Bruno Inácio convida Diogo Agostinho O Lugar ao Sul iniciou em Dezembro a publicação de um conjunto de textos de autores convidados. Começamos da melhor forma com um texto do Arquitecto Paisagista Fernado Santos Pessoa publicado no passado dia 09 a convite do Gonçalo Duarte Gomes. Nas próximas semanas cada elemento deste site/blog continuará a convidar uma personalidade a escrever sobre o Sul. Hoje cabe-me a mim fazer o convite. Convidei o Diogo Agostinho, um "cidadão, economista, político e sonhador". É assim que o site do Expresso onde colabora regularmente, na coluna de opinião "&conomia à 2ª", o define. Entre outras, esteve na COTEC Portugal - Associação Empresarial para a Inovação e foi Gestor do Barómetro de Inovação e do Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa. Actualmente exerce funções como Chefe de Gabinete do Provedor e da Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, liderada por Pedro Santana Lopes. Mais que tudo isto é um Algarvio por inteiro que defende a sua região com orgulho. De resto, o texto que podem ler de seguida é um claro exemplo da sua Algarviedade. Sol a SulPor Diogo Agostinho
O desafio que me foi lançado pelo meu amigo Bruno Inácio é um exercício difícil, pois é um misto de sentimentos e de memória. Quando o tema é o Sul, mais concretamente o nosso estimado Algarve, perco qualquer sentido de isenção e de análise fria. Peço desculpa se esperavam uma opinião puramente racional e isenta. Não sou capaz. Não é exequível, porque foi a terra que me viu nascer, que me viu crescer e que fez de mim o homem que sou, com vários defeitos, próprios da humanidade, e a qualidade de ser do Sul. É a minha terra. Ninguém fica indiferente à sua terra. Sou sulista, mas estou longe de ser elitista. Aliás, esta é uma das características dos algarvios. Bem sei que temos um Sol que nos ilumina e que nos faz ver a vida como ela é, bela e calorosa. Mas não é por sermos abençoados pelas condições naturais que nos fechamos ou que nos achamos superiores aos restantes compatriotas lusos. Somos uma região que vive sossegada ao longo do ano, porém é invadida em pleno Verão. Invadida é o termo correcto. É invadida pelo resto do país, sem contar com os muitos "camones" que, esses sim, nos fazem companhia de forma regular ao longo do ano, seja pelo golf, seja pelo Sol, seja apenas pelo Algarve ser um verdadeiro paraíso o ano inteiro. Um motor da nossa economia. Com o seu verdadeiro petróleo: o turismo. E, por favor, não nos matem o turismo. Nem com taxas e taxinhas, nem com ideias luminosas de exploração de petróleo perigosamente próximas da nossa resplandecente costa. Sim, vivemos do turismo. É uma opção que de obrigação, se transmutou em estratégica. Apesar de tantas e tantas críticas que vamos ouvindo e de alguns erros que foram sendo cometidos. Na invasão anual que sofremos, ainda ouvimos e muito que não sabemos receber, que só vão até ao Algarve, porque o Sol e a água são mais quentes senão iriam para a Costa Alentejana, que, por mais bela que seja, na minha, modesta e isenta, opinião é ideal para um qualquer fim-de-semana. Ser do Sul, sulista, é perceber que entre Julho e Setembro, dividimos o nosso canto. Com os carros a impedir a EN125, com os nossos restaurantes com filas de 3 horas e a ouvir a típica frase: "este ano é o último que venho para o Algarve, isto está cheio, um horror", mas voltam sempre. Problemas? Certamente, até sendo invadidos por mais de um milhão de pessoas é difícil formar quem trabalha de forma sazonal, neste período, em busca de uns “trocos” e ter capacidade instalada, que requer investimento, para lidar com um fenómeno de pico tão concentrado e por vezes de valor incerto. Mas a qualidade de atendimento, factor determinante no sector do turismo, tem vindo a melhorar bastante ao longo dos últimos anos. Escrever sobre o Sul é difícil. A vida, a boa vida, fazem do Algarve uma região de excelência. Temos, mesmo, uma favorável qualidade de vida. Da educação à saúde (excepção feita na época crítica, mas aí o centralismo tem um papel). E vamos ser sérios, Lisboa fica a pouco mais de 2 horas. Dizer que o Sul é longe é não ter mundo, sobretudo noção das distâncias, europeus de países médios e grandes, americanos e africanos gracejariam facilmente com o com que nos parece, a nós habitantes de um país com um pequeno território terrestre, longínquo. O que não diriam os americanos que querem ir até Nova Iorque vivendo na Califórnia? Contudo ser sulista é também ser prestável, sempre pronto para a festa, sempre com um olhar crítico, falador qb. Não há melhor sentimento do que chegar àquelas portagens no fim da A2 e respirar o ar puro de um campo, ainda pouco explorado. Sim, o Algarve não é só Vilamoura, Albufeira ou a Praia da Rocha. É também Monchique e Alcoutim, quando vão fingir que fazem surf até Sagres, é também Vila do Bispo, e quando chove no Verão e vão até ao Fórum Algarve, existe uma cidade fantástica em frente, a capital a Sul, que vale bem a pena entrar, parar o carro e conhecer na essência. Porque Faro é Faro e é uma cidade que merece sempre ser sentida, mais do que meramente visitada. Falei anteriormente que não nos achamos superiores a ninguém. E é verdade. Mas não nos acharmos superiores ao Alentejo ou ao Norte, às Beiras ou às Ilhas, não faz de nós seres mais modestos. Aliás, esqueçam a humildade de um sulista quando fala da sua terra. Não queremos comparações, queremos isso sim, é valorizar o nosso pedaço à beira mar plantado, o espaço em que vivemos e chamamos casa. É defeito? Não, é feitio. Se não formos nós, algarvios, quem defende o nosso Algarve? Só com um L, por favor concedam a gentileza.
0 Comments
Leave a Reply. |
Visite-nos no
Categorias
All
Arquivo
October 2021
Parceiro
|