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Bem-vindo

O protesto dos esquecidos em 3 mapas

25/1/2021

6 Comentários

 
Por Gonçalo Duarte Gomes

Há precisamente uma semana, falava (aqui) da possibilidade de uma revolta dos esquecidos. ​

Umas eleições presidenciais volvidas, verificou-se que em vez de insurreição, houve apenas um protesto dos esquecidos.

Para evitar desde já o costumeiro discurso de ódio ou os axiomas de superioridade moral, apresento uma declaração de interesses: votei em branco nestas eleições, após ter votado em Marcelo Rebelo de Sousa há 5 anos. Optei pelo voto consciente – não me vendo representado em nenhum dos candidatos – em vez do útil – a proverbial escolha do mal menor – tema que, ainda assim confesso, me suscita sempre grande debate interno.

Marcelo Rebelo de Sousa, conforme esperado, ganhou inequivocamente, à primeira volta, e com reforço de votação (venceu em todos os concelhos do País), as eleições presidenciais. A vitória da personificação da moderação – muitas vezes para lá do aceitável – e do bloco central representa, acima de qualquer dúvida, o prevalecer da normalidade democrática. Mais ainda quando, em segundo lugar, ficou uma candidata cujo lastro político é o de um envolvimento profundo nas dinâmicas e representações partidárias de uma estrutura responsável por cerca de 70% do tempo de governação em democracia. Ambos os candidatos agregaram praticamente ¾ dos votos depositados em urna, demonstrando a solidez do status quo político.

Não fosse a brutal abstenção, poder-se-ia assim dizer que o nosso sistema político está de muito boa saúde.

Mas nem é esse pequeno grande pormenor (que nesta eleição teve várias condicionantes extraordinárias) o que concentra as análises desta ressaca eleitoral.

André Ventura, candidato populista, terceiro classificado na geral, ficou em segundo lugar em 11 (ou 12) dos 18 distritos nacionais, sendo Faro um deles.

Veja-se este mapa ilustrativo da votação de André Ventura no território continental:
Imagem
Votação do candidato André Ventura em Portugal Continental (Fonte: Observador)
​
Agora vejam-se estes dois mapas, constantes do Programa Nacional da Política do Ordenamento do Território (PNPOT, aprovado pela Lei n.º 99/2019, de 5 de Setembro):
​
Imagem
Fonte: PNPOT

Para melhor clarificação, as vulnerabilidades ilustradas no mapa da esquerda prendem-se maioritariamente com desemprego, envelhecimento, precariedade social e dependência, enquanto que os serviços de interesse geral, à direita, são as actividades, comerciais ou não, sujeitas a obrigações específicas de serviço público e/ou de soberania (serviços de saúde, escolaridade obrigatória, serviços de emprego e formação, habitação social, infantários, cuidados de longa duração, serviços de assistência social, transportes públicos, segurança, justiça, energia, comunicações, etc.). Os serviços mínimos da dignidade, se quisermos.

Naturalmente, a realidade do País não se esgota nestes dois mapas (que não reflectem ainda as dramáticas realidades introduzidas pela pandemia), e muitos outros se poderiam acrescentar. Mas todos revelarão mais ou menos as mesmas assimetrias e o défice de coesão territorial de Portugal, que se reflecte na sua população.  

Podemos acreditar muito em coincidências. Ou podemos, perante factos que nos suscitam preocupação, tentar encontrar as suas causas, em vez de nos entretermos a maldizer a espuma dos sintomas.

O crescimento do populismo, que encontra nestas eleições uma expressão democrática significativa, aparenta ser uma forma de comunicação às oligarquias por parte das bases, dos esquecidos, dos que estão nos extremos errados das assimetrias, desesperados que estão perante o falhanço de todos os outros canais e o ensurdecedor silêncio em resposta aos seus problemas, a par da total degradação ética do regime.

O status quo é livre de fazer o que faz melhor, desvalorizando tal facto, menorizando os votantes de que discorda, de os apelidar de estúpidos, fascistas, ignorantes, tudo e mais alguma coisa – incluindo sugerir, num espírito profundamente democrático, que nem todos deveriam poder votar, quase ao estilo das centúrias eleitorais romanas.

Ou pode optar por experimentar algo diferente, e escutar.
6 Comentários
Miguel
25/1/2021 13:13:57

Concordo em absoluto e digo-o muitas vezes, o Ventura - e os Venturas desta vida - não crescem com agua e sol, crescem porque as aspirações de sectores significativos da população, não são tidas em conta,e enquanto os partidos se centrarem no "combate à extrema direita" com os mesmos jargões e fantasmas ideológicos que quase nada dizem à maioria da população, estão a largar ainda mais lenha nessa fogueira.

Pessoalmente acho até que André Ventura tem muitos filões por explorar - se começar a pegar nos brasileiros, nos trabalhadores asiáticos agrícolas, nos estrangeiros que compram vivendas no campo - e se tivesse um programa um pouco mais polido no que diz respeito ao Estado Social (SNS só para portugueses) ui onde ia já ele - e agora sinto-me mal por lhe ter dado ideias -

Responder
Gonçalo Duarte Gomes
25/1/2021 14:25:05

O André Ventura só é perigoso pelo espaço que pode abrir e conquistar para alguém que venha a seguir, já com outra profundidade ideológica.
Para já, esta personagem é só um dissidente do sistema que tanto critica, não porque tenha deixado de nele acreditar, mas porque não lhe dava o que ele acha que merece. Daí ter resolvido fazer-se à vida, em busca do seu. Uma vez que o obtenha, cala-se e volta à condição original.
O problema é realmente o que pode crescer nas fendas que, já existindo na base democrática do regime, ele explorou. A melhor forma de o impedir não estar constantemente a capinar ervas daninhas mas sim, precisamente, retirar-lhes os nutrientes de que necessitam para vingar.
Para isso, há que tirar a cabeça da areia.

Responder
salvador santos
25/1/2021 18:14:18

boa análise. faltará avaliar, também, as razões da inclinação para o «populismo» de muitos privilegiados. Esse mapa também importa.

Responder
Gonçalo Duarte Gomes
25/1/2021 18:21:11

Bem verdade, Salvador. Mas temo que esse será em tons de cinzento. Talvez cinzento neblina, para esconder o preto e branco de um tabuleiro de xadrez.
Provavelmente à mesma distância da geografia.

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Nelson Mendes
25/1/2021 20:11:25

Mas não foi o mais populista dos candidatos foi quem ganhou? Para um Pais em certos Direitos Humanos básicos como cuidados de Saúde minimos e a Justiça em tempo aceitável não existem para o cidadão normal quando alguém diz umas alarvidades as pessoas querem acreditar. Claro que acho estranho um funcionário público em situação de licença-sem-vencimento ser o candidato contra o sistema eheh

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Gonçalo Duarte Gomes
26/1/2021 11:31:10

Nelson, compreendo o que diz.
Aliás, a minha dissidência de voto relativamente a Marcelo prende-se exactamente com isso. O Presidente não deve ser foco de instabilidade, nem governo-sombra, mas também não deve ser acéfalo relativamente à governação do País (dizer investigue-se não chega), ainda para mais quando há sinais gritantes da quebra de princípios basilares do Estado de Direito, como por exemplo a separação de poderes. E, podendo e devendo ser popular, não deve ser popularucho, sob pena de, precisamente, redundar em populismos.
Ainda assim, parece-me que há claras fronteiras entre os diferentes tipos de populismo que cada um dos candidatos trouxe a estas eleições.

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