Por Bruno Inácio Foto retirada da página de facebook do Salvador Santos Tinha 10 ou 11 anos, no máximo 12. Terá sido por essa altura que terei tido o contacto mais próximo e regular com o Engenheiro Luís Guerreiro. Ele estava a preparar a abertura da Livraria Odisseia em Faro em conjunto com primos que temos em comum. Aliás, o parentesco sempre foi motivo de conversa. Não éramos primos. Ou então, como tantas vezes se diz, éramos primos afastados. As localidades pequenas (em dimensão territorial) como Querença assim o propiciam. Não é muita a distancia entre a casa da sua família e a casa da minha família. Da Várzea Redonda ao Cardosal são dez minutos a pé. Os mesmos que mais ou menos percorria para apanhar o autocarro quando fui estudar para Loulé.
Nesses meus 10 ou 11 anos, no máximo 12, numa espécie de férias de verão de Faro, fazia o que podia para ajudar na abertura da Odisseia. Lembro-me de arrumar livros consoante determinada organização. Lembro-me de o ter feito errado várias vezes. Lembro-me de distribuir folhetos pelos carros onde era anunciada a inauguração da nova livraria. Ficava com os dedos todos negros de tanto levantar os limpa-para-brisas. Estive no dia da inauguração. Havia muitas pessoas, o espaço era grande. Havia gravatas e gente que parecia ser importante. Para os meus 10 ou 11 anos, no máximo 12, pareciam ser gente importante. Recordo a barba e a pera do Engenheiro Luís Guerreiro que, lá ao fundo, junto a duas grandes imagens, uma julgo que era do Poeta Cândido Guerreiro, discursava. Não me lembro do que disse. Ali andava aos encontrões no meio daquelas pessoas importantes. Lembro-me sim do sorriso rasgado do Engenheiro Luís Guerreiro. Estava a cumprir um sonho. Esse sorriso era nele uma constante. Um traço de expressividade que sempre manteve. Lembro também os seus olhos cerrados proporcionais ao sorriso. Sempre o vi a rir e a sorrir muito. Era um Homem bem-disposto, positivo e de bem com a vida. Por isso, e por tantas razões mais, é tão injusto que essa vida, com quem ele estava de bem, lhe tenha fugido do corpo de forma tão repentina. Alguns anos mais tarde tornei-me colega do Engenheiro Luís Guerreiro na Câmara Municipal de Loulé. Eu fazia tudo o que era para fazer. Ele era uma pessoa importante da Câmara. Era o “Homem da Cultura” como tantas vezes o ouvi lhe chamar. Colaborei com ele em vários projectos e gradualmente fomos ganhando amizade que ele já “carregava” por mim e eu por ele, desde que eu nascera já que eu era uma espécie de primo afastado. A determinada altura fomos os dois chefes de divisão. Ele era da Cultura e eu da Comunicação, Relações Públicas e Eventos e depois do Desporto. A proximidade das áreas fez-nos fazer muitas coisas em conjunto. Ás quartas-feiras de manhã tínhamos sempre reunião com o Vereador Joaquim Guerreiro e com os restantes dirigentes sob seu pelouro. O parentesco também era tema nestas reuniões já que o Joaquim Guerreiro é também ele um primo de ambos. Foram muitas quartas-feiras de manhã. À volta daquela mesa eu era o mais novo e aprendi muito com aquelas pessoas. Passámos por tempos em que havia disponibilidade financeira para concretizar projectos, mas também passámos por tempos em que foi preciso um grande rigor e gestão orçamental o que obrigou a tomar decisões difíceis. Não obstante do bom ambiente geral, propiciado por todos, o Engenheiro Luís Guerreiro enchia a sala. Era normal assim ser. Foi, porventura, o melhor relações públicas que a Câmara Municipal de Loulé alguma vez teve. Tinha sempre uma história para contar. E contava sempre as histórias e as estórias com um grande desembaraço e sempre com umas piadas pelo meio. Monopolizava as audiências fossem elas de pequenos grupos ou de grandes salas. A Fundação Manuel Viegas Guerreiro, um sonho do Engenheiro Luís Guerreiro, teve, no lançamento da sua primeira pedra o então (agora outra vez) Ministro Eduardo Cabrita. Conduzi essa cerimónia e lembro-me que me enganei a determinada altura e cortei a palavra ao Senhor Padre. Pedi desculpa e devolvi a palavra. Relembro que nesse momento, o Engenheiro Luís Guerreiro, me sussurrou ao ouvido: “Nem Jesus foi perfeito”. Ele tinha muitas deixas destas. Pese embora as diferenças geracionais tenho bastantes boas memórias do Engenheiro Luís Guerreiro. De alguns convívios no Café Calcinha onde de resto, estou certo, ele teria tido papel importante nesta nova fase desse importante espaço cultural e social da cidade. Foram muitos os projectos que idealizou e colocou em prática e são muitas as pessoas que vão ter saudades suas. Eu serei uma delas e será destes pequenos momentos que aqui relatei e de tantos outros, que recordarei com saudade um Homem Bom que foi bom para os outros e que deixa a sua marca em Loulé, no Algarve e no País. Até sempre Engenheiro. P.S: Um dos seus últimos projectos foi a apresentação de uma proposta ao Orçamento Participativo de Portugal com vista a criação de uma Hemeroteca Digital do Algarve na Fundação Manuel Viegas Guerreiro. Pode contribuir com o seu voto até ao dia 10 de Setembro através deste link: https://opp.gov.pt/projetos/todos/709-hemeroteca-digital-do-algarve
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