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Sexo, votos e futebol

22/9/2017

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Por Gonçalo Duarte Gomes

Eleger um político com base na propaganda eleitoral é um bocado como estar bêbado numa discoteca escura e engatar alguém. É tudo muito lindo, mas arriscamo-nos a acordar na manhã seguinte e, ao abrir os olhos, assustarmo-nos com a criatura a nosso lado, tendo grande dificuldade em reconhecê-la e, principalmente, em recordar as razões porque deixámos tal pesadelo entrar na nossa cama.

Pelo menos é o que nos diz o histórico.

Agora então, que estamos oficialmente em período de campanha eleitoral (altura em que se pode fazer campanha, ao contrário do período de não-campanha, em que se faz campanha na mesma) o assédio é algo que faz tremer, só de imaginar...

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Para a classe política, tudo isto é business as usual. E, dentro disso, cabe todo aquele folclore degradante a que já estamos habituados, hoje em dia agravado pela coragem virtual que as redes sociais conferem a quem, cara a cara, não diria metade do que escreve.

Mas as pessoas fartam-se.

No entanto, mesmo quando confrontada com aumentos sistemáticos da abstenção em actos eleitorais (no Algarve, 43,3% de abstenção nas autárquicas de 2009 e de 52,4% nas de 2013), a classe política continua a achar que a sua fraca qualidade, corrupção (moral, mais ainda do que a outra) e distanciamento face à realidade não desempenham qualquer papel.

O poder local é um nível de organização da Administração Pública que deve dar respostas adequadas às necessidades locais, através de gestores – os autarcas são isso mesmo – profundamente conhecedores e identificados com a realidade. É dar voz à proximidade.

No entanto, isto tem vindo a ser desvirtuado, verificando-se uma cada vez maior contaminação das lógicas de corporativismo partidário, que tornam sua refém a intervenção na vida pública, dando indesmentível expressão ao pesadelo magistralmente retratado por Simone Weil num livro que devia ser de leitura (cada vez mais) obrigatória na escola: Nota sobre a supressão geral dos partidos políticos.

​Vai um exemplo? 
Estes jovens acólitos partidários (por circunstância afectos ao PS de Penafiel, sendo que outros exemplos, de outros partidos e locais, haverá) que se passeiam por uma estrada, em grande alarde, de caminho insultando e desejando a morte a uma pessoa de idade que, na berma da estrada, agitava uma bandeira de outra força política, são sintoma do que se passa na vida partidária.

Em boa verdade, estas imberbes alimárias, incubadas em “J”, são vítimas da lógica partidária que os educa, que esmaga o pensamento individual e obriga à obediência acéfala ao dogma ou obriga à saída. Nesta euforia colectiva, o exercício da política é facção, é vazio de ideias, é o poder pelo poder, é desprezo pelas mais elementares regras de respeito (são os príncipes, acima de tudo e de todos), é intolerância e, vá, o ocasional voto de morte aos que com eles não estão, mesmo que não estejam contra eles. Esta espuma, não tenhamos ilusões, será, tal como é já hoje, o recheio de listas partidárias e, mais ao longe, de um qualquer Governo.

Mesmo que os seus minúsculos cérebros, espremidos em conjunto, não produzam pensamento político suficiente para encher um dedal. A lógica partidária é dinástica, e não de mérito ou competência.

Ainda assim, para as nossas “elites”, o problema na relação entre políticos e cidadãos é algo do estilo: "Desculpa, mas não está a funcionar. Não sou eu, és tu...". Estão deliberada e militantemente cegos para o facto de que se trata de um caso clássico de bailarino que não presta e diz que a sala está torta.

É por isso que, na problemática da abstenção, o Governo chegou recentemente à brilhante conclusão de que graves são as distracções que desviam o néscio eleitorado das assembleias de voto, anunciando a salvadora intenção de legislar no sentido de proibir futebol em dias de eleição.

Portanto, nada de tornar obrigatório o exercício deste direito e dever, mas sim tratar todo um povo como débil mental, passando-lhe um atestado de imbecilidade. Legisle-se, ou não estivesse a produção de leis para os políticos como a masturbação para os adolescentes: é um exercício estéril, mas dá-lhes um gozo desgraçado...

Mas, se é para fazer, faça-se à grande: alarguem a medida a museus, galerias de arte, emissões televisivas, cinemas, almoçaradas de amigos, reuniões de família, centros comerciais e tudo o mais que nos distraia da elevadíssima política que se faz em Portugal e dos seus magníficos executantes.

A discussão em torno deste tema é importante e necessária, mas quem acha que alguém não vai votar entre as 8 e as 19 horas porque há 90 minutos de futebol algures pelo meio, claramente não quer fazer parte dela.

Por outro lado, a distância entre futebol e política pode ser saudável, pois é sabido que a consanguinidade nunca acaba bem. E é disso que se trata. Política e futebol são, cá no feudo, tratadas da mesma forma: clubismos irracionais (sou do partido X desde que nasci), bandeiras, cachecóis, até cânticos – até adaptações do famigerado Despacito!

O que cava o fosso entre os eleitores e os actos eleitorais não é o haver bola no dia de ir colocar o voto na urna.

São as obras à última da hora (porque 4 anos, ou muitas vezes mais, não deram tempo), as promessas vãs, os candidatos camaleões (hoje sou isto, amanhã o oposto), os saltitões (hoje aqui, amanhã acolá – haverá maior desvirtuamento do conceito e objectivo do poder local, que é missão na comunidade e não profissão na generalidade?), os que são autarcas condenados, os independentes dependentes, os independentes dissidentes, é a clubite partidária, o populismo (embarcando até no apoio a grupelhos que atentam contra o Estado de Direito), a demagogia e o vale-tudo, que transforma as eleições numa ida a um restaurante reaberto após encerramento pela ASAE: olhamos para o cardápio e já tudo nos parece podre. Pelo meio, fica a injustiça aos que se mantêm frescos…

Se ao menos o Canelas fosse a votos, sempre havia desculpa para a violência que nestes períodos é perpetrada contra a nossa inteligência e contra o nosso futuro…

Ainda assim, votemos. Que ninguém falte, votemos em massa. Mesmo que em branco, um utópico branco maioritário. O poder não escaparia aos partidos, que rapidamente e em uníssono descartariam essa expressão de vontade popular, por não ser a adequada aos seus interesses, que é o que realmente lhes interessa.

Mas ficaria um aviso que até eles compreenderiam.
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