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O Algarve visto das asas de uma vaca voadora

30/8/2019

2 Comments

 
Por Gonçalo Duarte Gomes

Agora que o final de Agosto se aproxima a passos largos, começa o frenesim da rentrée política. Em ano de eleições, ainda por cima legislativas, pior ainda.

Arrisco afirmar que os níveis de confiança e apreço por parte significativa da população relativamente à classe política conhecem, em Portugal, mínimos assim ao nível dos de finais da nossa Primeira República. Sem querer discutir aqui causas, noto efeitos. Concretamente o da desumanização desta relação.

Exemplo maior será, porventura, a generalizada falta de sensibilidade para um drama silencioso que alastra na dita classe política: o transtorno dissociativo de personalidade (TDP).

Um caso bem recente, e amplamente mediático, manifestou-se no Algarve. O protagonista, António Costa.

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O TDP é uma perturbação psicológica que leva as pessoas por ela afectadas a assumir diferentes personalidades, com pensamentos, memórias, sentimentos e acções distintas.

Pois bem, um cidadão, António Costa, gozou tranquilamente férias no litoral algarvio, retemperando energias em família, com mar, sol e praia.

Subitamente, e findas essas férias, António Costa deu por si já não mero cidadão, mas antes secretário-geral do Partido Socialista (PS), o mais representativo dos três que suportam na Assembleia da República a actual solução governativa, que se apresenta às eleições do próximo dia 6 de Outubro como candidato a Primeiro-Ministro de Portugal.

Ora a trama adensa-se quando verificamos que António Costa é já, afinal, e também, Primeiro-Ministro de Portugal.

Agora vejamos a complexidade do TDP: o secretário-geral do PS, António Costa, na berma da Estrada Nacional 2 (que liga Faro a Chaves), exortou Portugal, há poucos dias, a visitar um “outro Algarve”, que “é bastante mais do que mar, sol e praia”. Ou seja, António Costa recomendou um Algarve para lá daquele que o cidadão António Costa escolhe para passar férias.  Sucede ainda que, a julgar pelo esquecimento a que o Algarve foi votado nesta legislatura, o Primeiro-Ministro António Costa nem tem bem a certeza de que isso do Algarve seja ainda Portugal.

Ou seja, ninguém se entende.

Pode no entanto dar-se o caso de que o Primeiro-Ministro dê ouvidos ao secretário-geral, e no tempo que lhe resta em funções executivas revele interesse pelo exemplo dado da serra do Caldeirão e das riquezas ambientais e paisagísticas que encerra, bem como pela EN2, como forma de conhecer e valorizar o interior e o património natural e cultural.

Ou que, caso seja eleito (como se prevê que seja), esperançosamente com o voto do cidadão António Costa, o futuro Primeiro-Ministro António Costa se lembre das ideias do secretário-geral e candidato António Costa sobre esta matéria. Sendo que será conveniente desembaraçar essas ideias, já que houve ali uma série de confusões.

Falou na necessidade de “voltarmos a ver um país que tem ficado escondido pelas auto-estradas”, quando o seu partido está intimamente ligado à construção de muitas destas infra-estruturas.

Falou no potencial do interior, com base nas suas “produções naturais, culturais e as suas riquezas paisagísticas”. Neste capítulo, sempre temos o Programa de Remuneração dos Serviços dos Ecossistemas em Espaços Rurais, mesmo que ainda em fase embrionária, e apenas em duas zonas-piloto, nenhuma no Algarve e longe ainda das intenções estruturadas e aparentemente pensadas do então ministro-adjunto Pedro Siza Vieira para a valorização dos serviços de ecossistema que as áreas interiores e de baixa densidade prestam à paisagem, com (re)concepção dos modelos de ocupação e exploração, mais próximos de uma efectiva coesão territorial.

Falou no interior como “fonte de inspiração”, descobrindo-se aqui um ponto em que o Primeiro-Ministro já converge com o secretário-geral, aplicando ao Algarve o modelo de marasmo que vigora no inspirador interior – sendo o estado vergonhoso dos serviços de saúde porventura o epítome disso mesmo.

Falou na necessidade de “proteger o Caldeirão e a biodiversidade”, relacionando-a com as alterações climáticas, esquecendo-se que esse equilíbrio assenta na presença humana à qual se retiram todas as condições de permanência, e ao mesmo tempo que se assiste ao colapso do sobreiro na Serra, sem que ninguém se pareça importar.

Falou na água como um “recurso fundamental” que “começa a escassear bastante na serra do Caldeirão”, e cuja falta deixa o Algarve como “uma zona de grande pressão”, falando mesmo de “melhorar a eficiência”, a par do risco de alteração da paisagem por força da escassez de água. Falou de tudo isto em São Brás de Alportel, concelho que em 2018 perdeu (em média, de acordo com dados da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos) 333 litros de água por dia, por ramal, e onde a autarquia local, inclusivamente afecta ao seu partido, quer abrir captações subterrâneas em aquíferos... para alimentar uma praia artificial em plena Serra!

Esperemos então que todas estas personalidades contraditórias que habitam na pessoa de António Costa se entendam e alinhem pelo mesmo diapasão – preferencialmente o do candidato, que é sempre mais promissor – emprestando futuramente ao Algarve o olhar atento e integrado que nos últimos quatro anos não tiveram tempo de emprestar (é enternecedor o discurso do “na próxima legislatura é que vai ser!”, a fazer lembrar as malfadadas e constantemente adiadas expectativas futebolísticas deste coração sportinguista...).

E, já agora, que pena a EN2 não passar em Monchique.

Interessava saber o que pensa o secretário-geral do que tem sido a recuperação do fogo de 2018 (o tal sucesso exemplar de 27.000 ha de área ardida), a começar pelo programa de reordenamento económico daquela serra, anunciado pelo primeiro-ministro ainda as cinzas fumegavam.

Só para tirar teimas sobre estas coisas do "interior".
2 Comments
Miguel
3/9/2019 13:50:45

Nem vou acrescentar muito mais caro Gonçalo, referiu - como é habitual - os pontos nevralgicos, de uma esquizofrenia planeada que é apanágio dos lideres políticos em funções e do continuo discurso centralista; palavras de circunstância, poses para a foto de jornais nacionais e locais, e aquele triste cenário de "ilustres" atrás do primeiro ministro entrevistado quais sabujos salivando, mas rejubilemos, diga lá se algum dia equacionou fazer bodyboard ou qualquer desporto aquático debaixo de sobreiros? Vá Eucaliptos neste caso que infelizmente dominam parte da paisagem da Fonte férrea.

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Gonçalo Duarte Gomes
9/9/2019 10:44:53

De facto, Miguel, se há coisa que não se pode negar a estes devaneios serrano-balneares é a inventividade...
Mas infelizmente, esta é a realidade da esmagadora maioria da política nacional: um espectáculo apalhaçado, que nos distrai e desvia do futuro. E que acontece, principalmente, porque pouca gente exige melhor.

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