Por Pedro Pimpão & Filomena Sintra Um poema intemporal, a comemorar uma feliz efeméride, 19 de dezembro de 1924, data do nascimento de um importante poeta do movimento surrealista em Portugal, Alexandre O’ Neill. Hoje, 19 de dezembro, data em que o Homem reescreve nas notícias, o poema do medo, vivido lá fora das nossas casas, bem longe do nosso quotidiano, mas que à escala deste mundo louco, é um medo que partilhamos. O Poema Pouco Original do Medo O medo vai ter tudo pernas ambulâncias e o luxo blindado de alguns automóveis Vai ter olhos onde ninguém o veja mãozinhas cautelosas enredos quase inocentes ouvidos não só nas paredes mas também no chão no teto no murmúrio dos esgotos e talvez até (cautela!) ouvidos nos teus ouvidos O medo vai ter tudo fantasmas na ópera sessões contínuas de espiritismo milagres cortejos frases corajosas meninas exemplares seguras casas de penhor maliciosas casas de passe conferências várias congressos muitos ótimos empregos poemas originais e poemas como este projetos altamente porcos heróis (o medo vai ter heróis!) costureiras reais e irreais operários (assim assim) escriturários (muitos) intelectuais (o que se sabe) a tua voz talvez talvez a minha com a certeza a deles Vai ter capitais países suspeitas como toda a gente muitíssimos amigos beijos namorados esverdeados amantes silenciosos ardentes e angustiados Ah o medo vai ter tudo tudo (Penso no que o medo vai ter e tenho medo que é justamente o que o medo quer) O medo vai ter tudo quase tudo e cada um por seu caminho havemos todos de chegar quase todos a ratos Alexandre O'Neill, in 'Abandono Vigiado'
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