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Nota de uma quarentena improvável (23)

20/4/2020

2 Comentários

 

Poesia erótica roubada

Por Anabela Afonso

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​Hoje fui de tudo um pouco.
Sobretudo mãe, é certo, mas derramando-me daí para outros eus:
​
Teletrabalhadora e telefonista
Teletrabalhadora e mulher de limpeza
Teletrabalhadora e conselheira
Teletrabalhadora e engomadeira
Teletrabalhadora e amiga
Teletrabalhador e cozinheira
Teletrabalhadora e assistente de estudo da telescola portuguesa
Teletrabalhadora e técnica de apoio às novas plataformas informáticas de ensino
Teletrabalhadora e engomadeira
Teletrabalhadora e mulher

Hoje, fui de tudo um pouco
Só não fui poeta
E amante já agora
que é coisa que fica bem a uma mulher completa.

Por que hoje, a minha casa foi lar, escola, cantina, trabalho, e ainda conseguiu ser o refúgio de sempre
Como consigo?
Como vamos conseguir?
Não sei
Mas sei que só não fui poeta
e amante
E por isso me torno ladra de uma poeta
e amante
que põe em palavras certas
essa outra mulher que somos
mas sobre a qual nunca escrevemos.


IMPREVISTO
Que surpresa
a dos dedos
quando percorrem o corpo

ou espalham os cabelos
pelas costas despidas

Em breve será o ventre
e em seguida

as pernas lentas
mansamente erguidas

O VENTRE
Repositório do corpo
e taça dos seus líquidos
é o ventre o repouso sobre a cama

Mas é também o acto
e o motivo
ternura lenta que a língua planeia

É a chama do corpo 
é o susto   é aquilo
é tudo o que inventar se possa na vontade

Tão depressa mármore
como vidro
tão depressa mar como ansiedade

BEBER-TE
Bebo-te a boca
com o seu manso sabor
a tangerina

​Gulosamente
a comer o mel
no favo da abelha
​

Maria Teresa Horta, In As Palavras do Corpo, Antologia de Poesia Erótica

Que esta minha ousadia sirva para haver mais gente a ler a poesia erótica escrita pelas poetas portuguesas. E ler a poesia erótica de Maria Teresa Horta é um excelente começo.

#Vaificartudobem

2 Comentários
Miguel
21/4/2020 18:31:53

Confesso que desconhecia por completo a autora em questão, o meu obrigado, pois embora não seja leitor habitual de poesia erótica, porque não? Talvez ainda melhor sendo feito a dois.
Permita-se assim a ousadia, já que a inspiração da autora, é algo tão humano como a necessidade de outros contactos que porventura não causarão tantos devaneios, e é bom relembrar-nos todos os dias do que nos faz humanos por inteiro, cumprimentos e votos de continuas inspirações mais ou menos ousadas e sempre de óptima saúde.

Responder
Anabela Afonso
21/4/2020 23:47:36

Olá Miguel. Foi a ousadia já recompensada, se serviu para mais uma pessoa ficar a saber quem é a Maria Teresa Horta. que é muito mais do que uma das nossas grandes escritoras. Para a conhecer melhor deixo-lhe um link para uma entrevista que ela deu ao Expresso em novembro de 2019: https://expresso.pt/podcasts/a-beleza-das-pequenas-coisas/2019-11-08-Maria-Teresa-Horta-Ha-quem-me-veja-como-uma-escritora-maldita .

E para perceber um pouco melhor da singularidade desta mulher destaco este pequeno excerto da entrevista: «Mulher de princípios e de uma só cara, em 2012, quando Maria Teresa Horta foi distinguida com o prémio D. Dinis pelo romance “As Luzes de Leonor”, recusou receber o galardão das mãos do então primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. Na ocasião afirmou que não ficaria de bem consigo se recebesse o prémio das mãos de uma pessoa que estava empenhada em destruir o país.»
Força nessa descoberta, seja da poesia erótica, de que ela é, de facto, dos poucos exemplos conhecidos do género, no feminio, seja pelo resto da sua obra, sempre comprometida, sempre desassombrada, sempre destemida.
Uma boa noite para si, e sempre de boa saúde, também.

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