Por Luís Coelho Tenho aproveitado este espaço de reflexão para ir deixando clara a minha preocupação com a situação de endividamento extremo do nosso País. De facto, a dívida - tanto pública como privada - apresenta-se como um dos principais estrangulamentos ao nosso desenvolvimento.. Infelizmente há pouco que se possa fazer no curto-prazo. Isso assusta-me. Muito. Dificilmente consigo ouvir os políticos profissionais do burgo a falar sobre este tema. A estes falta-lhes tipicamente objectividade (o seu chip parece mudar consoante são poder ou oposição) e não tão poucas vezes conhecimento. Os comentadores televisivos habituais também (já) não me convencem: as suas posições parecem ditadas pelo “sistema” (não, não é o sistema que o Presidente Bruno de Carvalho se tem esforçado por denunciar; é o que nos governa na sombra). É por isso que fico contente quando vejo o Eng. António Saraiva a falar sobre o assunto. Notem, sei perfeitamente que o Sr. Eng. é o Presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP); logo os seus comentários partem também de uma agenda corporativa (e, quiçá, pessoal). Agora, pelo menos é algo assumido e, em face da sua experiência profissional de anos, a sua voz merece ser ouvida.
Ora, em declarações à margem de mais um Fórum Empresarial do Algarve (ficam os meus parabéns à organização do evento – este tipo de debates é de crucial importância para a nossa região e País), Saraiva descreve o nosso problema da dívida como se de uma “enorme e pesada mochila [que carregamos] às costas” se tratasse. É uma imagem feliz por ser bastante gráfica. Falta-lhe, no entanto, o elemento dinâmico. Em particular, o Presidente da CIP deveria ter acrescentado que esta mochila fica mais pesada a cada ano que passa, sendo que a massa muscular de quem a carrega tarda em fortalecer-se. Logo, se nada for feito, passaremos de estar vergados pelo peso da mochila para uma situação onde será inevitável estatelarmo-nos ao comprido no chão. No seu comentário, António Saraiva alude também à necessidade de recapitalizar as empresas que, sendo viáveis, têm neste momento uma estrutura de financiamento desadequada. Diz, também, que é preciso reestruturar a dívida pública, ressalvando que o trabalho conducente a tal resultado deverá ser realizado nas instâncias próprias. Aqui o meu coração divide-se. Em particular, no que toca às empresas privadas, penso que deve ser o mercado a funcionar. De facto, é para mim difícil de conceber que dinheiro público sirva directa ou indirectamente para tapar/resolver a incapacidade de gestão de um certo tipo de sector privado (para já não falar do atropelo que tais medidas geram ao salutar princípio da concorrência). Esta linha de pensamento aplica-se a pequenas empresas mas, sobretudo, às maiores onde, em tese, deveria haver maior profissionalismo na gestão (imaginem só o que penso sobre os vários casos do sector financeiro que foram conhecidos ao longo dos últimos anos…). Por outro lado, admito que o tema da dívida pública é mais delicado. Sem crescimento forte da economia a solução passa por ter um corte nominal no valor da dívida que existe neste momento. Acontece que tal medida terá de ser proposta pelos nossos credores já que não me parece que Portugal consiga impor uma solução deste tipo sem sofrer fortíssimas consequências de curto, médio e até longo-prazo ao nível do seu acesso aos mercados financeiros. Sem este empurrão dos nossos credores o que se pode fazer é entrar num estilo de “cuidados paliativos”, onde se vão gerindo prazos de reembolso e juros, algo que felizmente até tem sido possível de fazer sem levantar grandes ondas de choque. Posto isto, não sei se algum dia será possível resolver a questão do valor nominal da nossa dívida pública. Ainda assim, e em linha com o espírito das afirmações do Presidente da CIP, admito que uma eventual tentativa desta natureza terá de ser feita de forma discreta, pelas pessoas certas, usando os canais adequados e dentro dos timings apropriados. Neste sentido, dificilmente um discurso político feito em grande medida para consumo interno terá outro resultado que não o de aumentar a desconfiança externa para com o nosso País. Em "economês" assumir custos (pelo menos reputacionais) sem ter nenhum proveito associado é sempre mau negócio. Politicamente? Não faço ideia. Mas também me parece que isto não importa assim muito...
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