Por Gonçalo Duarte Gomes Para a breve nota de hoje, pedi emprestado, como título, o primeiro verso do poema "Sombra", do sambrasense Bernardo de Passos (1876 - 1930). Marcadamente influenciado por um lirismo de forte base telúrica, Bernardo de Passos parece-me, neste seu poema, ajudar a traduzir os valores etéreos que, na paisagem, acabam por também ser importantes. Por exemplo, "a voz das fontes" pode reportar-se não apenas às fontes propriamente ditas, mas também, em sentido lato, à água que, correndo nas ribeiras, é, efectivamente, a voz que depois ecoará em nascentes, chafarizes ou bicas. Muito se fala de água, mas quase sempre na óptica do consumo humano. Vital como é nesse sentido, importa - e nisto sou muito repetitivo - nunca esquecer uma ética paisagística que obrigatoriamente devemos considerar ao pensar neste recurso: a do valor ecológico da água. Que se cumpre deixando a água fluir livremente na rede hidrográfica, irrigando, destruindo, desobstruindo, arrastando, erodindo, fertilizando, transportando, descobrindo, cobrindo. Um agente modelador da paisagem de primeira ordem, através do qual o fundo de vitalidade se alimenta, com recurso a uma panóplia de funções que, em anos de generosidade hídrica como o presente, saltam à vista. Para os ver, basta abrir os olhos. SOMBRA
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October 2021
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