Por Bruno Inácio Hoje é dia 25 de Abril. Data fundamental da história de Portugal. Existe um antes e um depois do 25 de Abril de 1974 e claramente o depois é melhor que o antes. Não quero deter este texto num conjunto de frases feitas que ouvimos muitas vezes por ocasião desta efeméride, não sei se vou conseguir, mas vou tentar.
No scroll que o meu polegar (e as vezes o indicador) vai fazendo pelas redes sociais encontrei um post do Professor António Branco, ex-reitor da Universidade do Algarve, que chamava a atenção para uma citação de Mussolini encontrada num recente livro de Madeleine Albright, intitulado “Fascism: A Warning”. O ditador, Mussulini, terá dito o seguinte: “Se depenarmos uma galinha pena a pena, ninguém dará conta.”. Esta frase é de uma força, de uma brutalidade e, infelizmente, de uma actualidade incrível. Vivemos tempos que de tão acelerados que são, não nos permitem parar, olhar e pensar sobre o que se passa a nossa volta. A ansiedade do amanhã, a necessidade da inovação tornou-se um facto não passível de discussão. Todos temos que ser inovadores ou não existe lugar para nós no mundo moderno. Associada a esta efervescência de modernidade, somos inundados por dois grandes males: a intolerância e a ansiedade. O respeito pelo próximo deixou de ser uma pedra angular dos valores humanos para se tornar um acessório utilizado conforme dá mais jeito. Sobre esta frenética necessidade de fazermos tudo hoje, tudo bem feito hoje, tudo muito bem feito hoje, a superior escritora Lídia Jorge nos deixou um texto no Lugar ao Sul em Fevereiro do ano passado, intitulado "Algarve da Lentidão" Mussulini sabia do que falava. Sabia que a forma de eliminar a democracia e os contrapoderes era criar condições para que gradualmente eles fossem renegados pelo povo até surgir a “necessidade” de os eliminar. Hoje vivemos situações que nos devem obrigar a parar para pensar se a nossa democracia não estará a ser descascada camada por camada como uma cebola que vai perdendo a sua vitalidade. O exemplo mais paradigmático veio da rede social que surgiu como uma forma de dar voz popular aos invisíveis. A forma e força que o Facebook ganhou é de tal forma gigante que hoje é possível mentir (sim, mentir!) e milhares (ou milhões!?) de pessoas acreditarem nessa mentira por mais estapafúrdia que possa parecer. Veja-se este exemplo: no dia 01 de Abril, dia das mentiras, um português publicou um texto no facebook, com uma foto montagem, a informar que nas próximas semanas o nível da maré entre a Ilhas do Faial e a Ilha do Pico, no arquipélago dos Açores, atingiria uma cota mínima que permitiria uma travessia a pé entre ilhas. A publicação vai nas 10 mil partilhas e se algumas entenderam o gozo da coisa a verdade é que muitos comentários são de gente que efectivamente acreditou que seria possível percorrer 10kms no meio do oceano atlântico porque a maré iria baixar. Não nos admiremos pois que escândalos como o da Cambridge Analytica, que terá adquirido dados ao facebook para manipular a opinião pública norte-americana na eleição para a presidência do país e que o terá alegadamente feito em outros locais do globo, sejam cada vez mais recorrentes. Esta ameaça é real e tenho sérias dúvidas que sejamos passíveis de a travar. Acredito pois que a solução para este gigante problema não passará só por maior regulamentação mas acima de tudo por mais educação. Nos grandes momentos de crise a educação foi sempre a resposta mais eficaz. Deve ser esse o nosso foco: educarmos melhor para termos melhores cidadãos que sejam cada vez mais capazes de colocar em causa o que lêem e o que vêem. Apostar numa educação cada vez mais virada para a capacidade de formar opinião de forma correta, contrapondo o que por vezes parece óbvio, é essencial para garantir o que o 25 de Abril nos trouxe.
1 Comment
Gonçalo Duarte Gomes
26/4/2018 17:15:55
O exemplo que citas do poder das redes sociais é tanto mais dramático quanto o dia 1 de Abril até é o dia em que as pessoas, por força da efeméride, mais escrutinam os conteúdos que lhes são oferecidos, em busca da costumeira partida.
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