Por Joana Cabrita Martins No início do presente mês foi divulgado um estudo da OMS (Organização Mundial de Saúde) que revela as cidades Portuguesas que ultrapassam os níveis de poluição máximo recomendado de partículas finas inaláveis*. Notícia do DN É no entanto interessante constatar que a legislação Europeia e consequentemente a Portuguesa não se regem pelos mesmos valores, colocando-os bem acima dos valores recomendados pela OMS. Do limite máximo de 10 microgramas por metro cúbico de ar recomendado pela OMS as legislações europeias estabelecem os 25 microgramas por metro cúbico de ar como o seu limite máximo. Sem ser necessário conjecturar sobre teorias da conspiração, esta tão grande discrepância de mais 150% é mais que suficiente para pressupor uma série de razões de cariz económico e financeiro que estariam afectas a uma abrupta quebra nos seus lucros/negócios, algo que seria calamitoso para uma estruturada sociedade baseada nos mais altos valores do consumo, caso se regulasse pelos números preconizados pela OMS. Uma vez mais valores capitalistas se sobrepõem ao bem estar e saúde do ser humano. À parte esta curiosidade, e visto este estudo por cá não ter tido grande divulgação e/ou impacto, a mim pessoalmente preocupa-me constatar que 2 das cidades que se encontram acima dos valores, segundo a OMS, são Algarvias, a saber, Albufeira e Faro. Preocupa-me perceber que a diferença de valores entre ambas e a cidade de Lisboa é de apenas 1 micrograma por metro cúbico de ar, de 12 microgramas registados em Albufeira e Faro para 13 microgramas registados em Lisboa. Isto porque comparando as dimensões da capital Portuguesa com as cidades algarvias (ainda que uma delas seja também capital) seja em termos de área, seja em termos de população residente e visitante, e consequentes meios e recursos utilizados por estes, os valores deveriam apresentar uma maior amplitude de diferenciação com valores significativamente mais baixos para as cidades de Albufeira e Faro. Debruçando-me especificamente sobre Faro, capital da região, e minha “casa”, uma cidade de pequenas dimensões inserida em pleno Parque Natural da Ria Formosa apresenta-se incompreensível que os níveis de poluição do ar se encontrem em valores superiores ao máximo estabelecido pela OMS para preservar a qualidade de vida e saúde dos seus cidadãos residentes e visitantes. No entanto se fizer uma breve análise por alto da cidade, consigo entender que estes valores sejam reais e facilmente atingíveis numa cidade em que a utilização do automóvel per capita é elevadíssima, e em que a maioria da população não prescinde do mesmo para fazer deslocações de 500m de casa para o trabalho e vice-versa, em que o espaço público é invadido e usurpado pelos carros, onde os passeios deixam de ter a função de servir os utilizadores pedonais e se tornam parques de estacionamento legais aos olhos de quem governa e fiscaliza. Um aeroporto (tb ele em pleno Parque Natural da Ria Formosa), em que em mais de metade do ano o tráfego aéreo que sobrevoa a cidade é bastante intenso sem ser preciso grande esforço para se contabilizar. Basta estar no centro da cidade para se ser interrompido periodicamente pelo sobrevoar dos pássaros gigantes que ao chilrear nos fazem calar. E que do alto da sua passagem vão contribuindo, e não é com esmolas, para o aumento das micropartículas. Se juntarmos a este factores humanos os naturais e/ou climatéricos decorrentes da nossa posição numa zona geográfica de clima temperado a tender para o seco, com predominância para periodos de secas estremas e aumento significativo das temperaturas, temos toda uma conjuntura mais que favorável para que os valores apresentados este mês não só tenham tendência a manter-se como mais que provavelmente a aumentar. Se relativamente aos factores naturais, directamente, pouco poderemos fazer para alterar a situação, o mesmo não é aplicável aos factores humanos, civilizacionais. Os decisores locais, regionais e nacionais deveriam seriamente debruçar-se sobre o tema e procurar pôr em pratica leis e planos estratégicos concertados que promovam alterações significativas nas cidades e nos estilos de vida dos seus habitantes. E se poderá, porventura, existir algo que seja mais moroso ou arriscado de preconizar como reduzir o numero de viaturas nas cidades, ou restringir o acesso das mesmas a determinadas áreas da mesma, há por outro lado acções práticas bem simples e efectivas que fazem a diferença. Cuidar, preservar e aumentar os espaços verdes das cidades é uma delas. Na capital do Algarve durante anos os poucos espaços públicos verdes existentes, foram completamente negligenciados, o que deveria per si ser considerado um acto criminoso quando se fala de assuntos como este de saúde pública. Uma simples planta multiplicada por vários canteiros e uma simples árvore de porte médio grande multiplicada por outros tantos, em cada rua, em cada praça, poderia fazer a diferença na purificação do ar da cidade. Em Faro ao longo dos últimos anos foram abandonados canteiros, foram amputadas e deixadas morrer árvores e flores, foram calcetados canteiros... foi-se desertificando a cidade e deixando aumentar a poluição do ar. Foi com grande felicidade e alguma incredulidade que na semana passada e esta semana vi serem descalcetados antigos canteiros do centro da cidade e ....plantadas árvores!!! Em duas áreas vizinhas, outrora oásis de palmeiras, posteriormente desertificadas sugiram nestes últimos dias novas árvores. Será um sinal de mudança nas estratégias e entendimento dos decisores? Vou manter a esperança. Que pode ser que se venha a confirmar, caso completem o trabalho de descalcetar os restantes canteiros do outro lado da rua (que inexplicavelmente não tiveram direito a árvores). E aquele cujo corpo morto de uma outrora palmeira jaz ainda solitário no meio de novas espécies... Sim... Sim quero acreditar que foi só o começo e que o trabalho será terminado, e que por traz deste começo esteja uma estratégia bem delineada para tornar Faro mais verde, mais fresca, e MENOS POLUÍDA. *”Indicadores da Qualidade do ArO nível da poluição do ar é medido pela quantificação das principais substâncias poluentes presentes neste ar, os chamados Indicadores da Qualidade do Ar. Considera-se poluente qualquer substância presente no ar e que, pela sua concentração, possa torna-lo impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde, inconveniente ao bem estar público, danoso aos materiais, à fauna e à flora ou prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade.
Estes Indicadores representam materiais sólidos e líquidos em suspensão na atmosfera, como poeira, pó e fuligem. O tamanho das partículas é o critério utilizado para a classificação destes materiais. Partículas mais grossas ficam retidas no nariz e na garganta, provocando incômodo e irritação, além de facilitar que doenças como gripe se instalem no organismo. Poeiras mais finas podem causar danos ao aparelho respiratório e levar outros poluentes para os alvéolos pulmonares, provocando efeitos crônicos como doenças respiratórias, cardíacas e câncer. As pessoas que permanecem em locais muito poluído por partículas inaláveis, são mais vulneráveis a doenças de forma geral.” meioambiente.pr.gov.br “As partículas presentes na atmosfera são provenientes de fontes naturais, como vulcões, aerossóis marinhos e a ação do vento sobre o solo, e de outras de caráter antropogênico, tais como a queima de combustíveis fósseis, processos industriais e tráfego rodoviário. As partículas presentes na atmosfera são normalmente designadas pelo método através do qual são medidas. Nos últimos anos foi dedicada especial atenção aos efeitos das partículas e portanto as medições tradicionais de Partículas Totais em Suspensão (PTS) têm vindo a ser substituídas pela medição da fração PM10 (partículas com um diâmetro 5 aerodinâmico inferior a 10 µm), dado serem estas as partículas que representam um maior risco para a saúde(Elsom,1989;Seinfeld,1986). O material particulado ou aerossol atmosférico é constituído pelas partículas sólidas e líquidas em suspensão na atmosfera. As partículas inaláveis(PM10) são definidas como partículas com diâmetro aerodinâmico menor que 10 µm, estas dividem-se em partículas grossas inaláveis com diâmetro aerodinâmico entre 2 e 10 µm e as partículas finas com diâmetro aerodinâmico menor que 2 µm(Seinfeld,1986). Estudos recentes têm demonstrado a existência de correlações entre as variações dos níveis diários de PM10, produzidas por diversas fontes e os efeitos nocivos à saúde humana. Em muitas cidades as PM10 são consideradas como um dos poluentes que causam maiores preocupações, estando a sua ação relacionada com todos os tipos de problemas de saúde, desde a irritação nasal, tosse, até à bronquite, asma e mesmo a morte(Cerqueira,2000). A fração mais fina das PM10 ( 0,5µm a 1,0µm) pode ter efeitos muito grave para a saúde, uma vez que este tipo de partícula pode penetrar profundamente nos pulmões e atingir os alvéolos pulmonares, provocando dificuldades respiratórias e por vezes danos permanentes. As partículas desta dimensão penetram facilmente no interior dos edifícios (Elsom,1989;Seinfeld,1986). Partículas com diâmetro inferior a 1 µm, podem permanecer em suspensão na atmosfera durante semanas e serem transportadas ao longo de centenas ou milhares de quilômetros, enquanto que partículas maiores que 2,5 µm, são removidas no período de algumas horas por precipitação e sedimentação. As dimensões das partículas finas, principalmente das partículas emitidas pelos veículos a diesel, são da ordem de grandeza do comprimento de onda da luz visível podendo, por este motivo, reduzir sensivelmente a visibilidade. A capacidade do material particulado em aumentar os efeitos fisiológicos dos gases presentes no ar é um dos aspectos mais importantes a ser considerado. Os efeitos de uma mistura de material particulado e dióxido de enxofre, por exemplo, são mais acentuados do que os provocados na presença individualizada de cada um deles. Além disso, pequenas partículas podem absorver o dióxido de enxofre do ar e, com água (umidade do ar) formam partículas contendo ácido, o que irrita o sistema respiratório e pode danificar as células que protegem o sistema.” Estudo da Dispersão de Poluentes para fontes Industriais - Universidade Federal Rio Grande do Sul
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