Por Luís Coelho São 22h e 31m de dia 17/03/2020 e estou neste momento a ouvir o Prós e Contras da RTP (passou em directo na segunda-feira mas só hoje é que consegui ver). Foi um programa interessante já que, ao contrário do que é usual, foram convidadas pessoas que me parecem tecnicamente capazes e que, claramente, não fazem parte do establishment. Conclusão: a conversa foi bastante informativa e permitiu perceber melhor o verdadeiro tsunami que se pode abater sobre o nosso País. Vejamos. Segundo a informação oficial da Direcção Geral de Saúde, no dia 17/03/2020 existiam 448 casos confirmados de Covid-19 em Portugal. Ficámos entretanto a saber que existem 1142 ventiladores para adultos no País, algo dito por António Costa no decurso da sua entrevista à SIC no dia 16/03/2020. Os vários especialistas presentes no Prós e Contras indicam que entre 2% e 3% dos infectados por este vírus vão precisar de um ventilador para (ter esperança de) poder sobreviver. Podemos utilizar estes inputs para perceber o ponto de ruptura do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Adotemos uma postura optimista neste exercício. Em particular, vamos admitir que 2500 ventiladores operacionais no País já a partir de amanhã (i.e., mais do dobro da capacidade conhecida neste instante, o que corresponde a um esforço para comprar todos os equipamentos que estão disponíveis no mercado ao mesmo tempo que se mobilizam todos os ventiladores que existem no privado, nos veterinários e com a autoeuropa e fábricas similares já dedicadas à produção deste milagre tecnológico). Assumamos ainda que apenas 2% dos infectados vão necessitar de ventilador e que a taxa de crescimento diária do número de infectados (TCDI) é de 10%, 25% ou 30% (i.e., sempre abaixo das taxas conhecidas até neste momento). Simulemos o que pode acontecer no espaço de 5, 10, 20 e 30 dias a contar de 17/03/2020. As Tabelas abaixo resumem os resultados: As conclusões são simples:
. Primeiro, é FUNDAMENTAL diminuir a taxa de infecção diária. Com 10%/dia é provável que o SNS encaixe bem o desafio resultante do COVID-19. De facto, ao fim de 30 dias estima-se que existam cerca de 160 pessoas a precisar de ventilador, algo perfeitamente suportável em face da escala que temos instalada; . Segundo, falhar o objectivo anterior é potencialmente catastrófico. Em particular, com uma taxa diária de novos infectados de 25% parece seguro que o SNS entrará em colapso algures em torno do dia +20 (a simulação aponta para o dia +25). Se esta taxa se fixar nos 30% o resultado é similar (a similação aponta agora para o dia +22) sendo que, neste cenário, o colapso soa a tragédia total logo a seguir. De facto, neste contexto, ao fim de 30 dias teríamos 23 mil pessoas a necessitar de ventilador. Impossível. Estas simulações são assumidamente simplistas. Por exemplo, não levam em linha de conta que os ventiladores necessitam de recursos humanos. A acção destes é finita pois, tal eu e o leitor, têm limites que resultam da sua condição humana. Este problema agrava-se pois há rumores (espero que infundados) de falta de material de protecção que, a serem verdade, podem reduzir dramaticamente a nossa capacidade de resposta. Por outro lado, nada se diz sobre a necessidade dos ventiladores serem utilizados para acudir a outras situações que não as de Covid-19. Sempre e quando um ventilador é utilizado para outro fim retira capacidade de resposta para os que precisam dele no contexto desta enfermidade. Também não se entra em consideração com a possível taxa de turnover de utilização deste equipamento, i.e., a possibilidade do ventilador ser usado por outro paciente logo que o anterior deixe de o necessitar (infelizmente, o Prós e Contras sugere que os doentes Covid-19 precisam destas máquinas por períodos longos de duas ou três semanas). Também nada dito sobre os 10% de infectados que vão precisar de estar nos cuidados intensivos, frente onde o especialista presente no Prós e Contras só deu péssimas notícias ao País: somos os piores da zona euro nesta matéria. Com estas limitações em mente, a conclusão parece-me clara. Na ausência de uma vacina ou equivalente e admitindo que não estamos disponíveis para perder uma parte importante da nossa população, só temos uma opção: reduzir drasticamente a taxa de infecção diária por Covid-2019. Tudo é resto é só conversa. Nota: a folha de cáculo que utilizei fica disponível aqui
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