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Receita para a amnésia de um povo - 7 anos depois

16/12/2019

2 Comentários

 

Por Anabela Afonso

Há sete anos, com o surgimento da TDT - Televisão Digital Terrestre, escrevi, a propósito desse processo que na altura deixou muitos locais do país, sobretudo no interior, sem acesso à televisão, a crónica "Receita para a amnésia de um povo". Essa crónica foi inspirada pelo chamado "apagão", já que, para quem não tivesse aderido aos canais por cabo e quisesse continuar a aceder aos canais generalistas de sinal aberto, só o poderia fazer adquirindo um aparelho específico que, mesmo assim, em muitos locais do país era ineficaz, fazendo com muitos portugueses ficassem, de um dia para o outro, sem televisão.

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Na semana que passou dois acontecimentos recordaram-me o que escrevi nessa crónica, publicada no Jornal "O Algarve", em 10 de agosto de 2012, jornal regional que, registe-se, deixou de existir: a notícia de que a Autoridade da Concorrência tinha autorizado a compra do grupo Media Capital (que detém a TVI) pela Cofina, depois de, em outubro passado, a ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social ter declarado não se opor à operação; e o episódio em que o Presidente da Assembleia da República repreendeu o deputado André Ventura, por utilizar excessivas vezes a palavra vergonha.

Poderá parecer, à primeira vista, que estes dois episódios não têm nada que ver um com o outro, mas têm, e muito. No primeiro caso, tratando-se o grupo Cofina do detentor do Correio da Manhã e da CMTV, o qual, por coincidência, foi o que deu grande visibilidade ao deputado de que agora se fala, e conhecendo o estilo, pode imaginar-se o efeito de amplificação que ganhará a partir do momento em que a TVI passe a integrar o dito grupo.

No segundo caso, como já deu para perceber, o deputado André Ventura não perderá uma oportunidade para transformar episódios insignificantes (e por mais triste que tenha sido a intervenção do presidente da AR a repreender um deputado por uma coisa que era tudo menos inédita, não deixou de ser, apenas, mais um episódio insignificante em muitos dos que, em todas as legislaturas, acontecem no hemiciclo), que interessam muito pouco ao futuro do país, mas que rapidamente se transformarão em "notícia" e tempo de antena para o próprio. Ora, com o efeito arrastador que o estilo CM já tem sobre a restante comunicação social, a expandir-se para uma televisão com as audiências que tem a TVI, receio bem que estas peripécias comecem a ganhar cada vez mais terreno no espaço mediático, deixando cada vez menos lugar para a verdadeira informação, e para o jornalismo a sério. 

Gostaria muito de estar enganada, e gostaria, sobretudo, que estes não fossem novos ingredientes a acrescentar à tal "receita para amnésia de um povo" que, passados 7 anos, achei por bem recuperar, com a nota positiva de que, pelo menos por agora, se deixou cair a ideia de privatização da RTP2, e que não é demais lembrar, era o que estava em cima da mesa em 2012:

«Para quem ainda tem dúvidas de como é possível ser-se bem sucedido na enorme tarefa de fazer um povo esquecer-se de si, chegou-nos, este fim-de-semana, a notícia do passo que faltava à lista de ingredientes de uma receita que, a consumar-se, será infalível.
Primeiro deixam-se a marinar, durante alguns anos, 3 canais de televisão generalistas – um deles pertencente ao Estado - que passo a passo conduzem os lares portugueses para a total dependência de telenovelas.
Depois, de forma suave e discreta, os mesmos canais generalistas vão transformando os noticiários em espectáculo televisivo, onde por vezes, e se estivermos suficientemente distraídos, somos capazes de acreditar que já é hora da telenovela.
Introduz-se a televisão por cabo, a qual fornece conteúdos especializados a quem pode pagar, claro. Quando a televisão por cabo está bem estabelecida, chega a TDT, que vem assegurar, que uma boa parte da população - a que não pode pagar - se fica mesmo só pelo universo das telenovelas e dos noticiários-espectáculo.
Por fim (e de acordo com o jornal Expresso do fim-de-semana passado, a coisa deverá acontecer até ao final do ano), prepara-se a rápida privatização daquele que ainda vai resistindo como último reduto de algum serviço público de televisão em Portugal, a RTP2.
Poderá um canal único nas mãos do Estado, numa conjuntura onde os resultados quantitativos imperam sobre tudo o resto, assegurar um verdadeiro serviço público de televisão? Pode imaginar-se o que acontecerá aos conteúdos televisivos que resultarão da guerra de audiências e da luta pelas receitas de publicidade com mais um canal privado de televisão a operar no mercado.
Em 2004, no ensaio “A Ideia de Europa”, alertava George Steiner: “A Europa esquece-se de si própria quando se esquece de que nasceu da ideia da razão e do espírito da filosofia.”»

2 Comentários
Miguel
18/12/2019 14:48:51

Todos os canais nacionais, com honrosa excepção da RTP2 que como referiu é a única que faz serviço publico, são autênticos centros de alheamento pessoal, nacional e colectivo, dirigidos sobretudo a faixas etárias mais envelhecidas e em nada contribuindo para a sua educação e informação "unbiased" .
Diga-se de passagem que é notória a falta de cobertura dada ao Algarve por parte das estações do Estado, e a cobertura sensacionalista dada pelas demais que só contribui para esse apagão geral; somos curiosamente dos países da Europa que mais assiste TV juntamente com Sérvia e Bulgaria salvo erro, é uma realidade em mudança, com a renovação de gerações a TV como a conhecemos em Portugal irá tendencialmente perder, isto no espaço de uns 20 anos.

Responder
Anabela Afonso
30/12/2019 13:10:49

Caro Miguel, Concordo. É uma mudança enorme que aí vem, que não sabemos ainda o que nos trará, e que muito dificilmente conseguiremos antecipar. A TV que conhecíamos, na minha opinião, já mudou há tempos. O problema é que o modelo das redes sociais do "quanto pior melhor" está a ganhar terreno, tanto à nova forma de fazer televisão, como em todas as plataformas e meios de produzir e divulgar conteúdos. Infelizmente, na minha opinião.
Muito obrigada por nos acompanhar tão atentamente, neste Lugar ao Sul. Um feliz 2020 para si!

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