Lugar ao Sul
  • Sobre nós
  • Autores
  • Convidados
  • Personalidade do Ano a Sul
    • Personalidade de 2017
  • Contactos
  • Sobre nós
  • Autores
  • Convidados
  • Personalidade do Ano a Sul
    • Personalidade de 2017
  • Contactos

Bem-vindo

Somos (uma espécie de) contentamento descontente!

4/5/2017

1 Comment

 
Imagem

Por Dália Paulo

Uma característica que faz parte do ADN do povo português é o nunca estar contente: se fazemos é porque fazemos (ou fazemos mal) e se não fazemos é porque não fazemos, isto a propósito do último artigo do meu colega de pena Gonçalo Duarte Gomes, Algarve em animação suspensa.

Esse assunto faz-me voltar a uma ideia que já qui expus quando falei sobre a necessidade de tempo
(apontamento de 23.03.2017) e de como a sensação que fica é que na região não temos tempo para lançar a semente à terra e deixa-la germinar e ganhar vida. Na área Cultural há uma tendência em comparar o incomparável – Lisboa e Porto – e depois a frustração que daí advém, de sermos diferentes. De perceber que os caminhos têm de ser distintos mas que para consolidá-los, para criar lastro, é necessário uma atuação e intervenção continuada.

Contudo, voltando ao que impeliu este apontamento, quero começar por mapear cinco premissas:
1. Há um preconceito muito grande, para o qual nós algarvios (de coração ou nascimento) concorremos para manter, de que no Algarve durante os meses de outubro a maio não se passa nada;
2. Há também, não nego, uma realidade cultural ( frágil, com uma comunidade criativa a necessitar de investimento, de consolidação, de estratégia e de densificação;
3. Há, por outro lado, uma confusão constante entre animação cultural e/ou turística de Verão e do grande evento e uma prática cultural regular, continuada, que alia cultura e educação, cultura e formação de públicos, cultura e criação, cultura e conhecimento e que esta, apesar de necessitar de novos desafios e investimentos, acontece nesta tal época onde a animação está suspensa. E acontece muito por persistência de equipas de “fazedores” de cultura;
4. Há uma necessidade de promover e difundir hábitos culturais na região;
5. Há uma necessidade de articular agendas e de construir programações complementares entre Municípios.

Por outro lado, voltando à ideia inicial, recorrentemente ouvimos que existe programação a mais ou não existe nada. Há muitos matizes e nuances e não é preto ou branco. Pelo que, nesta suspensão do grande evento, existe o que gosto de chamar a Cultura pela Cultura - a Cultura da formiguinha - aquela que quotidianamente é feita pelas associações culturais, pelas bibliotecas, pelos museus, pelos Teatros e Cineteatros, pelas Galerias, pelos Centros Culturais e que existe, sem ser subsidiária, como elemento central para a vida das comunidades algarvias. Cultura que necessita de um olhar atento, de ser trabalhada de forma articulada, de se lhes dar a possibilidade de encontros com gente de fora para criar contaminações no fazer. Região aberta e cosmopolita como o Algarve, deve refletir-se na sua prática e hábitos culturais, e, para isso, é necessário um trabalho cada vez maior em rede. Nesse sentido, só a sua existência permite que a região possa ter uma oferta cultural de qualidade para usufruto turístico.

Este trabalho tem sido reforçado pela ação das redes de Museus, Arquivos e Cineteatros que têm contribuído, ainda que de forma ténue, para uma programação complementar, para qualificar a capacidade técnica e para ter uma oferta mais qualificada. Fazer o exercício de consultar as Agendas Municipais permite perceber a oferta quer na Educação para a Leitura e Literacias várias, quer na Educação para o Património e para a Arte, assim como uma oferta regular de programação (embora desigual) dos seus equipamentos culturais, que se reinventaram na crise e que são ofertas que acontecem sobretudo nestes meses de suspensão; veja-se mais especificamente a programação de Teatros e Cineteatros que começam as temporadas no final de setembro e terminam em junho/julho.

Há muito caminho a percorrer, mas bem dizia o poeta que não há caminho, o caminho faz-se a andar! Nesse sentido, o caminho da Cultura deve ser um caminho de resiliência, de transformação, de oferta diferenciadora, de escutar o que por cá se faz e de possibilitar que também pelos nossos palcos passe o que de melhor se cria no país e no Mundo. Só este caminho longo, continuado, longe dos holofotes permite densificar a oferta, criar comunidades criativas e formar públicos. E este é o caminho diferenciador e disruptivo que a região precisa também para se afirmar como destino Cultural.

Este nosso contentamento descontente, que significa que por um lado há a ideia por cá somos muito bons e não precisamos dos de fora, - ideia completamente contrária ao que a região sempre foi uma plataforma de contactos com o exterior e completamente contrária ao modus faciendi atual de criação, onde a contaminação externa acrescenta valor, tanto ao criador como ao espetador. Descontente ainda, porque temos dificuldade em somar, em dar valor ao que por cá se faz. Já diz o ditado popular se eu não gostar de mim quem gostará? Enquanto nós algarvios não gostarmos de nós, no sentido de transformar as nossas fragilidades em forças não será um eterno lá longe e lá fora (expressão de Eduardo Lourenço) que nos salvará.

Façamos por somar, por construir em conjunto e, acima de tudo, por quebrar preconceitos e por aumentar a autoestima de ser algarvio.

1 Comment
Gonçalo Duarte Gomes
4/5/2017 10:07:24

Felizmente, não posso concordar!
Desde logo porque me parece haver uma leitura enviesada do que escrevi pois, mesmo considerando alguma hipérbole, não existe lá a premissa de que nada se passa. Pretende alertar novamente, isso sim, para implicações da colocação da totalidade dos ovos no mesmo cesto, insistindo na monocultura económica.
E a Cultura no Algarve, pese embora não tenha sido focada no meu artigo e até seja das áreas em que tem havido uma evolução muito positiva, também disso se ressente, pois é praticamente incapaz de se libertar da já proverbial "subsídio-dependência" estatal (central, regional ou local), inexistentes que são outras formas de financiamento por ausência de real dinâmica económica e de uma literacia cultural, para além dos interesses do turismo (ainda) de massas.
Finalmente, preocupa-me o discurso do "contentem-se com qualquer coisinha", pois cheira a mofo. Felizmente há inquietação e insatisfação! Se não promovermos o "regresso das audácias", como diria o "teu" Sérgio Godinho, conformamo-nos. E conformação é estagnação...

Reply



Leave a Reply.

    Visite-nos no
    Imagem

    Categorias

    All
    Anabela Afonso
    Ana Gonçalves
    André Botelheiro
    Andreia Fidalgo
    Bruno Inácio
    Cristiano Cabrita
    Dália Paulo
    Dinis Faísca
    Filomena Sintra
    Gonçalo Duarte Gomes
    Hugo Barros
    Joana Cabrita Martins
    João Fernandes
    Luísa Salazar
    Luís Coelho
    Patrícia De Jesus Palma
    Paulo Patrocínio Reis
    Pedro Pimpatildeo
    Sara Fernandes
    Sara Luz
    Vanessa Nascimento

    Arquivo

    October 2021
    September 2021
    July 2021
    June 2021
    May 2021
    April 2021
    March 2021
    February 2021
    January 2021
    December 2020
    November 2020
    October 2020
    September 2020
    August 2020
    July 2020
    June 2020
    May 2020
    April 2020
    March 2020
    February 2020
    January 2020
    December 2019
    November 2019
    October 2019
    September 2019
    August 2019
    July 2019
    June 2019
    May 2019
    April 2019
    March 2019
    February 2019
    January 2019
    December 2018
    November 2018
    October 2018
    September 2018
    August 2018
    July 2018
    June 2018
    May 2018
    April 2018
    March 2018
    February 2018
    January 2018
    December 2017
    November 2017
    October 2017
    September 2017
    August 2017
    July 2017
    June 2017
    May 2017
    April 2017
    March 2017
    February 2017
    January 2017
    December 2016
    November 2016
    October 2016
    September 2016

    RSS Feed

    Parceiro
    Imagem
    Proudly powered by 
    Epopeia Brands™ |​ 
    Make It Happen
Powered by Create your own unique website with customizable templates.