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Bem-vindo

Notas de uma quarentena improvável (15)

12/4/2020

6 Comments

 

A guerra mais difícil de travar não vai ser contra o vírus.

Por Anabela Afonso

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Vandana Shiva. Física, doutorada em Filosofia e ativista ambiental


​A minha nota de hoje nasce da informação que é partilhada no Facebook, rede social que os mais novos não utilizam, por ser a rede social dos cotas, mas que continua a ser, para mim, a que permite uma maior interação com as pessoas de quem gostamos, e onde consigo, também, obter informação, seguindo as páginas noticiosas, ou as mais especializadas dedicadas a temáticas sobre as quais me interessa estar atualizada. 


​Tal como qualquer outra rede social (assim como na vida), o que ela nos dá diariamente, depende daquilo que procuramos, e também daquilo que nós próprios lá colocamos. É pelo menos esta a minha experiência. E tal como em muitas outras situações na vida, de lá podemos retirar coisas muito positivas, mas também podemos, por vezes, ver-nos confrontados com o lado mais sombrio do que representa uma rede social (seja ela virtual ou real).


​Porque quero guardar a parte positiva desta nota para o fim, começo pelo lado sombrio do que hoje significou aceder ao Facebook. Começou cedo a aparecer um post de uma senhora muito indignada com os algarvios, pelas reações oficiais, e não só, relativas à vinda de pessoas de outros locais do país, para as suas casas de férias no Algarve, durante o fim de semana da Páscoa. Os termos com que a senhora se dirigia a nós, algarvios, não eram simpáticos, e eu própria comentei, em tom de brincadeira, num post partilhado por uma amiga. 


​​Umas horas passadas o que parecia uma brincadeira, tornou-se uma partilha viral, acrescentada de comentários violentíssimos sobre a senhora, incluindo partilha da morada da casa de férias no Algarve, e inúmeras ameaças. A agravar tudo, até na página de um jornal local se dava destaque a este acicatar viral que inundava as redes sociais, publicando os posts da senhora e vários posts que mostravam a casa em questão (portanto a preservação da privacidade aqui é coisa que não conta para nada, e divulgar ao mundo a morada de uma pessoa contra quem inúmeras vozes se estavam a levantar, também é, pelos vistos, um pormenor sem importância). Não consigo entender como há jornais que acham que as redes sociais são "fontes" de notícias, e pior, que este tipo de coisas devem ser amplificadas para causar ainda mais estragos do que os que já causam sem essa "preciosa" ajuda dos órgãos de comunicação social. E, infelizmente, não faltam no mundo, exemplos trágicos de como este tipo de situação pode facilmente descambar.


​Algumas das coisas que li sobre este caso, seja de algarvios, seja dos que, vindos de fora, acharam que por serem proprietários de casa na região tinham todo o direito a vir (questão que, para mim, não está aqui em discussão), são de uma violência verbal incrível. Nada disto é novo. Ocorre-me, a propósito, a série documental de Steven Spielberg, Why we Hate, que ao longo de seis episódios explica, entre outras coisas, como a manipulação da informação e a exploração de medos primários conduz, tão facilmente, ao exercício da violência sobre o "outro". Outro que até há pouco tempo poderia ser o nosso vizinho, o nosso colega de trabalho, ou até, às vezes, um pai, uma mãe, ou um irmão.


​Coincidência irónica (ou talvez não), é isto ocorrer no domingo de Páscoa, talvez a data mais importante no calendário religioso dos católicos. Surpreende-me sempre, enquanto agnóstica num país maioritariamente católico, e que por isso deveria defender (e sobretudo praticar!) o perdão - que se bem me recordo deve ser praticado mesmo para quem "nos tem ofendido" - , a forma como, quando a ofensa nos toca mais pessoalmente, mandamos o "amor ao próximo" às urtigas. Onde fica o princípio de oferecer a outra face, nisto tudo? 

​Para compensar, como disse no início, hoje também tive a oportunidade, devido a uma partilha muito positiva, de ver um pequeno vídeo onde Vandana Shiva refere que a principal guerra que travamos é a guerra contra a estupidez. Acho que a ideia não poderia vir mais a propósito. Apesar do vídeo ser datado de Agosto de 2018, ele tem hoje uma atualidade assustadora. Para quem não conhece o trabalho de Vandana Shiva, ela é uma ativista ambiental, formada em física e doutorada em filosofia e é possível encontrar no Youtube e no Google inúmeras intervenções dela sobre a nossa relação com o planeta, que valem bem a pena acompanhar.

Além do vídeo que já disponibilizei acima, recomendo também uma sua entrevista para uma excelente série que passou no canal 2 da RTP em 2012, com o título O Tempo e o Modo. Aproveito para dizer que todos os episódios valem a pena.
Neste caso em concreto, no site da RTP onde se encontra o episódio sobre Vandana Shiva, pode ler-se o seguinte texto:
​
"Vandana Shiva alia a física quântica ao ativismo social para resistir pacificamente a um sistema que considera ter colonizado a terra, a vida e o espírito. Conta-nos como começou a defender a floresta, as sementes e os modos de vida e produção locais contra o controlo e o registo de patentes feitos pelas multinacionais.
A análise de Shiva vai mais além: remete-nos para as profundas implicações que o sistema capitalista patriarcal tem na construção de um mundo desigual, com consequências dramáticas, como a fome ou as alterações climáticas, que, para Shiva, são sintomas de implosão de uma civilização que falha material e espiritualmente. A nossa civilização, para sobreviver, terá de rever o seu modelo de compreensão e de interação com o mundo, tendo como exemplo o conhecimento holístico das civilizações chinesa e indiana, que, para Shiva, sobreviveram à História essencialmente porque diferem do Ocidente na relação que estabeleceram com a natureza."


​Aqui podem encontrar essa entrevista, que tem apenas uns breves 30 minutos, e que vos garanto, valem todo o tempo que lhe possamos dispensar.

De facto, quando a ouvimos, percebemos que a principal guerra que travamos, não é a guerra contra o vírus, mas sim aquela que todos os dias somos convocados a travar contra a ignorância, origem de toda a estupidez humana.
​

É preciso não desistir, para garantir que #Vaificartudobem.

6 Comments
Liliana Palhinha
12/4/2020 21:28:04

Gostei especialmente deste post, Anabela, e garanto que não pelo facto de me ter mencionado. É que acho que tocou em vários pontos fulcrais nos dias que correm, no que respeita às redes sociais (e aá relação do jornalismo com as mesmas). Felizmente passam-me ao lado 99% das indignações facebookianas, simplesmente o célebre algoritmo ignora-me olimpicamente :) Mas é algo que me preocupa imenso, o servirem as redes sociais como plataformas para a manipulação, por parte de populistas com agenda política, via criação de perfis falsos, difusão de fake news e teorias de conspitação. Estas, viralizadas também pelo whatsapp, e adquirem o estatuto de verdade inquestionável. E para o não chega ainda temos jornais a replicar, para terem cachas! Mas as redes taambém nos permitem descobrir e aprofundar conhecimento(e arte, e cultura, e muita coisa divertida que rir faz bem), e graças a si eu hoje conheci melhor esta mulher incrível, pensadora e fazedora, com um discurso tão diferente daquele a que estamos habituados no ocidente, desde logo na forma como fala do palel da mulher na sociedade. Refrescante, realmente. A seguir, desde agora. Grande beijinho, continue bem

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Anabela Afonso
13/4/2020 22:28:24

Agora, também por aqui, obrigada Liliana.

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Miguel
12/4/2020 21:28:26

É verdade cara Anabela, dependentes que estamos pelas (felizmente) existentes tecnologias de informação e conexão, nesta altura esquecemos por vezes os lados menos bons das mesma, sendo a devassa da vida privada talvez o mais frequente e grave.
Infelizmente também a frase "you reap what you sow" se torna verdadeira neste caso particular, pelo que lamento toda a violência associada mas como algarvio de gema cujas raízes nesta região remontam pelo menos até ao século XVIII, confesso que fervilhou algo em mim perante a ignorante verborreia que li e que infelizmente não sendo verbalizada reflecte muito do sentimento (ignorante, sempre a ignorância) de vários sectores do país perante a nossa região, a mais mal tratada de Portugal Continental.
Por esses e outros motivos é que defendo a autonomia apaixonadamente, por principio e paixão que nada tem de Anti-Portugal mas apenas de anti abuso e pró dignidade.
E, fazendo eco do seu apelo para a compreensão, o diálogo sempre necessário mais ainda agora, permita-me a ousadia de deixar este link:

https://www.youtube.com/watch?v=GWrY39nU_Zk

Cumprimentos!!

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Anabela Afonso
13/4/2020 22:33:30

Olá Miguel. Não sei se a autonomia do Algarve resolverá este tipo de problemas. Acho que os Algarvios não são assim tão diferentes dos outros portugueses. Obrigada por continuar desse lado, e pela partilha do hino do Algarve.
Espero-o bem.

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Magda Wikesjö
14/4/2020 11:41:34

Olá Anabela, subscrevo e agradeço estas suas palavras e reflexões. Vandana conjuga vários saberes e consegue condensá-los numa mensagem inequívoca e que facilmente chega a todas as almas humanas. Gostei particularmente de uma entrevista que ela concedeu a um canal de televisão francês, onde expõe, com clareza e objectividade, grandes ameaças do nosso tempo...

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Anabela Afonso
14/4/2020 21:39:54

Olá Magda, eu é que agradeço a leitura das minhas notas. De facto a Vandana conjuga uma série de qualidades que raramente vemos numa única pessoa: um profundo e especializado conhecimento sobre o que fala, uma proximidade às práticas mais ancestrais que não é comum num perfil académico; uma capacidade de comunicação admirável, pela qualidade e pela clareza do discurso; e, finalmente uma coragem admirável para enfrentar os grandes interesses económicos e financeiros. Verdadeiramente notável!

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