Por Dinis Faísca O que aconteceu no Brasil, foi um tsunami social. Após inúmeros tremores, surgiu o grande terremoto provocado essencialmente pela corrupção no âmago do poder, a insegurança generalizada e a profunda perda de credibilidade dos actores políticos. Depois de tão intenso e profundo abalo na casa da democracia, não se compreende a surpresa com o surgir do tsunami.
O que mais me impressiona é o colapso de todos os sistemas de alerta. Como é que com a quantidade e duração da actividade sísmica ninguém suspeitou, se preparou ou preveniu tal sucesso. O preocupante não é Jair Bolsonaro. O preocupante é a aparente perplexidade à volta da sua vitória. Como é que não fomos capazes de ler os sinais e antecipar a possibilidade e as consequências da mesma? Será que os tsunamis só acontecem no Brasil? É pouco provável. O natural é que este tipo de fenómenos suceda após forte abalo, com epicentro no mar, varrendo países à beira mar plantados. Estarão os nossos sistemas de alerta preparados para detectar algo que se pareça? Não sei, não sou especialista na matéria. O que sei é que o Algarve se situa numa região de intensa sismicidade histórica. Infelizmente a actividade sísmica é constante e andamos tão distraídos que não só não nos damos conta, como até já temos dificuldade em conceber a região sem ela. Num sistema democrático que já atingiu a ternura dos quarenta, era de esperar uma maior capacidade de proteger, cuidar, promover, desenvolver, redistribuir e respeitar. Que poderá a região esperar daqueles que elegeu, ou ajudou a eleger, com a esperança da concretização das inúmeras promessas que incorporavam a letra do canto da sereia e que posteriormente se comportam de forma corporativa, fazendo o contrário do compromisso assumido? Aqueles que no Algarve prometem maior investimento na saúde são os mesmos que em Lisboa votam orçamentos com reduções substanciais na saúde na nossa região. Os que prometem acabar com as deslocações a Lisboa para uma consulta de ortopedia ou de pedopsiquiatria (não irei elencar mais especialidades para não vos maçar), são os mesmos que aprovam orçamentos sem verbas para o Novo Hospital Central do Algarve, por não ser prioritário. Os que prometem melhorar as vias de comunicação e no mínimo reduzir o valor das portagens são os mesmos que votam orçamentos que não contemplam as obras de requalificação do troço Olhão – VRSA da EN 125 e prevêem a actualização do valor das portagens na Via do Infante. Os que defendem o uso dos transportes públicos são aqueles que se calam perante um Algarve sem uma rede rodoviária de transportes que nos permita deixar o carro em casa nas deslocações diárias para o trabalho. A via-férrea é defendida na região por aqueles que em Lisboa a votam ao abandono, “o comboio chega quando chega, se chegar”. Ao já referido, acrescem as senhas de ausência, as falsas moradas, as viagens fantasma e muitas outras coisas que revelem o nível ético e moral, de grande parte, daqueles que nos representam. São estas e tantas outras ondas sísmicas que debilitam o sistema democrático e anunciam algo mais profundo e intenso. Estes tempos anunciam outros em que as pessoas irão preferir aquele que diz as maiores barbaridades e porque são barbaridades dissonantes acreditam que finalmente alguém irá cumprir o que diz. A coerência irá sobrepor-se à substância. A decisão será entre a coerência conhecida e a substância incerta. Por norma, gostamos de saber com o que podemos contar. Aqueles que só nos conhecem e defendem de 4 em 4 anos, por muita substância que tenham, estão a provocar o afastamento das populações da política e a criar as condições propícias à formação de um tsunami. Espero que o SIRESP esteja à altura dos acontecimentos, mas não acredito nesse milagre, ainda que me considere um homem de fé
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