Por Luís Coelho Notícia publicada hoje no Jornal Público dá conta da indisponibilidade do Governo para custear as obras que o Plano Director Municipal (PDM) de Faro prevê para alterar o traçado da linha férrea na capital do Algarve. O mesmo texto menciona ainda um “ligeiro” atraso nas obras de electrificação da linha do Algarve que, segundo o Jornal, terminarão agora lá para o singelo ano de 2022. Incrível, certo? Comecemos pelo que é evidente. Não é razoável esperar até 2022 por um conjunto de obras que são centrais para melhorar as condições de mobilidade na região. Sem que existam boas ligações ferroviárias (i.e., que funcionem e sejam economicamente interessantes) estamos condenados a ter o automóvel no centro do paradigma dos transportes no Algarve. Esta é uma péssima notícia por todos os motivos que possamos equacionar. Desde logo os económicos, resultantes do brutal aumento do custo com o combustível a que vimos assistindo nos últimos tempos e que resulta em grande medida das medidas fiscais implementadas pelo Governo de Costa. Há, também, o calvário da EN125 e dos custos com a A22, situação que parece simplesmente não interessar a quem a pode resolver. Depois temos o problema ambiental, o qual nos deve preocupar e muito. O planeta já não aguenta mais CO2 e pelo que se exige um esforço sério de todos para minimizar a nossa pegada ecológica. A redução do uso do automóvel é, neste contexto, uma medida central pelo que importa ter um conjunto de políticas integradas que levem a que os cidadãos se libertem o mais possível da necessidade da sua utilização. Logo, a Região não pode ficar impávida e serena enquanto o Governo assobia para o lado e anuncia com ligeireza que um "ligeiro atraso" empurra o final dos trabalhos de electrificação da nossa ferrovia lá para o ano de 2022.
Falemos então agora do tema do PDM de Faro e das obras de realocação da via férrea no concelho. Alguns dirão que ter a linha de comboio a passar no centro da cidade é uma importante mais-valia para Faro. Ora, não sou especialista em transportes, mas parece-me que esta é uma visão simplista do problema. Como economista, entendo que o fundamental é assegurar que o sistema de transporte é verdadeiramente integrado, permitindo que as pessoas se desloquem confortavelmente a preços razoáveis e com sustentabilidade ambiental. Tal envolve uma planificação cuja base deve ser intermodal, com o cidadão a utilizar preferencialmente transportes públicos para distâncias mais longas e meios de transporte de natureza soft (bicicleta ou locomoção pedestre) para distâncias curtas. Neste contexto, o comboio parar ou não no centro da cidade é um detalhe. Importa também dizer que não podemos pensar em Faro em abstracto. De facto, a capital Algarvia tem características que a tornam única no contexto nacional e, quiçá, internacional. Na caso vertente, é fundamental não esquecer que a linha de comboio mata pura e simplesmente a relação da cidade com um dos seus principais ex-líbris: a Ria Formosa. Em particular, neste momento, residentes e visitantes acedem a este importante recurso natural através de uma mão-cheia de passagens que não poucas vezes são notícia por conta dos acidentes mortais que por lá acontecem. Neste sentido, é possível afirmar que a localização corrente da linha do comboio em Faro inviabiliza o desenvolvimento de um projecto para zona ribeirinha que, sendo respeitador das questões ambientais, poderia ser um verdadeiro impulsionador da economia local. Está visto que Lisboa não nos entende e, claramente, não nos respeita. Assim, venha de lá mais uma vitória do Portimonense (que está a ter uma prestação notável na Primeira Liga) no próximo fim-de-semana para ver se o Algarve agita o panorama nacional.
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