Por Luís Coelho O tema da saúde é recorrentemente tratado no Lugar ao Sul. De facto, eu próprio já escrevi sobre o assunto apontando baterias para aquela que me parecia ser a lacuna mais revelante da região neste domínio: a falta de investimento público. Escrevi “parecia” pois, à data de hoje, este é um tema secundário. Na verdade, na semana passada vimos finalmente e de viva voz a forma como a ministra da saúde olha com total desconsideração para a nossa Região. Em particular, como cidadão e contribuinte não posso aceitar que Marta Temido tenha afirmado à Antena 1 que “Não me parece que haja falta de médicos no Centro Hospitalar e Universitário do Algarve”, para de seguida sugerir que “[o que é preciso é] rever escalas e formas de organização”. Estas afirmações são indesculpáveis por duas ordens de razão. Primeiro porque a evidência sugere que Marta Temido não conhece a nossa realidade. Há, de facto, várias especialidades onde as dificuldades são manifestamente claras. Por exemplo, o site do Ministério da Saúde (http://tempos.min-saude.pt/#/instituicao/236) mostra que em 31/08/2019 havia 44 utentes no Hospital de Faro que, sendo considerados prioritários na área da ortopedia, estavam em média a aguardar pela sua primeira consulta há 1390 dias. Quão grave é esta situação? Muitíssimo já que o tempo máximo de resposta garantido para esta categoria de prioridade é de 60 (sessenta!) dias. Este é porventura o caso mais extremo mas há outras realidades igualmente desagradáveis. A somar aos dados estatísticos temos as recentes declarações de Martins dos Santos, director do serviço de cirurgia do CHUA, nas quais sublinha as más condições de trabalho que os profissionais enfrentam todos os dias naquela que deveria ser a unidade mais diferenciada do SNS na região. De salientar que tais declarações foram prontamente secundadas pelo Bastonário da Ordem dos Médicos que, após visita às instalações do CHUA, alertou para a necessidade de se tomarem decisões sobre estas matérias com muita urgência.
A segunda questão que torna as afirmações de Marta Temido insuportáveis para o Algarve é que as mesmas colocam em cheque toda a Administração do CHUA. Ao afirmar que o problema não está na quantidade de recursos (médicos) mas sim na organização do trabalho, Temido passa tacitamente um atestado de incapacidade aos gestores que estão à frente desta organização. Não me parece correcto que a responsável máxima pelo SNS destrate publicamente pessoas que, com todas as suas virtudes e defeitos, sempre deram o seu melhor pela Região do Algarve não virando a cara a uma luta que, no papel, se me afigura como impossível de vencer. De facto, são estas pessoas que todos os dias lutam contra a falta de recursos (financeiros e humanos), que lidam com profissionais altamente desmotivados, enfrentam a forte concorrência do sector privado e se veem envolvidos na gestão de uma unidade de saúde pública que opera numa região fortemente marcada pela sazonalidade. Posto isto, poder-se-á perguntar se é tempo de assumirmos colectivamente que o Algarve perdeu a guerra pelo SNS. Caso a resposta seja um rotundo não só há um caminho: juntar vozes, bater o pé em uníssono e mostrar ao poder central que esta região também faz parte de Portugal e, por isso, merece ter um SNS de qualidade e que sirva os interesses de todos os que cá vivem, trabalham e pagam impostos.
1 Comentário
Miguel
17/12/2019 21:20:47
Que sobretudo merece ser autónomo, não digo independente para não ferir...olhe nem quero saber, não digo independente porque não temos capacidade para tal, um algarvio que faz de bater o pé, desporto!!
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