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Bem-vindo

O curioso mercado de trabalho Algarvio

14/3/2017

1 Comment

 
Por Luís Coelho
 
Tenho o hábito de passar algum tempo a ler as notícias publicadas pelos órgãos de comunicação social regionais na minha tarde de Domingo. Esta semana notei que vários deram destaque ao tema do recrutamento de recursos humanos, algo que associei ao facto de nos estarmos a aproximar da época estival. Vai daí, decidi explorar o tema e tentar perceber um pouco melhor a realidade do nosso mercado de trabalho. As linhas seguintes resumem as minhas principais conclusões.
​São várias as empresas que estão neste momento a recrutar na região. Como seria de esperar, a esmagadora maioria das ofertas são na área do turismo (hotelaria, restauração, empresas de transportes, etc.) e dirigidas a pessoal indiferenciado. Em geral, as ofertas que consegui visualizar (seja nos sites das empresas ou nos portais especializados) não anunciam o valor das remunerações que estão em causa. Ainda assim, a esmagadora maioria é explícita num ponto: o que se oferece é um contrato de trabalho a termo. Confesso que não me surpreendi com o padrão revelado pela minha procura. No entanto, fiquei ainda mais interessado no tema e por isso decidi consultar dados oficiais para perceber melhor do que estamos a falar.
 
A principal fonte de dados a que recorri é o Anuário Regional para o Algarve, produzido pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), cuja última edição disponível diz respeito ao ano de 2015. Segundo o INE, em 2015, existiam 221.7 mil pessoas activas (i.e. empregadas ou desempregadas) no Algarve. Destas, 193.9 mil tinham emprego (ver página 118 do Anuário), o que coloca a taxa de desemprego na região nos 12.5%. Os dados revelam ainda que no Algarve 154.5 mil pessoas trabalhavam por conta de outrem (i.e., 79.7% do total de pessoas com emprego na região). Destas, 108.2 mil gozavam de um contrato de trabalho sem termo (i.e. 70.0%). Os valores comparáveis para Portugal Continental (excluindo o Algarve) são algo diferentes. Em particular, em 2015, existiam 4.7 milhões de pessoas activas, das quais 4.1 milhões com emprego (taxa de desemprego a rondar os 12.8%). Das pessoas com emprego, 83.0% trabalhavam por conta de outrem e destas 78% usufruíam de um contrato sem termo. A mesma fonte revela também uma diferença bastante acentuada na tipologia de trabalhador disponível no Algarve face ao resto do país. Em particular, em 2015, existiam 45 mil pessoas com diploma do ensino superior na região (20.2% do total dos activos). Já a soma dos que (apenas) terminaram o primeiro e segundo ciclo ronda os 53.8 mil. Desta forma, nesse ano, existiam 1.19 trabalhadores academicamente pouco qualificados por cada diplomado do ensino superior no Algarve. Já em Portugal Continental (sem o Algarve) o valor comparável é de 1.09, com os diplomados do ensino superior a representarem cerca de 28% do total da população activa. As diferenças continuam e acentuam-se quando consideramos o sector onde as pessoas desenvolvem a sua actividade profissional. Em particular, 21.8% da força de trabalho algarvia concentra-se em empresas com Código de Actividade Económica (segundo a classificação Rev-3) relativo ao sector do alojamento, restauração e similares ou Transportes e armazenagem; já o valor comparável para Portugal Continental (excluindo o Algarve) é de apenas 8.8%.
 
Uma nota adicional para posições disponíveis no mercado de trabalho e remunerações. Dados disponíveis na página 117 do documento acima mencionado revelam que 60.4 mil pessoas com emprego no Algarve desempenhavam tarefas com algum nível de diferenciação. Estou a falar de lugares de especialista das atividades intelectuais e científicas, técnicos e profissionais de nível intermédio ou representantes do poder legislativo, dirigentes, directores, gestores ou executivos. Paralelamente, 32.7 mil pessoas ocupavam posições no mercado de trabalho que o INE considera como sendo totalmente não qualificadas. Desta forma, poder-se-á dizer que em cada 10 empregos na região, 3 requerem algum tipo de qualificação especial enquanto que 1.6 dos mesmos pode ser desempenhado por qualquer pessoa. Quando olhamos para o panorama nacional (excluindo o Algarve) nota-se que cerca de 36.8% do emprego é qualificado e apenas 10.4% diz respeito a tarefas não qualificadas. Esta diferença tem uma consequência importante ao nível dos rendimentos. Em particular, na página 127 do Anuário supra mencionado, podemos verificar que o ganho médio mensal de um trabalhador por conta de outrem em Portugal Continental é de 1093 euros. Em comparação, no Algarve temos 927 euros, o que resulta numa diferença pela negativa de 165 euros/mês. É também muito curioso notar como é que este padrão varia com o grau de diferenciação do emprego. De facto, um especialista das atividades intelectuais e científicas ganha menos 343 euros em média se estiver baseado no Algarve. Já o rombo no orçamento mensal de um técnico de nível intermédio é de apenas 183 euros. Curiosamente, quando falamos de trabalhadores indiferenciados, os valores mostram que no Algarve se ganha, em média, mais 7 euros do que no resto do país (687.98 euros vs. 681.09).
 
O que podemos então retirar das linhas acima? Parece-me razoável concluir que os dados oficiais sugerem que a região oferece trabalho indiferenciado a mais e trabalho qualificado a menos face àquele que é o padrão em Portugal. Adicionalmente, a estrutura remuneratória da região parece ser peculiar. Se em média trabalhar no Algarve é menos interessante do que fazê-lo noutra região do País, também é verdade que tal se torna mais dramático quando se consideram posições laborais que, à partida, requerem pessoal mais qualificado.  O padrão de especialização económica que caracteriza a economia do Algarve pode, pelo menos em parte, explicar o que encontrei. Outras explicações e leituras são, também, possíveis. No entanto, penso que é importante perceber melhor os fundamentos e dinâmica do nosso mercado de trabalho e reflectir seriamente sobre se é esta a região que queremos para nós e para os nossos filhos.  
1 Comment
Conceição Branco
14/3/2017 22:13:52

As estatísticas oficiais não consideram, creio eu, questões como a sazonalidade que afectam de forma expressiva o mercado trabalho no Algarve. Fazem-no nos comentários ou nas análises e não na fórmula estatística de tratar os resultados. Como me referia há uns tempos um inspector da Autoridade para as Condições de Trabalho, no Algarve não são só os trabalhadores que são a termo. As empresas também.

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