Por Gonçalo Duarte Gomes Algarvios e algarvias, indígenas ou de adopção, preparai as lágrimas! É que o bom do S. Nicolau, no seu esforço de auxiliar o Menino Jesus a distribuir alegria pelos lares deste Mundo, pode encontrar alguns problemas no Algarve, que poderão atrasar ligeiramente a tarefa neste cantinho, arrastando a coisa até à Páscoa. Os tempos não estão fáceis para ninguém, e renas pagam classe 4 nas portagens da Via do Infante, pelo que o bom velhote certamente apontará à velha EN125 para levar a cabo a sua tarefa, e aí... bom, aí bem que pode recorrer às suas melhores cunhas celestiais, porque a coisa está difícil... O nosso Ministro do Planeamento e Infra-estruturas, Pedro Marques, fez recentemente um não anúncio relativamente às obras de requalificação da EN125, mumificadas desde há algum tempo. Disse o governante que as negociações para resolução do impasse estão agora mais avançadas do que antes, mas sem se comprometer com qualquer prazo, indicando antes uma incerta esperança de que a coisa esteja a andar daqui a um mesito, ou coisa que valha, se tudo correr bem. Nas imortais palavras da banda Salada de Fruta: Há sempre um "se" no caminho Foi portanto um momento Melhoral: não faz bem nem mal. E também não diz coisa nenhuma. E é pena, porque o raio das obras davam jeito. Não digo um jeitaço, porque o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita, e uma simples rua não pode ser a principal artéria rodoviária do Algarve. Mas pronto, acabando a empreitada, sempre nos livramos do estrafego que é circular num estaleiro contínuo. E já agora podiam pensar na restante estrada que falta (re)qualificar. Como esta malta só cá vem no Verão, se calhar as bebidas coloridas e os flashes das selfies toldam-lhes a visão, dando-lhes a ideia de que está como nova, tipo a estrear… É muito triste ver o nosso sapatinho vazio no Natal, quando outros o têm tão recheado, e livre de incertezas. Já referi, noutra ocasião, a prenda dada a Lisboa, de uma empresa pública de transportes, com a reconfortante certeza de que nós, provincianos que não temos transportes dignos desse nome, iremos ajudar pagar a dívida. Levam o brinde, cuspindo a fava no nosso olho. Limpinho, limpinho. Outra enternecedora certeza anunciada recentemente foi a resolução do problema dos denominados “lesados” do BES. Apesar de tudo o que já foi dito e escrito sobre esta “solução”, parece-me que ainda não lhe foi reconhecida a coerência. Senão vejamos: um problema nascido de ganância especulativa (sim, porque os agora “investidores não qualificados” nunca demonstraram inaptidão nem manifestaram desconforto ou sentimento de traição enquanto se imaginavam a embolsar os chorudos proveitos na operação de compra de dívida – pelo nome ninguém desconfiava do risco, realmente...) é “resolvido” com recurso a valores que se especula que possam surgir de operações de liquidação de empresas denominadas “tóxicas” e de processos cíveis em curso. Se toda essa fantasia estranhamente falhar, cá estarão os contribuintes - desde logo através do contributo da Caixa Geral de Depósitos para o Fundo de Resolução - para bancar a folia. Portugal garante então ressuscitação económica a quem jogue à roleta-russa financeira e perca. Assim dá gosto ser venture capitalist (em estrageiro soa sempre melhor)! Não só as vacas já voam, como os limites da decência foram pulverizados. Em nome da “confiança” no sistema financeiro (fiável que ele é, e que tanto bem nos tem feito), destrói-se a credibilidade do Estado, que se torna avalista da cupidez das pessoas e das manigâncias que os bancos queiram inventar. Indecente vale tudo... Ao que parece, o Governo constrói a sua auto-palmadinha-nas-costas em torno desta solução com base num estudo elaborado pela Universidade Católica, que considera que a probabilidade de ser o povão a avançar com a rolha para o buraco é diminuta. Mão no bolso dos contribuintes e fé em Deus, portanto. Estas situações, entre muitas outras, só vêm provar que no nosso País há dinheiro e solução para todos os desvarios, menos para os nossos problemas regionais. Veja-se que até no também recente anúncio da entidade Portos do Algarve (uma prendinha, é certo, mas sem que se perceba se a região conquistou a autonomia ao nível da gestão destas infra-estruturas ou foi a Administração do Porto de Sines que se fartou do lastro algarvio), há muita indefinição. Isto para além de problemas ao nível do ordenamento territorial que se levantam. Esta questão merece uma atenção mais especial, e uma visita oportunamente mais alongada, mas entretanto já reflecti brevemente sobre esse assunto aqui. Ou seja, nesta coisa da coesão nacional, para desembolsar estamos – e muito bem, note-se, aqui sem qualquer ironia – garantidos. Pena é que para receber, estejamos sempre na lista do “logo se vê” ou do “vamos analisar as disponibilidades e possibilidades”. Definitivamente, temos que afinar a nossa carta ao Pai Natal, e pedir muito mais e melhor para este canto. Por outro lado, também é certo que temos que nos portar melhor, para nos tornarmos merecedores da atenção do velhote… Entretanto, deixo votos de um Feliz Natal para todos, valorizando sempre as presenças acima dos presentes.
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