Por Bruno Inácio O Rei, a família real e a corte passavam muito tempo sem vir ao Algarve. E muito tempo naquele tempo não eram semanas ou meses. Eram anos, eram décadas. Uma das rotas mais populares para fazer a ligação de Lisboa ao Algarve era atravessar o Alentejo até as Minas de São Domingos, rumar a Mértola e de lá descer o rio Guadiana até Vila Real de Santo António. Era perigoso atravessar o Caldeirão. Havia por lá muitos larápios.
Quando, numa viagem inóspita, o Rei descia até ao Algarve lá se faziam uns arranjos, umas pinturas, uns melhoramentos muito depressa. Apesar da nossa antiga aliança, não era para inglês ver, neste caso era mesmo para o Rei ver. Os três últimos parágrafos que relatam episódios da história do Algarve são pequenos apontamentos que trouxe de memória de um encontro que participei da Plataforma 3C – Cidadania, Cultura e Conhecimento, onde o Diretor do Museu Municipal de Faro, Marco Lopes, nos presenteou com uma interessantíssima intervenção sobre a história contemporânea do Algarve. O que me prendeu a estes e outros episódios é o cruel paralelo que podemos estabelecer para os dias de hoje. Hoje já não temos Rei, família real e corte mas temos governantes. Hoje, como antes, quando a “corte” desce ao Sul, também se fazem uns melhoramentos muito depressa ou melhor dizendo, lá se apresentam uns projetos para futuro para agradar o povo. Refiro-me a todos no geral e nenhum em particular. Hoje, como antes, a região é pouco importante para a “corte” lisboeta, mas o que mais me salta a vista é que apesar de todas as melhorias que foram feitas em meios de comunicação no último século, antes como hoje, os transportes continuam a ser um problema. Hoje já não é necessário ir apanhar um barco a Mértola e chegar de Lisboa ao Algarve é bastante simples. O problema começa ai, quando se chega. Como fazer para percorrer a região? Quem tenta, entra num desafio com tristes paralelismos ao século XIX. Se hoje cá chegasse novamente o Rei D. Carlos e a Rainha D. Amélia não ficariam muito surpreendidos com a nossa linha férrea. E isso só pode ser má notícia.
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