Por André Botelheiro
Entrámos em junho, mês de início do verão e o nosso lugar ao sul entra na fase mais intensa da sua principal atividade económica. Todos os que vivem no Algarve, de forma mais ou menos permanente, conhecem bem o que esta altura do ano significa. Sou dos que defendem e desejam que as nossas vidas, de residentes, quanto mais “afetadas” forem, melhor. Sinal que o verão turístico correu bem, com inegáveis ganhos, diretos ou indiretos, para todos. Mas não é sobre o verão que quero escrever, começa o verão e apetece-me escrever sobre o inverno. Não por um qualquer saudosismo bucólico ou por ser de termóstato sensível ao esquentamento estival, mas porque o inverno algarvio merece mais respeito, sendo um desperdício a forma como usamos a marca Algarve no inverno. A consabida sazonalidade turística da região é agravada por um falso demérito do inverno algarvio no imaginário dos que nos visitam. Não quero com isto dizer que o nosso verão não tenha mérito próprio, tem e em excesso. Mas o desaproveitamento crónico com que a marca Algarve, desde os primórdios do turismo algarvio, tem lidado com a época menos quente do ano, muito tem vindo a contribuir para este pesado período de vazio no sector e, por arrasto, em todos os correlacionados. É verdade que surgiram novas áreas mais segmentadas, como o turismo de natureza, de saúde, desportivo, ecoturismo, enoturismo, académico/científico, entre outros, cuja capacidade de atração fora da dita época alta já é uma realidade. É também verdade que os animadores e crescentes números da dita época baixa, nos últimos anos, têm mitigado esse fosso, mas não chegam, a diferença entre uma e outra fase do ano é por demais evidente. Para contrariar esse abandono a que ao longo de décadas o inverno tem sido votado no imaginário coletivo, temos vários argumentos de peso. Começando pelo registo das médias climatológicas dos meses de inverno do Algarve que se aproximam dos valores médios do verão da maior parte dos principais países emissores de turistas para o Algarve. Por exemplo: Em Londres ou em Berlim a temperatura média no mês mais quente do ano, julho, é de 19 °C, mas a temperatura mais baixa de todo o ano é em janeiro com uma média de 5 °C e de -1 Cº, respetivamente. Até a acalorada Paris, que em julho tem uma temperatura média a rondar os 20 °C, durante o mês de janeiro tem uma temperatura média de 3 °C. Ora Faro, que no mês de julho tem uma temperatura média de 24 °C, tem no mês mais frio do ano, janeiro, uma temperatura média de 12 °C. Não é, por isso, um lugar-comum afirmar que o nosso clima temperado é uma mais-valia. Os restantes argumentos são os mesmos que validam a época alta do turismo: boa hotelaria, restauração, património, paisagens, praias (sim, praia no inverno!), cultura, acessibilidades, desporto, natureza, segurança, preço, etc., etc., etc. Se olharmos para o turismo como um produto e pensarmos que o verão é um segmento que se aproxima da sobreexploração e, por oposição, o inverno é o segmento com maior potencial na margem de crescimento, qual a decisão a tomar? Imaginemos que se usavam os mesmos meios e recursos, que habitualmente se usam para comunicar e promover o verão algarvio, mas desta feita para “vender” o inverno algarvio. Façamos um exercício ainda mais radical, imaginemos que para promover o verão, deixávamos de o comunicar e a aposta se centrava só no inverno. É que quando enaltecemos o nosso inverno, inerentemente está lá o nosso verão. Podíamos, simplesmente, passar a dizer-lhes que: “o nosso inverno é o vosso melhor verão”!
1 Comment
9/6/2017 11:58:04
abraço de sff, quando poderem, respondam ao mail que enviei.
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