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O Algarve não é cidade (*)

21/11/2018

1 Comment

 
Por Paulo Patrocínio Reis

Crónicas de uma região esquecida e que se esquece dos seus

É desígnio deste Lugar ao Sul fugir à espuma dos dias, procurando refletir sobre aquilo que nos move e nos bloqueia enquanto coletivo que tarda em afirmar-se num contexto nacional, um anseio que parece renovar e esfumar-se embalado pela sazonalidade que nos amaldiçoa. Pessoalmente, também não creio ser esse o caminho de incidência casuística que a região precisa de realizar.

Estamos em plena época baixa, termo que transporta em si mesmo um carácter de somenos importância da vida que aqui ocorre em grande parte do ano, arrastando consigo os que aqui nasceram ou escolheram viver.

Na verdade, sendo o turismo o motor económico da região, tudo aquilo que aparentemente não concorra para esta causa, parece ser relegado para terceiro plano. Ainda que esta realidade não seja promovida em primeira instância, de forma direta e declarada pelos seus agentes, foi essa a interpretação que enraizou no país e da qual dificilmente os autóctones conseguem divergir, ainda que por cansaço reclamem ingloriamente outro estatuto no final de cada verão, ou mesmo em sede de discussão do orçamento de Estado, que se realiza nesta época que sazonalmente nos é hostil.


E assim, vítimas de um sucesso inquestionável e inatingível, somos formatados enquanto coletivo para servir quem escolhe passar por cá uns dias, sem tempo e disponibilidade para pensarmos verdadeiramente em nós próprios. A nossa razão de existir são os que aqui não vivem. Essa é a nossa droga, que simultaneamente nos sustenta e nos consome.

O Algarve não é cidade, é mero destino.

Este verão, o jornal O Expresso publicou um conjunto de guias entre os quais constava a lista das melhores cidades a visitar e onde o Algarve não marca presença. O que para uns poderá representar um nicho de mercado turístico mal explorado, para outros, onde me incluo, constitui reflexo deste abandono a que nos votámos e paraíso onde nos tentam aprisionar.

Dificilmente se poderá atuar política e culturalmente sobre a região atual sem uma visão abrangente e num quadro de inovação multidimensional. Na realidade, parece imperar na região um défice de compreensão da cidade, enquanto plataforma de partilha e primeiro reflexo das nossas aspirações coletivas, avanços sociais e culturais.

A abordagem defendida por Ferrão (2003), numa alusão entre a cidade e um ser vivo, propõe o entendimento daquela por intermédio de três grandes vetores que personificam o corpo, a vida e a alma.
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O corpo da cidade são assim os seus sítios, o espaço urbano nas suas múltiplas escalas. A vida da cidade é personificada nas suas redes e nos seus fluxos, as redes de mobilidade, as redes sociais ou os ecossistemas naturais, enquanto a alma da cidade e, designadamente o seu espírito cosmopolita “sustenta a cidade que pensa, intui e sente”, conferindo-lhe sentido, estrutura, atitude, comportamentos, e ainda competências, formando-a cultural, social e politicamente, consolidando-se “uma inteligência coletiva que apenas as cidades parecem conseguir alcançar”.

É pela conjugação destes elementos, que se geram três pilares de valores, que se reforçam reciprocamente, valores estes não menos importantes que os próprios elementos da cidade que estão na sua génese: paisagem, democracia e abertura.

A paisagem da cidade assume-se como resultado da junção dos seus sítios com as suas redes, constituindo-se como a “infraestrutura que sustenta a cidade cosmopolita”. A democracia materializa-se pela fusão da ocupação dos espaços com o espírito social, cultural e humano, enquanto a abertura da cidade revela as suas condições de acessibilidade, mobilidade e conectividade nas suas mais variadas dimensões, desde a partilha de informação e de conhecimento, à capacitação e aprendizagem, à disponibilidade multicultural ou à forma como nos movemos.

As fragilidades e frustrações da região resultam, em minha opinião, da dificuldade e, em muitos casos, de uma manifesta incapacidade de pensar e fazer cidade de modo estruturado, visão holística e alcance para além daquilo que é perceptível no imediato e à vista desarmada.

O Algarve será melhor destino se for melhor cidade ou, dito de outro modo, o Algarve será tanto mais interessante para quem nos visita quanto melhor acolher e valorizar quem aqui reside.

Nesta relação de romance passageiro que o país detém com a região, talvez possamos um dia perguntar a quem nos visita, numa noite de final de verão: foi tão bom para ti como é para mim ?

Por julgar correto, aqui partilho convosco.

Paulo Patrocínio Reis




​(*) O termo cidade é utilizado em sentido lato de lugar urbano de encontro, desenvolvimento económico, social e cultural.
Etimologicamente, a palavra “cidade” tem a sua origem no latim, e vem de civitas, significava originalmente “condição ou direitos de cidadão”. Por sua vez, esse vocábulo deriva de cives, que pode ser traduzido como “homem que vive na cidade” ou “cidadão”.

​
1 Comment
Paula Teles
24/11/2018 19:38:17

Parabéns ao Paulo Patrocínio Reis por esta reflexão que, concordo e sublinho inteiramente.
Sempre tenho dito que o Algsrve precisa de se envontrar com as gentes que aí nasceram e/ ou vivem!
Esse Algarve é o que poderá sobreviver! Parabéns!

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