Por Filomena Sintra
A música é uma arte ancestral, presente em todo o mundo e na história de todos os povos. É uma arte poderosa, no desenvolvimento humano, nas suas diferentes dimensões sociais, culturais e emocionais. Ninguém dúvida destas generalidades! Voltada para a particularidade e realidade do país, penso muitas vezes e há muitos anos, no oculto poder cultural, social e educativo das Bandas Filarmónicas, tão relevante e tão preterido. Relevante, porque num quadro de um país com cerca de 800 bandas e por aí mais de 30.000 músicos em execução e muitos outros milhares com a experiência cravada na sua matriz socio educativa, é sem dúvida a maior instituição de ensino generalizado e de livre acesso na área da música, de forma integrada, em Portugal. A sua existência resulta da carolice dos seus dirigentes, músicos e familiares. Os apoios financeiros são maioritariamente das Câmaras Municipais e não existe um programa integrado para apoiar e também regular a actividade destas colectividades. Para que um músico possa integrar uma banda, precisa de aprender a ler música e a dialogar com o instrumento. Por inaptidão, por indisciplina ou desamor, muitos por aqui ficam. Outros prosseguem, e em particular na sua juventude, sacrificam as saídas ao sábado, as manhãs domingueiras de descanso, as festas em família, com a responsabilidade pelo conjunto harmónico, da banda que integram. Muitas das boas colheitas do ensino articulado, dos conservatórios, das bandas militares, do ensino superior, das orquestras, resultam das sementes lançadas pelas bandas filarmónicas. No caso particular do Algarve, o rácio de bandas por habitante é bem mais baixo do que no resto país, e em alguns concelhos têm uma história muito recente. Mesmo assim, terão sido as únicas oportunidades para muitos jovens algarvios aprenderem música, em particular nos concelhos mais rurais. É um indicador pequenino, mas revelador, da insipiência, e da falta de oportunidades que as crianças e jovens algarvios tem na área da música. Ou teremos nós uma rede de conservatórios de música e escolas artísticas de outra natureza, que rebata esta precipitada conclusão?! Não me parece! Não quer dizer que não haja um trabalho meritório neste Algarve, na área do ensino da música, por parte de outras estruturas. Há, e conheço algumas. Não chega! E está longe daquilo que merecemos, e concentrada em meia dúzia de cidades litorais. A exemplo, ocorre neste inverno, mais um Festival de Artes de Albufeira, já na sua 16.ª edição, uma iniciativa com participação regional, e uma mostra de grandes talentos infanto juvenis, curiosamente, com uma acentuada participação de artistas residentes, mas de outras naturalidades. Dá que pensar! O ADN do artista será importante, mas a escola da sua vida será o palco da sua oportunidade... Quantas escolas de 1.º ciclo, no Algarve, apresentam nas actividades extra curriculares, o ensino da música e das artes?! Quantas crianças e jovens no Algarve, têm a possibilidade de integrar o ensino articulado, a partir do 5.º ano de escolaridade?! Cresci como pessoa, dentro da dinâmica de uma banda, a saber Filarmónica Artística Pombalense. Não só por isso, mas também, tenho a convicção, de que o país muito deve às bandas filarmónicas. Há época, havia até um misto de vergonha e orgulho, na música que procurava ser! Permanece o preconceito em relação às bandas filarmónicas, que co-existe com uma certa elite que relega para segunda divisão estas formações musicais, precursoras de enriquecimento cultural dos portugueses, de norte a sul, do litoral ao interior. A terminar, citando o virtuoso António Saiote, “as bandas filarmónicas são um gigante adormecido”. Vamos valorizá-las e apoia-las! A começar pelo Estado...
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