim da vida irá prevalecer sobre tudo. Saude e sorte para criar os seus filhos(as). De uma vez por todas o que seria dos incompetentes sem os competentes e dedicados...morreriam à fome...ups mais uma vez vos tinham do lado deles. Sorria para a imcopetência, se tiver de chorar chore mas sobreviva...Um bem-haja.
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João
3/3/2018 03:03:06
A Dra.Sofia é uma grande profissional conheço o seu trabalho e tudo que diz é a pura realidade.
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Henriqueta Rego
3/3/2018 10:54:28
Excelente texto Sofia. A Medicina Interna e muito valorizada na Suica, por exemplo. Neste pais, estamos a assistir a destruicao do SNS e a desvalorizacao do trabalho medico. Esta politica anti-carreiras e o pagamento desregulado das competencias de cada um tem apenas o intuito de dividir ainda mais a classe medica. E a velha politica do "dividir para reinar".
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tiago
3/3/2018 16:08:44
Voçê é esplorada pela sua classe!
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Gonçalo
3/3/2018 23:04:45
Cara Sofia: a sua visão romântica da medicina chocou com a realidade. A sobrecarga enorme que descreve é comum a muitos hospitais, há muitos anos. Sou médico há 25 anos e durante muito tempo fiz urgências sózinho, com responsabilidade por 10 camas de cuidados intensivos e 30 camas de enfermaria. Uma brutalidade. A ordem e os sindicatos sempre souberam de tudo e nunca fizeram nada. E assim continuam. Somos os principais inimigos de nós próprios. Somos desunidos, não apontamos a dedo aqueles que entre nós têm comportamentos que nos deviam envergonhar, estamos a falhar redondamente na formação das novas gerações ( não do ponto de vista técnico mas do ponto de vista da humanidade) e sobretudo, não afirmamos o nosso (de todos e não só dos internistas....) papel absolutamente central em todos os hospitais e centros de saúde. O poder politico simplesmente aproveita-se disto.
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Berit Dias
29/3/2018 09:12:09
Com a minha perspectiva depois de viver 61 anos nos varios sitios na Europa e com experiencia, entre outro, dentro da politica, a problema é simples la por causa da mudanca internacional da sistema em 1991. A sistema estavel socialista mudou por uma neoliberalista muito agressiva. Dentro do UE com um governo conservativo em Bruxellas nunca é possivel uma politica socialista, qualquer governo socialista ou não. Como o ex presidente do bloco socialista em UE, Mario Soares, dizia, agora as empresas privadas têm mais poder que os governos e isso é um catastrofo para a sistema. Quando tambem os povos não percebem mais que ser consumistas a politica acabou de ser um poder para mudar a sistema. Gostei de ler o artigo da Dr:a. Mostrou para me que o movimento feminista tambem tem de crescer rapidamente. Muito bem explicado!
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Bruno
7/12/2020 20:59:16
É um testemunho desolador. As pessoas que dizem que a classe médica é privilegiada não conhecem a realidade no terreno.
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