Por Sara Luz Bem a propósito da Conferência da ONU sobre alterações climáticas realizada na Polónia no início deste mês, resolvi dar resposta a um desafio lançado por um dos residentes deste Lugar ao Sul, o Gonçalo Duarte Gomes, em sair da minha zona de conforto – a área da saúde – e escrever sobre o ambiente. Abordar um tema que não é minha especialidade e, em simultâneo, controlar a inquietude da mente sobre questões que as alterações climáticas levantam na ótica da saúde pública (e.g., risco aumentado do desenvolvimento de doenças malignas devido à poluição do ar, de mortalidade causado por ondas de calor e inundações, do desenvolvimento de doenças infeciosas transmitidas por vetores pelo aumento da temperatura, do aparecimento de problemas respiratórios em virtude de incêndios florestais) não é tarefa fácil. Ainda assim, e face ao compromisso, decidi seguir a perspetiva da cidadania que, à luz do conhecimento atual, talvez seja mesmo a mais pertinente. Da Cimeira do Clima, António Guterres alertou-nos para o facto de “estarmos em apuros”, que é “difícil exagerar a urgência” e que para muitas populações já se trata de “uma questão de vida ou morte”. O tom foi dramático, mas atendendo ao número e à intensidade de desastres naturais a ocorrerem por todo o mundo (e.g., furacões no Atlântico Norte (2017), cheias no Nepal, Bangladesh e Índia (2017), onda de frio na Europa do Leste e Central (2017), incêndios florestais na Califórnia (2017; 2018), erupção vulcânica no Havai (2018), tempestade de poeiras na Índia (2018), tsunami na Indonésia (2018), furacões no Pacífico (2018)), não é caso para menos. De acordo com o Secretário-Geral da ONU, três anos após a celebração do Acordo de Paris “ainda não estamos a fazer o suficiente” o que, sinceramente, não me surpreende. Conforme escreve Yuval Noah Harari, em Homo Deus, “quando chega o momento de optar entre o crescimento económico e a estabilidade ecológica, os políticos, os CEO e os eleitores quase sempre escolhem o crescimento económico”, o que leva a crer que o resgate do planeta em pleno século XXI está cada vez mais dependente dos comportamentos individuais (e.g., reduzir o consumo de eletricidade no aquecimento e arrefecimento das casas; evitar a utilização do carro; utilizar fontes de energia limpa; diminuir o consumo de carne de vaca e produtos lácteos; reduzir, reutilizar e reciclar) e das iniciativas das autarquias locais. No âmbito do poder local, o Município de Loulé é um dos municípios do país que mais tem apostado na promoção da sustentabilidade ambiental, com uma Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas onde são consideradas mais de 20 opções de adaptação. No âmbito da mobilidade urbana sustentável, este município algarvio tem em marcha a criação de ciclovias, o rebaixamento dos passeios (mobilidade reduzida) e um sistema de bicicletas partilhadas já com início no próximo ano. Em 2017 adquiriu três viaturas 100% elétricas e um posto de carregamento interno, pretendendo que 25% dos veículos da sua frota sejam elétricos aquando da renovação da mesma; existe também a intenção de tornar os camiões do lixo 100% elétricos e adquirir um autocarro 100% elétrico. Ainda no domínio da eficiência energética, tem vindo a substituir as luminárias tradicionais por LED na cidade de Loulé, com vista a alargar esta medida a grande parte do território municipal. A estratégia de reflorestação passa por continuar a plantar mais árvores e a constituir um grande pulmão verde na cidade de Loulé. Para isso, a autarquia louletana pretende dar continuidade à ampliação do parque municipal. Após concluir o primeiro alargamento da zona verde em redor do skate parque em 2015, está agora previsto para o ano de 2019 um segundo alargamento juntamente com a construção de um campo de treino informal e um campo de basquetebol. Outra medida sustentável adotada refere-se à substituição dos garrafões de água e copos de plástico pelo consumo de água da torneira e copos de papel na Câmara Municipal. O desperdício de água tem sido igualmente merecedor de grande atenção, visto existirem discrepâncias de perda de água significativas no Concelho (e.g., 30% na cidade de Loulé contra 4% na Quinta do Lago), pelo que está em desenvolvimento um plano de intervenção para tornar os processos mais eficientes. Salientar, por último, o projeto piloto na Avenida Sá Carneiro, em Quarteira – Quarteira EcoLab –, onde serão adotadas soluções inovadoras nas áreas da energia, mobilidade, ambiente, edifícios e economia circular. Neste projeto 100% sustentável, que terá lugar entre a “Rotunda do Polvo” e a “Rotunda do Terminal Rodoviário”, estão previstas, a título de exemplo, a construção de ciclovias e passadeiras de mobilidade reduzida, iluminação LED e Wi-Fi em todo o percurso, redução do número de lugares de estacionamento e tarifação dos mesmos, plantação de vegetação autóctone e sensores de rega e luminária. Muitos dirão que o dinamismo louletano em torno da adaptação e mitigação das alterações climáticas se deve ao facto de poder contar com um orçamento de 100 milhões – o mais avultado da região do Algarve. Mas, a verdade é que essa não é per si condição sine qua non para a aposta no desenvolvimento sustentável. Para corroborar esta afirmação, deixo à consideração o vídeo abaixo sobre uma iniciativa autárquica sustentável em San Pedro La Laguna, um pequeno município de um país de terceiro mundo (Guatemala). A todos, desejos de um feliz e sustentável natal!
1 Comentário
Miguel
18/12/2018 22:25:36
Se são verdade e positivas as medidas e actividades que referiu, acho que um Concelho que permite uma aberração como a Quinta da Ombria que é basicamente exportação pioneira do modelo insustentável do litoral para o interior, não pode ser considerado vanguardista, mas apenas um Concelho com preocupações ambientais como alguns outros até bem perto (bem haja por isso) algumas das quais talvez em jeito de compensação por situações como a que referi, é um pouco como ir a seminários sobre floresta sustentável financiados pela Navigator. Boas festas!
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