Por Gonçalo Duarte Gomes
Há notícias perturbadoras de hordas de turistas epidémicos que, exaustos após várias sessões de palminhas à varanda para ajudar o ânimo dos médicos e enfermeiros, e várias cadeias de #vamostodosficarbem no WhatsApp, se movimentam em direcção ao Algarve, munidos de garrafão de tinto e outras bizarrias estivais, porque pelos vistos parece-lhes boa ideia vir curtir uma quarentena esperta, aquecida ao Sol do Algarve. Inclusivamente terão já sido registados ajuntamentos em praias algarvias, estes provavelmente protagonizados por locais, reeditando boçalidades já vistas em Carcavelos ou na Póvoa de Varzim, levando mesmo à intervenção das autoridades para dispersão de tão infelizes bandos. A este propósito lembro-me sempre da comparação entre a situação que vivemos e o apocalipse zombie retratado na série Walking Dead. E a conclusão é inevitavelmente a de que os zombies tinham desculpa: não tinham cérebro. Estes nossos asininos compatriotas pelos vistos também não, pelo menos a funcionar. Parece-me que a culpa é também das autoridades, que inventam expressões complicadas como "Fiquem em casa", com muitas palavras e cheias de termos difíceis. Ora, isto num País onde já se sabe como são os níveis de literacia, é pedir sarilhos... Pessoas, agradecendo-se a atenção: deixem lá isso. Ida esta aflição, haverá muitas oportunidades no futuro para voltarmos ao normal, e nos brindarem com todo o circo de horrores que são aqueles comportamentos e atitudes que só uma pessoa em turismo - incluindo os locais, que quem paga taxa turística, turista é - consegue montar, e para desdenharem do sítio para onde vêm a correr, até em tempos de pandemia. É certo que o Algarve sempre falou no turismo de saúde, mas provavelmente não era nisto que se estava a pensar. Além do mais, aos nossos sacrificados profissionais de saúde nas instituições públicas já basta terem que ser autênticos MacGyvers da coisa para tratar os que já cá estão com o pouco que têm, a fazer ventiladores com CD não vendidos do Luís Gomes (felizmente, esses não faltam), máscaras a partir do cuecame de gola alta da avó e das ceroulas ruças do tio e desinfectante a partir de medronho contrafeito. Agora a sério, e de forma simples: Fiquem. Em. Casa. Porra.
2 Comments
Miguel
29/3/2020 13:56:59
Coisas chatas de se ser uma região turística, mas que felizmente tem mostrado haver vida para além do dito, com empresas regionais contribuindo activamente para esta luta que se avizinha longa, infelizmente não se pode contar com o bom senso (apenas) para resolver crises.
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Gonçalo Duarte Gomes
30/3/2020 18:43:44
Cumprimentos, Miguel, e tudo a correr bem!
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