A Comissão Europeia (CE) acaba de divulgar as suas previsões económicas de inverno. O documento que agora vem a lume revê em alta a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) Português em 2016 para os 1.3% (em Novembro esta era de apenas de 0.9%), reconhecendo ainda que o deficit público no ano passado deverá ficar perto dos 2.3% do PIB. Cumulativamente, a CE afirma que é expectável que o PIB nacional cresça 1.6% em 2017, valor que representa também uma melhoria face à última estimativa conhecida (1.2%). São ainda de destacar as declarações de Pierre Moscovici, comissário europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros, Fiscalidade e União Aduaneira sobre esta matéria. Em particular, quando questionado pelos jornalistas, Moscovici afirmou que "são visíveis os progressos feitos por Portugal", algo que fica sempre bem a quem é responsável pela gestão dos macro-problemas europeus. A primeira entrada deste post liga bem com o que escrevi neste espaço na semana que passou. De facto, à data, lavrava a minha preocupação/frustração/indisposição para com a forma como alguns dos ditos players internacionais tratam sistematicamente o nosso País. Neste sentido, é para mim importante verificar que o Centro do Poder europeu decidiu reconhecer formalmente aquele que é o resultado do esforço colectivo do povo Luso nos últimos tempos. No entanto, a minha reflexão desta semana prende-se com o impacto do turismo sobre a dinâmica económica nacional, tendo por pano de fundo o documento da CE a que aludo no início do texto. Para ser mais preciso, Bruxelas diz claramente que o crescimento em 2016 é o resultado do desempenho da nossa economia na segunda metade do ano, mencionando que para tal muito contribuiu o sector do turismo (e, já agora, o consumo privado e as exportações). Uma procura rápida sugere que os dados finais sobre este importante sector para 2016 ainda não são conhecidos. No entanto, o que está disponível no site do Instituto Nacional de Estatística mostra que mais de 8.5 milhões de pessoas visitaram o nosso país no primeiro semestre do ano passado. Esta cifra é algo de nunca visto por estas bandas (notem que o crescimento homólogo anda na casa dos 10.2%!) e revela bem a pujança do sector. É também de notar que os dados mostram que desde há quatro anos a esta parte o número de turistas que visitam o nosso País não para de aumentar.
Estaremos pois no bom caminho? Em texto publicado a sul, a propósito do tema Segurança no Algarve, o meu colega de pena João Fernandes parece sugerir que sim. Na sua reflexão, o João elenca (e bem) um conjunto de características que tornam o Algarve (e o nosso País, diria eu) único: oferta turística de qualidade, o clima e outros recursos naturais e o ambiente pacífico que nos caracteriza. Concordo que todos estes aspectos favorecem a consolidação de um fluxo muito interessante de turistas, o qual pode ser utilizado como um dos vectores fundamentais do nosso crescimento económico. Importaria, no entanto, pensar em pelo menos dois aspectos relevantes. O primeiro é o da continuação da promoção do destino Portugal junto dos mercados tradicionais e o alargamento da prospecção de novas oportunidades de negócio. Em particular, preocupa-me a possibilidade de sermos vítimas do nosso próprio sucesso. Quero com isto dizer que a realidade que temos vindo a conhecer (e que parece ser algo de estrutural e não meramente conjuntural) deve servir para aumentar a nossa capacidade de promover o País lá fora como destino de eleição e nunca para relaxar esforços neste ponto absolutamente crucial. Numa certa medida, estaremos assim a trabalhar para minimizar o impacto de um hipotético aumento da concorrência internacional no futuro, seja o mesmo resultante da melhoria das condições em destinos tradicionais que agora estão mais fragilizados ou pelo aparecimento de novos concorrentes que ainda não estão identificados. O segundo aspecto é mais estrutural e prende-se com a necessidade de alavancar o crescimento tendo por base o turismo. Em particular, importaria pensar como é que podemos utilizar este fenómeno para “arrastar” (pela positiva, claro!) os restantes sectores da economia. Aspectos como a produção de energia (ao contrário de Trump, penso que aqui a palavra-chave é solar, solar, solar), a construção de infra-estruturas (públicas e privadas) com base em materiais e tecnologia nacionais ou a produção agrícola e piscícola aliada à promoção da nossa tradição gastronómica parecem-me fundamentais. Desafio-vos a colocar esta questão em perspectiva tendo por base a nossa região. Em particular, pensem no Algarve que conhecem juntando um sistema de produção eléctrica totalmente livre de combustíveis fósseis, um sistema de transportes moderno e eficiente à base de veículos eléctricos e todas as novas construções alicerçadas em materiais da zona e em tecnologia amiga do ambiente no que toca à climatização e à utilização de água. É bonito, não é? Então nunca se esqueçam que já António Gedeão escrevia que “sempre que um homem sonha o mundo pula e avança”.
1 Comment
Bruno Inácio
14/2/2017 18:09:27
Luís, uma análise pertinente. A colocação do sector como chave de sucesso da economia é fundamental para que as politicas publicas o assumam também com entusiasmo. Para o bem e para o menos bem, o crescimento do turismo em Lisboa fará mais por este desígnio do que milhões de turistas que visitam o Algarve.
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