Por Filomena Sintra Mudará tanto, quanto o tamanho do sonho, a capacidade de liderança, a visão de quem cá mora, investe e trabalha. O Algarve, a única região deste “jardim da Europa à beira mar plantado”, onde os seus agentes incorporam esse mesmo conceito de espaço territorial, bem delineado física e historicamente, tem acompanhado uma evolução estrutural do país, em particular depois do 25 de Abril e da adesão à União Europeia. Estatisticamente a região, aparenta o maior desenvolvimento per capita do país, e por aí, acreditaríamos que o Algarve muda a ritmo acelerado, na senda do tal progresso, em que todos estariam a cima da média da Europa. Mas, paradoxalmente ao pib médio per capita, temos a contrapor, indicadores da educação, da saúde, das taxas de analfabetismo, entre outros... abaixo da média nacional. Tal como temos no mesmo espaço, os mais ricos e os mais pobres concelhos do país, os últimos, com elevadíssimas taxas de decrescimento demográfico, num interior que é “logo ali”.
No último meio século, de uma região fechada, rural e uma forte indústria conserveira, o Algarve, emerge no mundo, como um paraíso, virgem, de sol e praia, cosmopolita, com uma galopante procura, muito impulsionada, acredito eu, pela abertura do aeroporto internacional, e por um emergente novo-riquismo português. Chegavam os anos dourados desta nova industria, o turismo, simultaneamente detractor dos sectores até então tradicionais, que em termos relativos passaram a ter uma rentabilidade miserável. A necessidade de uma política de ordenamento, denota-se já num tempo, tardio, e irreversível, face àquilo que ressaltava dessa dinâmica. As CCDR’s foram os primeiros sinais no país para a persecução de uma política territorial integrada e articulada, e em especial num Algarve que crescia a duas velocidades. Mas os poderes que lhes foram conferidos, ou a falta deles, não terá permitido o desenvolvimento de politicas efectivas de gestão territorial à escala supra municipal. Uma outra variável, de reputada importância na construção da região, foi a abertura da Universidade do Algarve, contribuído para a fixação de quadros técnicos; para a qualificação da população e das empresas e também para uma cultura mais rica e potenciadora de outro tipo de procura. Acredito eu, que o verdadeiro factor competitivo das regiões, são o seu capital humano e natural. Tudo o resto, é fruto da sua interacção. Se o Algarve muda? Mudará ao ritmo da disponibilidade desses factores competitivos, sua estratégia, sua liderança e sua organização. O Algarve tem que ser bairrista, naquilo que avoca a si. Com uma estratégia bem definida, com uma democracia participada, mas uma liderança forte e aplaudida. Digo bairrista, e não regionalista, para evitar uma tendenciosa interpretação política, circunstancial. É preciso embrenhar essa cultura em cada um de nós, e pugnar pelo modelo. Temos armas para assegurar essa mudança e rumar para a sua sustentabilidade: um sistema democrático; cultura; patrimónios; ambientes naturais inigualáveis; pessoas; a agricultura e pescas. Será que há audácia para insistir na recuperação dos sectores tradicionais; na salvaguarda dos valores naturais e ambientais e no investimento na cultura?! E seremos regionalistas ou bairristas ao ponto, de imiscuir na fileira de produção de cada sector, os produtos e valores da região, e aí sim, acrescentar valor, e impulsionar desenvolvimento?! Afinal, contribuímos grandemente para a balança comercial portuguesa, com o crescente volume das exportações nos serviços turísticos, e está nas nossas mãos, conseguir alavancar os demais sectores produtivos, neste processo. Que peixe, que fruta, que doçaria, que artesanato, que pacotes culturais, que marcas culturais, que rotas, que vinhos e tanto mais, estão associados aos milhões de dormidas contabilizadas?! Será acreditável o incremento de uma maior responsabilidade social das empresas, das pessoas e das instituições, na região?! Desconhecendo qualquer indicar de comparação, arriscaria dizer, que o Algarve, ainda tem muito a aprender nesta matéria. E agora pergunto, será que os algarvios querem operar alguma mudança estratégica no Algarve? A força da mudança, dependerá da força dos seus actores, e da solidariedade interregional. Rematando com a desejada sustentabilidade, o Algarve, tem condições para gerar riqueza em torno de si próprio, à escala das suas necessidades, mas ainda tem um longo caminho para fazer e acreditar.
2 Comentários
Paulo Sousa
1/10/2016 11:37:15
Fantástica reflexão Filomena!
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André Correia
2/10/2016 21:49:22
Gostei da reflexão.
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