Lugar ao Sul
  • Sobre nós
  • Autores
  • Convidados
  • Personalidade do Ano a Sul
    • Personalidade de 2017
  • Contactos
  • Sobre nós
  • Autores
  • Convidados
  • Personalidade do Ano a Sul
    • Personalidade de 2017
  • Contactos

Bem-vindo

Pandemia, Saúde e Algarve

30/9/2020

3 Comentários

 
Por Maria Inês Simões (convidada deste Lugar ao Sul)

Num momento em que a Europa se confronta com o ressurgimento em força dos casos de COVID19 decidi convidar a Dr.ª Inês Simões, uma orgulhosa Algarvia, para nos dar a sua visão sobre o que esta pandemia pode significar para o nosso Serviço Nacional de Saúde, em particular na nossa região. Boas Leituras (Luís Coelho). 

Sobre a Maria Inês Simões:
. Assistente Hospitalar em Medicina Interna na Unidade Hospitalar de Portimão – Centro Hospitalar Universitário do Algarve, EPE., Hospital Lusíadas de Albufeira e Clínica Mediarade em Portimão
. Coordenadora médica da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do Barlavento
. Médica do Serviço de Helicópteros de Emergência Médica (SHEM) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM)
. Médica no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM
. Médica no Serviço de Medicina Hiperbárica do Hospital Particular de Alvor
. Docente afiliada na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa
. Docente convidada na Faculdade de Medicina da Universidade do Algarve
Ah, a Inês é uma grande Sportinguista!
Imagem

​Sou médica, por vocação. Sou algarvia, com orgulho e paixão. Condições estas que poderiam tornar mais fácil esta coisa de falar sobre pandemia, saúde e Algarve. Mas não. Na verdade, quando tento juntar estas três palavras, obrigo-me a assumir que muito antes da pandemia, a saúde já era catastrófica no Algarve.
 
Sou médica, como já disse. Fiz toda a minha formação em Lisboa e, por isso, durante 15 anos estive afastada da realidade do Algarve.
 
Cheguei à Unidade Hospitalar de Portimão, Centro Hospitalar Universitário do Algarve, no final de Outubro de 2018, praticamente na mesma altura em que as temperaturas começam a baixar e as típicas infecções respiratórias fazem aumentar a afluência aos serviços de urgência.
 
E porquê dizer isto quando o que se pretende é falar de pandemia? Pois é, é que falar de pandemia, saúde e Algarve sem antes contextualizar que os serviços já estavam sub-dimensionados e sub-preparados para o que é o normal e expectável todos os anos, ano após ano, é apenas demagogia. Falar de pandemia, saúde e Algarve sem referir as pessoas que todos os dias, dia após dia, se sujeitam a trabalhar em condições deploráveis e sem mencionar as pessoas que não se sentem valorizadas (e valem tanto!) ou as pessoas que não são reconhecidas (e merecem tanto!), é apenas hipocrisia. Falar de pandemia, saúde e Algarve sem antes dizer que os serviços já funcionavam com recursos humanos (muito) abaixo dos mínimos, que é cada vez mais difícil ‘vestir a camisola’ quando se exige tanto e oferece tão pouco, é ignorar o verdadeiro problema da saúde no Algarve. A culpa não é só da pandemia. A culpa não é da pandemia.
 
No Hospital de Portimão, no início de Março, foram definidas duas prioridades: a organização do serviço de urgência/Unidade de Cuidados Intensivos e a constituição de uma equipa dedicada à COVID-19, com o intuito de priorizar a segurança. Do doente e dos profissionais. Foram definidos circuitos e foi criado um serviço de internamento COVID-19.  Houve muita ajuda externa e destaco o contributo fundamental dos outros agentes de Protecção Civil (incluindo o Instituto Nacional de Emergência Médica que foi irrepreensível na adaptação de normas e procedimentos e em garantir a segurança dos seus profissionais), das Câmaras Municipais, de privados e anónimos. Volto a frisar as pessoas, aquelas que trabalham em circunstâncias miseráveis, todos os dias, dia após dia, nos hospitais, centros de saúde e outras instituições de saúde, que se dedicam de corpo, alma e coração para evitar aquilo que tenho mais medo, a total desumanização dos cuidados.
 
A saúdo no Algarve não é fácil. Nunca o foi. O Algarve fica sempre esquecido de Setembro até Julho. Falta gente, faltam incentivos, faltam condições dignas de trabalho. As pessoas estão exaustas, multiplicam-se entre tarefas cada vez mais cansativas e burocráticas. São constantemente agredidas, física, moral e emocionalmente. Mas são, somos, resilientes e continuamos a acreditar que esta capacidade de adaptação será recompensada. Exigimos mudar o destino da saúde no Algarve.
 
Na verdade, a saúde no Algarve em tempos de pandemia não me preocupa mais do que antes. Preocupa-me sim, e muito, o que será da ‘saúde’ do Algarve depois da pandemia. O que me inquieta é a consciência de que o Algarve, que vive predominantemente do turismo, entrou e está a afundar-se numa verdadeira crise económica e financeira; que os próximos meses serão de muito sacrifício para todos e que haverá muito mais pobreza, fome e doença.
 
Sou médica, por vocação. Sou algarvia, com orgulho e paixão. Quem me conhece sabe que sou uma sonhadora nata e optimista por natureza. Condições estas que tornam inevitavelmente mais fácil falar desta coisa de pandemia, saúde e Algarve. É tão mais simples juntar estas três palavras numa frase quando, tal como eu, somos muitos a trabalhar com doentes e pelos doentes, por vocação; e no Algarve, com orgulho e paixão.
 
E como eu acho que tudo tem, às vezes inacreditavelmente, um lado positivo, que esta coisa da pandemia nos permita olhar com orgulho, dignidade e respeito para os nossos profissionais; e que os próprios consigam perceber o seu real valor. Somos incríveis mas faltava-nos aprender uma coisa: resiliência não é sinónimo de resignação.
3 Comentários
Miguel
30/9/2020 14:25:27

Uma infeliz realidade, que, não será nunca resolvida sem Poder Reivindicativo, e esse poder, somente será atingido, munindo a Região de Representantes, e de instrumentos Legais capazes não só de dar voz, mas de Exigir legalmente, atenção às necessidades de uma região - Autonomia Regional - que é tratada como Colónia, e que francamente nada ganhou nunca, nem nada ganha, com fazer parte do "Reino de Portugal".

Responder
Antonio
1/10/2020 18:26:13

Sim sim, não prima pela simpatia essa sra dra nariz empinado, existe bem melhor no Barlavento para convidarem.

Responder
Miguel
2/10/2020 10:52:56

António, a arrogância é, infelizmente apanágio de indivíduos, e comum neste país tão hierarquicamente estruturado, assim, mais notório em algumas profissões que possam oferecer (seja lá o que isso seja) maior status, ou de forma mais simples, algum poder sobre os demais.

Tendo já experimentado, e, assertivamente "desafiado" muitos profissionais, sejam de saúde ou não, o facto é que no Algarve ser médico no serviço público não é de todo fácil, e a região está muito carenciada de investimentos no sector, o que contribuiu para a ineficácia e cansaço dos profissionais.
Quanto ao resto, quando confrontado com faltas de simpatia - compreensíveis mas nem por isso toleráveis em contexto profissional - é fazer valer os direitos e opinião, assertivamente.

Responder



Enviar uma resposta.

    Visite-nos no
    Imagem

    Categorias

    Todos
    Anabela Afonso
    Ana Gonçalves
    André Botelheiro
    Andreia Fidalgo
    Bruno Inácio
    Cristiano Cabrita
    Dália Paulo
    Dinis Faísca
    Filomena Sintra
    Gonçalo Duarte Gomes
    Hugo Barros
    Joana Cabrita Martins
    João Fernandes
    Luísa Salazar
    Luís Coelho
    Patrícia De Jesus Palma
    Paulo Patrocínio Reis
    Pedro Pimpatildeo
    Sara Fernandes
    Sara Luz
    Vanessa Nascimento

    Arquivo

    Junho 2020
    Maio 2020
    Abril 2020
    Março 2020
    Fevereiro 2020
    Janeiro 2020
    Dezembro 2019
    Novembro 2019
    Outubro 2019
    Setembro 2019
    Agosto 2019
    Julho 2019
    Junho 2019
    Maio 2019
    Abril 2019
    Março 2019
    Fevereiro 2019
    Janeiro 2019
    Dezembro 2018
    Novembro 2018
    Outubro 2018
    Setembro 2018
    Agosto 2018
    Julho 2018
    Junho 2018
    Maio 2018
    Abril 2018
    Março 2018
    Fevereiro 2018
    Janeiro 2018
    Dezembro 2017
    Novembro 2017
    Outubro 2017
    Setembro 2017
    Agosto 2017
    Julho 2017
    Junho 2017
    Maio 2017
    Abril 2017
    Março 2017
    Fevereiro 2017
    Janeiro 2017
    Dezembro 2016
    Novembro 2016
    Outubro 2016

    Feed RSS

    Parceiro
    Imagem
    Proudly powered by 
    Epopeia Brands™ |​ 
    Make It Happen

“Sou algarvio
​e a minha rua tem o mar ao fundo”
 

​(António Pereira, Poeta Algarvio)

​Powered by Epopeia Brands™ |​ Make It Happen