Por Ana Gonçalves A Universidade do Algarve entrou em contagem decrescente para comemorar o seu 40º aniversário. Este marco de entrada nos “entas” institucionais está revestido de muito simbolismo e também de muitos desafios que não se resumem exclusivamente aos constrangimentos financeiros vividos atualmente por algumas (demasiadas) Universidades Portuguesas.
Instalada em 1979, a Universidade do Algarve desde cedo se diferenciou das restantes Universidades Portuguesas. O seu espectro territorial e a necessidade de responder aos desafios que a ausência de uma dimensão crítica desde logo potenciaram, conferiram-lhe sempre uma missão integradora, agregadora, projetada para o impacto no desenvolvimento regional e para a atenuação dos efeitos da sua natureza periférica. Foi em 1982 que a Universidade do Algarve viu nomeado o seu primeiro Reitor, o Professor Doutor Manuel Gomes Guerreiro. Munido de uma visão assente na indispensável afirmação da Região, afirmou, desde logo, o carácter irreversível da instituição e a necessidade de uma aposta sólida no “investimento intelectual”. Como o próprio afirmou em entrevista ao primeiro número do Informativo da Universidade do Algarve (1984), “o investimento intelectual, embora com efeitos a médio prazo, é o que melhor e mais rapidamente pode responder aos anseios de desenvolvimento de um povo; não só é o menos oneroso em termos de divisas mas também o mais democrático, fecundo e multiplicador. Na realidade o investimento intelectual é o que permite congregar o maior número de pessoas de uma Região num mesmo projeto de solidariedade institucional.” Assim, desde o primeiro momento que a Universidade do Algarve foi pensada para se apresentar como um elemento indispensável ao desenvolvimento da região, privilegiando a comunidade em detrimento da individualidade, democratizando o acesso ao conhecimento e contribuindo para diminuir os efeitos causados pelas assimetrias territoriais. Certo é que, volvidas quase 4 décadas, alguns dos desafios com que a Universidade do Algarve se deparava mantém-se e a propriedade e a clareza de espírito com que o então primeiro Reitor abordava os desafios da Universidade e da Região são demasiado atuais: a distância simbólica que afasta consecutivamente o Algarve dos centros de decisão; a escassez de financiamento que retira liberdade e autonomia às instituições; a fragilidade do tecido produtivo; e, também, a dificuldade de atrair capital humano competente e qualificado. É inegável que nos seus quase quarenta anos de história, a Universidade do Algarve tem superado bastantes constrangimentos, mostrando ser uma instituição resiliente, determinada e comprometida com a envolvente regional. Esse caminho merece ser enaltecido, valorizado e encarado com orgulho. Mas é também evidente que o maior desafio que enfrenta atualmente é aquele em que se alicerça a crise de valores, de identidade e de solidariedade que tem vindo a caracterizar a ação das Universidades Portuguesas. As pessoas. Os territórios e as instituições são, em primeiro lugar, as pessoas que estão lá dentro. A Universidade do Algarve é, desde o seu primeiro momento, a gente que está lá dentro. E esta é uma dimensão que tantas vezes parece ser relegada para segundo plano, como se olhar para as pessoas tornasse a aritmética demasiado confusa. É este o efeito que o PREVPAP (Programa de regularização extraordinária dos vínculos precários na Administração Pública) tem gerado nas universidades: uma aritmética confusa. Sendo bastante elucidativo da forma como a precariedade se institucionalizou no seio do Estado e, particularmente, nas Universidades, este programa colocou em destaque a forma instrumental, numérica, com que as Universidades têm lidado com o assunto. É certo que as Universidades precisam de mais financiamento. É certo que as Universidades precisam de mais estudantes. É certo, também, que as Universidades necessitam de tempo para se ajustarem a uma nova realidade. Mas também é certo que o maior valor que as Universidades têm são as pessoas que as constroem. E a este respeito, que futuro(s) estamos a traçar?
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