Por Gonçalo Duarte Gomes Chegando Agosto ao fim, o Algarve suspira, de paradoxal alívio. As redes sociais inundam-se de memes, celebrando a debandada generalizada da enxurrada de gente que neste dia de simbólica “despedida do Verão” costumeiramente se dá, e que entretanto alimentou, como em nenhuma outra época do ano, a única coisa que há para fazer por aqui. A grande chatice é que, esgotada a utilidade balnear, é tempo do Algarve regressar ao seu normal estado de eclipse. Apesar deste fim de Agosto, é sabido que a silly season não acaba aqui – em Portugal podemos mesmo dizer que não acaba nunca – pelo que também não quero (ainda) maçar as pessoas com assuntos sérios. Mas sempre seria importante que fossemos activando, com calma, o Tico e o Teco, para ver conseguimos sair da cepa torta. Com tal fito, lembro que o Primeiro-Ministro anunciou uma medida de incentivo ao regresso dos nossos emigrantes (principalmente os mais jovens e qualificados), a inscrever no Orçamento de Estado para o ano que vem, baseada na redução do IRS em 50%. Estas medidas passam sempre a mensagem de que quem, por necessidade ou vontade, abandona o barco, merece os nossos melhores esforços para que volte, enquanto quem, bem ou mal, em melhores ou piores condições, ficou e sempre foi empurrando o bote, não fez mais que a sua obrigação e, como tal, não merece nada. Parece-me mais uma expressão do Sebastianismo – fazem falta os que hão-de vir de fora, que trarão com eles o impulso definitivo, a salvação. Há quem diga que foi o candidato a Primeiro-Ministro António Costa quem obrigou o Primeiro-Ministro António Costa a fazê-lo, por causa das eleições, também no ano que vem. As pessoas dizem tudo das pessoas… Eu prefiro a explicação do António (o Variações, não o Costa): Ora o que tem isto a ver com o Algarve? Tudo! Por aqui vive-se perpetuamente nesse estado: para quem vem de fora – especialmente se de chapéu de palhinha na mona – há tudo, nem que para isso tenha que se montar a mentira mais bem guardada da Europa. Para quem cá está o ano todo, vivendo, mantendo o recreio dos outros… nada. No fundo, a região do Algarve é melhor madrasta do que mãe. Por isso mesmo, e já que estamos neste tempo de rentrée política, eu gostava de propor uma medida assim aos nosso decisores, mas em inverso, pode ser? Montava-se aí um subsídio à maneira, para nos manter calados, como bons faxineiros, sopeiros e caseiros, e mantinha-se o palhaço alegre até à próxima temporada de espectáculo circense, que tal? Podemos até chamar-lhe o “subsídio da marroquinidade”, que sempre dá aquele toque de exotismo e estrangeirismo, por estas bandas tão esperado e apreciado. E, em nome do rigor orçamental, prometemos ser atinadinhos, e não gastar o dinheiro em coisas supérfluas. Só em gasolina para compensar os transportes públicos que não temos, a andar devagarinho nas estradinhas que temos, em portagens nas estradonas que já tínhamos pago, em estabelecimentos privados de saúde, para compensar as falhas do público, essas coisas. Ou vá, numa pequena extravagância, a reconstruir os concelhos afectados pelo fogo malandro do início do mês (o tal que não quis saber da cartilha dendrofóbica), a colmatar a diferença entre os apoios que houve o ano passado na região Centro e os que há este, para o Algarve – já agora, é pelo facto de haver ali dois municípios onde as pessoas cometeram o desacato de não eleger presidente da cor do Governo, é só porque o Algarve é filho do padeiro ou é pela contestação regional ao negócio governamental dos hidrocarbonetos, e cá se fazem, cá se pagam? Bom, seja como for, fica a ideia. Para se ir pensando. Com calma, que ainda há dias de calor pela frente, e nunca se sabe quando pode o nosso Presidente Marcelo aparecer numa qualquer ribeira algarvia.
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