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Bem-vindo

O jerrican paradoxal

16/8/2019

1 Comentário

 
Por Gonçalo Duarte Gomes

As sequelas dos filmes são sempre piores que as películas originais. Isto é sabido.

Os dias que vivemos confirmam esse aforismo empírico, e a segunda abordagem tuga de 2019 ao universo cinematográfico do Mad Max está longe do brilhantismo da primeira (ver aqui).

Seja como for, a greve em curso empalidece face a uma outra que decorre em paralelo, e à qual não dispensamos uma porção infinitesimal da atenção: a do S. Pedro.

Nesta greve, como na outra, e como sempre, o Algarve é a região mais penalizada. Mas, neste caso, com culpas no cartório.
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Seja porque esta segunda incursão dos motoristas de transporte de substâncias perigosas ao mundo das greves fora da esfera de interesse do Governo foi alvo de uma regulamentação musculada, incluindo a curiosa arregimentação de profissionais das forças de segurança e militares para suprir as lacunas criadas pelos grevistas, seja porque as pessoas se prepararam melhor, quer mental quer logisticamente, para a escassez de octanas, a coisa perde em toda a linha para a primeira versão.

Apenas uma coisa se mantém: a capacidade que umas meras centenas de profissionais conseguem ter sobre a dinâmica de um País. Pode ser que na ressaca de tudo, se perceba afinal quem – se alguém, ou até mesmo ninguém – tem razão no braço-de-ferro entre patrões, sindicatos e trabalhadores (gosto sempre de lembrar que os interesses dos segundos e dos terceiros nem sempre coincidem), e se afinal isto é um sector de actividade sobre o qual seja interessante haver um maior controlo estatal, pelo menos de forma a assegurar o fornecimento estratégico de serviços e actividades nucleares para a sociedade (serviços de saúde, emergência, autoridades, etc.). Ou então talvez não, e talvez a coisa se salde por umas costumeiras e inconsequentes águas de bacalhau. Até à próxima.

Entretanto, nós no Algarve, vivemos com o coração nas mãos, face à incerteza das barcaças que carregam botox e silicone se conseguirem abastecer em Vilamoura, ou se as hordas de acólitos do GPS se podem arrastar de um lado para o outro nas frotas de rent-a-car e afins, pois o Turismo é o que mais interessa. Em boa verdade, a Ele devemos ser gratos, pois coincidisse a greve com período em que o País não resvalasse latitude abaixo, em direcção a este nosso desterro, e provavelmente teríamos ainda menos pontos incluídos na Rede Estratégica de Postos de Abastecimento (a tal rede onde a exclusão do concelho de São Brás de Alportel, fundamental no desenho de uma outra rede, a de prevenção e combate a incêndios rurais, mostra bem as prioridades...).

E não, não vou bater na velha tecla das deficiências estruturais e processuais, em termos de cadeias de abastecimento e distribuição, nem na da debilidade e fragilidade da mobilidade no Algarve, assente exclusivamente no transporte rodoviário e individual. Principalmente porque quem corre por gosto não cansa.

De qualquer forma, que bom seria que as pessoas se preocupassem tanto com a falta de água como com a falta de combustível, e que, de igual forma, se precavessem contra gastos supérfluos de um recurso fundamental em quadro de escassez. É certo que sem gasosa no bólide, principalmente no Algarve, nada se faz. Mas sem água, faz-se ainda menos, incluindo aquela coisa que se chama viver, ou lá o que é...

As disponibilidades hídricas no Algarve são limitadas. Não apenas devido à precipitação total, mas também, e fundamentalmente, devido à sua distribuição (concentrada em poucos e curtos períodos no ano), que dificultam sobremaneira o seu armazenamento e aproveitamento.

Isto não é de hoje, nem de ontem, mas com o aumento das captações, das extracções, dos consumos, e o efeito das alterações climáticas quer nos períodos de Inverno, quer de Verão (as estações intermédias estão mais ou menos pulverizadas), o cenário é de agravamento de uma situação já de si delicada.

Vai um exemplo?

​O Palmer Drought Severity Index (PDSI) é um índice utilizado para monitorizar o estado de seca no território nacional, combinando os efeitos de temperatura, precipitação e capacidade de água disponível no solo. Actualmente, e de acordo com esse índice, calculado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera para Portugal, em Julho o Algarve encontrava-se já em seca extrema, o estado mais grave.
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​Um dos reflexos desta condição é a escassa disponibilidade hídrica no solo, que lhe confere a capacidade para suportar vida, e que assegura a função vital da água na paisagem. Também de acordo com dados do IPMA, à data de início da greve dos camionistas de matérias perigosas, também esse indicador estava bem mirrado no Algarve.
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Note-se que o problema aqui não é o facto destes dois indicadores estarem neste ponto, mas o facto de, com cada vez maior frequência, virem parar a este ponto.

​Mas quanto a isto, pouco se fala, e o Algarve mantém uma atitude displicente perante os recursos hídricos (ver aqui). Os gastos e perdas de água são em regime de fartar-vilanagem, as campanhas de sensibilização pedem “pingos” de consciência em vez que exigirem baldes da mesma, sonha-se com iniciativas que vão esgotar ainda mais os aquíferos, como praias serranas, entre muitos outros devaneios.

Se perante a escassez de combustíveis já mergulhamos em cenários de “civismo” que fazem lembrar uma versão adulta d’O Senhor das Moscas, de William Golding, o que acontecerá quando o fundo destes outros reservatórios se vislumbrar, e sem haver jerricans que nos valham?

Entre greves, rentrée futebolística e sunsets, talvez valesse a pena pensar nisso.

​Ou não.
1 Comentário
Miguel
19/8/2019 14:47:20

O não pensar nisso sendo exercício que o comum cidadão faz quase diariamente - e que vivendo no Algarve é necessário para manter a sanidade mental - é exemplarmente cumprido pelos dirigentes de além e aquém Tejo, logo se vê, amanhã é outro dia, os campos de golfe estão verdes e as piscinas cheias, e resta sempre a praia, clama o Estado Central e acenam de forma copiosa os responsáveis locais .
Subscrevo na integra o seu texto Gonçalo, não sendo "serrano" habitei, tenho familiares e conheço muito bem aquela zona geo-morfologica entre o barrocal e serra e as mesmas zonas em si mesmas.
Pese o seu abandono e processo de desertificação em curso agudizado pelos factores que referiu, não consigo deixar de me espantar com a resistência da fauna e flora locais desde o pomar de sequeiro até às pobres serranias, tão carentes que estão de maior quantidade e sobretudo diversidade de espécies vegetais que por motivos de ordem económica foram substituídas e nunca mais plantadas, ainda existem recantos com freixos, com carvalhos cerquinhos, com amieiros e outras espécies que deveriam ser lugar comum a par de sobreiros e pinheiros.
A questão da agua no Algarve coloca sérias questões sendo uma delas curiosa pelas implicações que apresenta; é que se bem sabemos que a sua carência presente e futura se deve a desperdício, a falta de medidas de reciclagem, captação e preservação (florestação como uma dessas) seja no solo seja em reservatórios, a verdade é que com o fluxo de turismo e estruturas de apoio ao mesmo, será extremamente difícil manter este modelo económico sem recorrer a medidas draconianas como dessalinização com os custos económicos e ambientais que acarreta.
Duvido que os poderes instituídos deixassem cair o turismo como cereja no topo do bolo económico que se pretende para Portugal: PSBQ - Precarizado, Sazonal, Baixas Qualificações - como visão neo-lusotropicalista competitiva do lugar de PT no seio dos parceiros Europeus, ou na gíria popular "não dá para mais".
A praia fluvial de S.Brás que refere é um atentado ambiental que vai a par com a construção de uma nova zona industrial havendo já lugares no Concelho que podiam ter sido escolhidos; disse em tempos que temia embora com um certo à vontade que o modelo do litoral fosse importado pelo Sul, achei que estava a ser exagerado, infelizmente não, ai está ele pronto a destruir o Algarve que ainda resta, perante o eterno deslumbramento tuga - que merece aprofundados estudos de Psicologia Social, um misto de complexo de inferioridade com ambição ignorante entre outras - valham-nos os jerricans que para além de gota também servem para agua, Faro que o diga com as constantes rupturas de condutas e pessoas a serem abastecidas por bombeiros; quiçá uma visão de um Futuro próximo regional, nos entretantos agonizam aqueles que perante a inércia e sobretudo impotência própria advinham o futuro lido nos modelos de avaliação de risco, e nos pareceres científicos, certamente com a mesma validade dos de cartomantes, desculpe este é um tema que de me dá uma azia descomunal, vou só ali à farmácia mais próxima...

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