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Saias, Modas e Ódio, ou como as palavras também matam.

28/10/2019

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Por Anabela Afonso

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As palavras são uma arma, já o sabemos, mas poucas vezes pensamos que são as nossas palavras, ou ausência delas, que podem estar a ferir aqueles que estão em nosso redor. Sim, porque as nossas palavras são sempre as certas, as que são justas. Os que erram são sempre os outros.

Vem isto a propósito de uma série de coisas que vi e li, nestes últimos dias, que me puseram a pensar na facilidade com que dizemos/escrevemos certas coisas, sem nos dar conta do impacto que isso terá no(s) outro(s), ou, no outro extremo, na facilidade com que deixamos de dar às palavras o verdadeiro sentido que elas têm, ou que passamos a utilizar modos mais suaves de descrever realidades que é nossa responsabilidade não deixar que se normalizem.

A este propósito, escreveu o jornalista Vitor Belanciano uma notável crónica, intitulada Estás na Moda ou na Merda?, cuja leitura aconselho, por, a partir das muitas análises que se multiplicaram sobre o filme Joker, nos levar a refletir sobre este fenómeno a que todos cedemos de aceitar normalizar a miséria, a pobreza, e a falta de opções para tantos de nós, como se não houvesse saída. Mais grave ainda é o facto de os únicos que apontam saídas e soluções milagrosas para estes problemas serem os populistas e demagogos, que não hesitam em tentar convencer-nos que tudo isso se resolve, atirando para dois ou três alvos - o velho truque de identificar um "inimigo" sobre quem recaem todas as responsabilidades dos nossos males.

Ora grandes males nunca têm grandes remédios nem grandes soluções. A verdade é essa. E esses que se apresentam com soluções simples não fazem mais do que utilizar a arte da manipulação e da propaganda para agitar as massas a seu favor (que na grande maioria das vezes não é mais do que a chegada ao poder e uma vez lá chegados, a sua preservação). Aqui não posso deixar de sugerir que sigam o documentário que há três semanas estreou no canal Discovery, da autoria do realizador Steven Spielber, Why We Hate. Nesta série de 6 episódios, Spielberg vai buscar uma série de cientistas, investigadores, jornalistas e outros especialistas, assim como testemunhas diretas de situações de violência que marcaram o mundo nos últimos anos, para tentar encontrar uma explicação que justifique porque, em alguns momentos, os homens são capazes de atos de enorme atrocidade para com os seus semelhantes. O terceiro episódio, que passou este domingo, dia 27 de outubro, centrou-se no papel central que a propaganda teve em alguns dos episódios mais negros da história da humanidade, como foi o caso do holocausto, ou o genocídio do Ruanda em 1994, demonstrando a facilidade com que, através da repetição intensiva de mentiras e ideias cheias de preconceito, se consegue desumanizar um determinado grupo de pessoas, ao ponto de um outro grupo já não as considerar humanas, e assim conseguir aceitar como justificável que sobre eles se pratiquem os mais bárbaros atos de violência. A dada altura é referido o papel que os media, e as redes sociais têm nos dias de hoje, nestes fenómenos, explicando que, apesar de são serem muitas vezes aí que eles surgem, é sem dúvida nenhuma aí que, nos nossos dias, eles se amplificam a uma velocidade muitas vezes assustadora.

A ilustrar esta referência ao perigo da disseminação do ódio, através das redes sociais, deixo, por fim, como sugestão, a série A Vítima que passou recentemente na RTP 2, que tem como ponto de partida a brutal agressão de um homem, após ter sido identificado num post numa rede social, como sendo um assassino.
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Tudo isto são temas que nos fazem pensar no perigo que representa vivermos numa sociedade que não promove o sentido crítico, e onde a propaganda, as notícias falsas e os títulos flashantes que asseguram cliques nas páginas dos jornais e dos sites de conteúdos começam a ganhar um poder assustador, perto dos poucos santuários que ainda nos vão fornecendo informação fidedigna, isenta, e com dados credíveis. Esta é uma situação tanto mais preocupante, quanto mais percebemos que mesmo aqueles de nós que se interessam por discutir ideias e conteúdos sobre tudo o que diga respeito às nossas cidades, ao nosso país e ao mundo onde vivemos, se confrontam com cada vez mais dificuldade em trespassar a cortina diária de assuntos sem interesse que ocupam o espaço mediático, impedindo que verdadeiramente consigamos olhar para o estado do mundo em que vivemos. Exemplo disso foi toda a agitação que se gerou em torno de uma peça de roupa que uma pessoa decidiu levar para o dia da tomada de posse dos novos deputados. Como é que uma coisa sem importância nenhuma se torna a coisa mais importante de um dia que tinha, de certeza, coisas bem mais importantes a destacar? E porque deixamos nós que isso aconteça, alimentando o acessório, e deixando morrer à mingua de atenção o essencial? Sim, as palavras são uma arma, mas é cada um de nós que, em última instância, decide se lhes damos o poder de se tornarem letais, ou se optamos, antes, por apenas amplificar aquelas que podem verdadeiramente fazer deste um mundo melhor.

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Aida de Jesus Garcia
29/10/2019 00:32:47

Ótima abordagem reveladora de interesse e das coisas essenciais a selecionar e a valorizar. Como, de facto, urge desenvolver o espírito e análise critica para exercer uma cidadanis ativa e construtora de mudança...

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