Por Bruno Inácio Foto de Teresa Patrício retirada do Sul Informação Para os mais destemidos ou afoitos que possam pensar que vou escrever um texto com rasgos de erotismo, lamento desiludi-los. Mas, já que aqui estão, vão até ao fim não vá a minha imaginação de um verão-não-verão me levar para essas bandas.
Feito o primeiro ponto prévio quero deixar mais dois. Um sobre o receio que normalmente tenho de escrever sobre matérias sobre as quais não tenho muito conhecimento, correndo o risco de ser incorrecto ou injusto para alguém, seja uma pessoa ou uma organização. Ainda assim, vou arriscar, dado o simbolismo que o exemplo que vos quero falar tem na minha singela opinião. O terceiro e último ponto prévio, para dizer que o pelouro do ambiente é coisa que pouco visito e que de resto o Gonçalo Duarte Gomes representa (ás vezes com a minha total discordância) aqui no Lugar ao Sul, à sua singular maneira. Vou pois lhe passar uma finta e me antecipar naquele que podia ser tema de um próximo texto seu. Não tenho a sua capacidade mordaz de chamar bois aos bois mas a intenção também não é essa. Porque existem bois que se sentiriam ofendidos com alguma sugestão comparativa. Posto isto, vamos ao que vim. Ali para os lados do paraíso, ou como quem diz em Cacela Velha, alguém entendeu que seria boa ideia colocar a nu um terreno, em frente à Ria Formosa, desbravando vegetação como se não houve amanhã ou como se o Armagedão tivesse chegado hoje. Não sei, porque a noticia que li sobre o assunto não o dizia, o porque de tanta sofreguidão no desbaste da coisa. O proprietário lá terá as suas razões, e vamos presumir que serão validas – pelo menos para ele – porque mesmo não sendo, o ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e Floresta, entendeu que era mesmo e lá terá licenciado o desbaste. Ao que chamaram alegremente de limpeza. E a dita limpeza terá sido realizada ao abrigo do famoso Sistema de Defesa da Floresta contra Incêndios. Famoso porque colocou o país todo em polvorosa (pólvora aqui não será o termo mais empático para usar neste tema) com a necessidade de limpar as matas como forma de prevenção de incêndios. Se existia um terreno com vegetação, se existe uma licença do ICNF, então o que está errado? Provavelmente legalmente, nada. A questão centra-se no entanto nesta nossa capacidade de podermos usar as leis ao belo proveito e não haver o discernimento institucional para se perceber que tal pode não ser uma boa ideia. As tantas até é, mas desconfio que não será. E porque tantas vezes é exactamente ao contrário ao que exponho que actua o ICNF. Com um rigidez tão inflexível, firme e hirta, que nem o Alexandrino quebra. O ICNF que é tão lesto a meter luzes vermelhas em tantos projetos e ideias, que é tão lesto e cego a proibir tanta coisa, devia ser igualmente lesto a olhar para o que autoriza com olhos de ver e não se escondendo atrás de legislação que dá jeito para muita coisa. Muita coisa boa certamente, mas depois também para disparates, que é o que na realidade este caso aparenta ser. A gravidade maior deste ato é acentuada porque o terreno em causa está em pleno Parque Natural da Ria Formosa e como tal sujeito a legislação especifica ditada pelo sistema nacional de áreas protegidas. Que é como quem diz, ali não dá para ficar nu. Por muito bonito que possa ser o que está por baixo – não é claramente o caso-, convém que se mantenha alguma cobertura de decoro. Porque o ato de ficar nu é muito diferente de naturalismo e de naturismo. Mas as vezes dá jeito confundir. A questão que se coloca é pois legítima por parte de outros que tenham terrenos nas mesmas condições, seja no Parque Natural da Ria Formosa, seja em qualquer outra área do território nacional sujeita a tais protecções: dá para dar um jeito e fazer igual? Não dá, pois não?. Ai onde entra a igualdade de tratamento que o ICNF invoca em tantas situações? Não entra. Fica a porta. A silly season esta a chegar e portanto a coisa passará rapidamente como de resto o tempo liquido que vivemos trata de fazer desaparecer. Nota final: desculpem, efectivamente a minha imaginação de um verão-não-verão não me levou para outras bandas.
1 Comment
António Miranda
6/7/2018 07:54:51
Cometeu o pecado capital da ignorância, comentar sobre o que não sabe: não há licença do ICNF. Relativamente a outros sítios e luzes vermelhas, convido-o a desta vez documentar-se e trazer uma delas para um salutar debate e discussão sobre a correção da atuação desse ICNF que tanto odeia...
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