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Notas de uma quarentena improvável (3)

31/3/2020

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Quando a culpa nos visita

Anabela Afonso

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​A culpa. Essa visita indesejada que nas alturas mais difíceis, entra cá em casa, sem pedir licença, e instala-se confortavelmente, a vigiar-nos em silêncio pesado. Fá-lo deixando aquela sensação desagradável de estarmos a ser observados quando sabemos estar sozinhos.
Não me refiro à culpa direta do ato ou erro que sabemos ter sido prejudicial, e que pode ser ou não resultado de uma ação intencional.  Falo daquela que nos acompanha quando, mesmo sabendo que não fizemos nada errado, nos vai pesando nos ombros, por sentirmos que há qualquer coisa que podíamos estar a fazer e não fazemos.


Conheci esta visita indesejada quando fui mãe pela primeira vez. Sei que as mães, e muitos pais também, ao lerem esta nota vão imediatamente perceber do que estou a falar. No segundo em que temos uma vida nos braços, que sabemos depender, sobretudo nos primeiros anos de vida, totalmente de nós, percebemos que nunca, nada do que façamos por eles, será suficiente.
No início são as dúvidas sobre se vamos saber cumprir com coisas tão básicas como saber quando têm fome, porque choram quando choram, se vamos saber dar-lhes banho sem os magoar, se vamos conseguir acordar sempre durante a noite quando eles precisam, e por aí adiante. 

Depois regressamos ao trabalho, e não mais nos deixa essa sensação de nunca estarmos tempo suficiente com eles, e quando estamos, o cansaço não nos deixar fazer desse o tal "tempo de qualidade" de que tanto se fala. E quando eles crescem e estão tristes, a primeira sensação que nos assalta é a de impotência, porque o mundo deles já vai muito para lá do pequeno ninho que é o nosso lar e a sua felicidade já não depende só de nós os alimentarmos e pormos para dormir, e aí perdemos o pouco controlo que tínhamos.


Hoje sei que essa culpa, a tal que pesa nos ombros sem termos feito nada errado, anda muito atarefada a visitar muitos lares por esse mundo fora. Somos milhões de pessoas em casa, a assistir de longe, pela televisão, a tragédia que vai chegando a muitos lares. Somos muitos milhões a ver à distância médicos, enfermeiros, auxiliares de saúde, forças de segurança, equipas de limpeza de desinfestação, trabalhadores de supermercados e todos os que enfrentam o risco nas ruas e nos seus locais de trabalho para assegurar que o essencial não nos falte. 


A todos nos assalta essa sensação de impotência, por nos sentirmos inúteis face a esses tantos outros milhares de heróis que todos os dias se arriscam, para que tudo corra bem. Bem sei que à nossa medida, conseguirmos fazer o nosso trabalho o melhor possível, aprendendo a lidar com esta nova realidade de contactar com o mundo à distância já é cumprir a nossa parte. Sei, também, que cumprirmos todas as recomendações e evitarmos ao máximo as saídas, e assim o contacto, é a forma mais eficiente para evitar sobrecarregar os nossos profissionais de saúde na sua frente de trabalho. 


Esta coisa de ser mãe, ensinou-me que chega uma altura em que, se fizermos o melhor que soubermos e pudermos, mesmo que não seja o ideal, só nos resta aceitar que o resto é a vida a acontecer, com bons e maus momentos, alegrias e tristezas, como é próprio da vida, quando acontece.
​
Aprendi que o melhor é saborearmos as coisas boas que a vida nos dá, com a noção de que, a qualquer momento nos pode calhar a nós esse quinhão de sofrimento que grassa pelo mundo, desde sempre. E se ele vier, ter a força para o aceitar também, tal como aceitei as muitas coisas boas que me têm calhado.
​Por isso, mesmo que nos esperem dias negros pela frente, talvez percebamos que, ainda assim, teremos motivos para continuar a agradecer tudo o resto.

Assim, se me permtirem o atrevimento de deixar uma sugestão àqueles que porventura recebam essa visita, e que a sintam a instalarem-se nos ombros, lembrem-se que o que estamos a fazer agora é o nosso melhor, e que está MESMO a ajudar a salvar vidas.  E lembrem-se que, no final, #VaiFicarTudoBem.

Hoje, como sugestão deixo-vos uma visita virtual ao Museo del Prado (Madrid), que está, afinal, aqui tão perto. Aproveitem!

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