Por Joana Cabrita Martins
Começaram a soprar vindos de Barcelona os mais altos ecos sobre a escasses de habitação para aluguer e compra para os residentes, chegaram a Lisboa e desceram a sul ainda não com a força e assertividade com que os primeiros reivindicam. Mas facto é, que a situação é geral ou global, cíclica até, por este mundo fora nas afamadas e desejadas zonas turisticamente em voga: A subida abrupta dos preços das habitações tanto para arrendamento como para venda, não compatível com o poder económico da esmagadora maioria da população local, visando a aquisição das mesmas por parte de estrangeiros possuidores de capital para esse investimento; A transformação de uma percentagem substancial de antigas habitações de 1ª residência ou de arrendamento de longa duração em alojamentos locais de curta duração; Até ao extremo de se recorrer às ordens de despejo de inquílinos de forma a possibilitar as anteriores situações descritas, têm sido noticiadas e reinvidicadas um pouco por toda a Europa e Portugal, até ao sul. As outrora cidades moribundas, decrépitas, com os seus centros urbanos cinzentos e podres, vêem deste modo o seu património edificado revitalizado, é um facto. As ruínas ou pseudo ruínas, foram hoje intervencionadas como se tivessem saído de uma operação plástica, têm novamente cor, forma, têm chão, paredes, tectos, têm portas, janelas, telhas e varandins, têm presença, é inquestionável. As cidades, o seu espaço urbano e o seu património edificado ganhou vida, está mais limpo, bonito, cuidado. E os seus habitantes? O problema tem sido amplamente discutido nos mais variados palcos, por "experts" de turismo, habitação, desenvolvimento, sustentabilidade, direitos humanos, pelos governantes mundiais, europeus, nacionais e locais. Mas se na identificação da situação existe consenço, o mesmo já não se pode dizer quanto à identificação de solução ou soluções. Regulamentação de plataformas gestoras de alojamentos locais, limitação de licenciamentos dos mesmos. Imposição de quotas máximas de incentivos ao investimento e aquisição de imóveis por estrangeiros. Criação de incentivos para arrendamento e aquisição de imóveis por parte dos locais. As poucas medidas que até ao momento têm sido tomadas, têm-no sido na base dos protestos daqueles que se vêm privados de habitar as suas cidades, por motivos associados à especulação imobiliária estimulada pelo BOOM do turismo e da globalização...ou será da DESUMANIZAÇÃO! É preciso encontrar o equilíbrio entre o residente e o visitante, entre o nacional e o estrangeiro. Saber respeitar ambos nas suas diferentes condições, mas sobretudo proteger os locais. Respeitar e proteger as condições de vida dos locais é mante-los e preservar a nossa identidade, A NOSSA AUTENTICIDADE, que por sua vez é a galinha dos ovos de ouro, do turismo, que atrai os visitantes e os investidores estrangeiros. “ A razão para que as pessoas viajam, e eu não me canso de repetir isto, é porque querem ter uma experiência que não podem ter perto de casa. Eles querem alguma coisa diferente. Se as pessoas vêm cá para ver coisas que já não existem, vão deixar de vir. Receber bem as pessoas não é só aumentar o número de camas disponíveis. É dar alguma coisa diferente, é criar uma marca. ” Doug Lansky, jornalista de viagens e especialista em turismo Até porque se pensarmos numa outra lógica: "As pessoas que se deslocam para visitar familiares ou amigos têm um maior impacto na economia do país anfitrião do que aquelas que simplesmente ficam nos hotéis e acabam por poupar muito porque já gastaram no hotel. Se ficarmos com um amigo poupamos no alojamento e temos mais dinheiro disponível para ir às compras, por exemplo, ou para fazer uma viagem à volta da cidade principal e também acabamos por ir a restaurantes mais pequenos, familiares, que esses amigos conhecem" Doug Lansky Neste sentido é com satisfação que ouço a Câmara Municipal de Olhão pela voz do seu reeleito presidente, António Pina, dizer que vai investir 1 milhão de euros a adquirir para recuperar, casas devolutas em dois dos mais emblemáticos e originários bairros da cidade, Barreta e Levante, posteriormente colocando-as à disposição para compra ou aluguer por casais jovens que residam no municípios há mais de 10 anos. Que se replique. Que não se fique só por estas, que não se fique só por Olhão, que não se fique só pelos casais jovens, que não se fique... “Só há liberdade a sério quando houver A paz, o pão habitação saúde, educação Só há liberdade a sério quando houver Liberdade de mudar e decidir quando pertencer ao povo o que o povo produzir quando pertencer ao povo o que o povo produzir” Liberdade, Sérgio Godinho
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