O Lugar ao Sul conta hoje com a opinião de um convidado especial. Eduardo Horta, Farense de gema é um verdadeiro apaixonado pela psicologia, área na qual é um profissional muito respeitado. Falador, curioso e dotado de uma mente inquieta, o Eduardo gosta de questionar. É pois “material” de Lugar ao Sul! Nota Biográfica: O Eduardo nasceu, cresceu e estudou em Faro até terminar a licenciatura em gestão na UALG. Começou a trabalhar na empresa da família, em Faro, e por aqui andou à zaragata com os negócios até descobrir que não era isso que o fazia feliz. Finalmente saiu de Faro, foi para Lisboa estudar psicologia clínica no ISPA e fazer uma pós-graduação em Coaching Psicológico na Faculdade de Psicologia. Voltou a Faro para dirigir um Veículo de Ideias onde se faz psicologia clínica, coaching (mas afinal, o que é isso de coaching?) e formação. Anda muito entusiasmado a criar uma clínica social, para levar a psicologia a todos, independentemente das possibilidades económicas. Só é necessário querer ser ajudado, e já não é pouco. Adora psicologia, falar de psicologia e até escrever sobre psicologia, embora diga que escreve mal. Não deixa de ser uma vocação estranha para alguém que fala tanto, principalmente de psicologia ou outro assunto qualquer. A paixão pelo futebol divide-se entre o clube da sal terra e os voos mais altos da aguia de Lisboa e gosta de boa comida, principalmente se for numa mesa cheia de boa conversa e amizade. Quando estou fora da minha terra e apresento-me como sendo algarvio, começam os comentários à minha região. O clima é tipicamente o primeiro, logo seguido das praias, da alimentação, da qualidade de vida e do ritmo mais pacifico, principalmente comparando com as chamadas grandes cidades. Quando o tema é trabalho e negócios, o tom mantém-se. Mais poder de compra, menos exigência dos clientes, melhores margens, a comunidade estrangeira ou o ubíquo turismo. No meu caso particular, já me disseram várias vezes que fazer coaching no Algarve era uma grande vantagem, pois tenho muito menos concorrência, comparativamente com Lisboa. É verdade, há menos concorrência. Mas há um motivo importante para isso, o mercado é menor.
Sim, “a galinha da vizinha é sempre mais gorda que a minha”, é uma tendência natural, mas no nosso caso acho que há algo mais. A ideia de facilidade está sempre associada ao Algarve. As coisas são mais fáceis aqui, com tudo o que isso acarreta, muitas vezes de depreciativo. Nunca ninguém se valorizou por ter feito algo fácil e parece que aqui nada tem dificuldade. Ora, com tanta vantagem, tanto avanço, tanta coisa a nosso favor, com tanta facilidade, como nos podemos atrever a pedir algo mais? Com que direito? Como podemos concorrer com a narrativa das dificuldades do Alentejo, das necessidades da capital, da oposição aos privilégios da capital por parte do Porto ou da insularidade das ilhas? Não se trata apenas de uma luta pelo investimento público, mas também da perceção como o Algarve é visto pelo resto do país, a expetativa com que nos veem. Ao mesmo tempo, pergunto-me qual será a nossa responsabilidade, como algarvios, nesta situação? Será que aceitámos este estatuto? Será que o orgulho natural na nossa região nos deixou presos aos elogios e sem capacidade para mostrar o resto? Ou teremos incorporado uma culpa pela sorte que temos em viver nesta região espetacular? Será que deixámos que a nossa sorte se tornasse no nosso azar? Na prática acabamos por aceitar placidamente muita coisa que noutras zonas não passaria sem um protesto significativo. Com raras exceções, como as portagens a Via do Infante ou algum autarca mais indignado com o estado na EN 125, parece que nada nos perturba e, acima de tudo, nada nos mobiliza.
1 Comentário
12/2/2019 14:13:16
Sim os Algarvios são muito previligiados pelas vantagens desta região... Mas algo à a fazer para não ficarmos pelos mínimos e Acreditem que podíamos dar cartas em muitas situações e em muitas áreas.
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