Por Bruno Inácio No último texto que escrevi para o Lugar ao Sul entrei por campos pouco desbravados (no caso, até era sobre o desbravamento de campo) por mim no que respeita a opinião escrita e publicada. Uma alarvidade ambiental que ocorreu em Cacela Velha levou-me as palavras para o ambiente o que me valeu umas críticas valentes mas onde também me senti alinhado com um conjunto de vozes que, tendo muito mais peso do que eu para o fazerem, criticaram a acção ocorrida naquela que é uma das localidades mais bonitas do Algarve. Como escrevi, “a coisa passará rapidamente como de resto o tempo liquido que vivemos trata de fazer desaparecer.”. E assim foi. Resta-nos esperar que alguma investigação (será que existe!?) nos dê respostas a questões que ficaram no ar.
Não diria que lhe ganhei o gosto mas hoje volto ao ambiente. Porque existem bons exemplos que nos devem motivar a acreditar que será possível um novo paradigma de investimentos no que respeita a forma como olham para o meio ambiente que os rodeia não com a necessidade de desbravar para cimentar (no sentido do cimento da obra) mas numa lógica ponderada entre os habitats naturais, as densidades populacionais locais e o contexto económico das áreas onde se inserem. Falo-vos do Ombria Resort, no interior do concelho de Loulé, entre as freguesias de Querença e Tôr. Aquele que é provavelmente um dos projecto de investimento turístico mais escrutinados em termos ambientais no nosso país. A história é longa, vinte e muitos anos, e no início não trazia novidade: um grupo de investidores finlandeses quis na década de 90 fazer um resort num local onde ninguém queria fazer nada. Compraram terrenos, lançaram projectos e começaram os problemas. Uma autoestrada que depois de já estar construída ainda tinha um desenho que impedia o avançar do projecto; os medos (alguns justificados, sublinhe-se) de uma intervenção do género junto de um sítio classificado; umas lontras que por lá pouca gente tinha visto; morcegos que foram estudados, expondo a intimidade dos animais; tomilhos que não cresciam em mais lado nenhum… foram muitas as razões que levaram a queixas em diversos organismos nacionais e internacionais. Os promotores venceram umas, perderam outras e o projecto foi ficando permanentemente adiado. Honra seja feita a quem tanto combateu o projecto. Mas honra seja também feita, e muita, a quem nunca desistiu dele. Isto porque os anos de tantos avanços e recuos fizeram o projecto ser alterado de tal forma que hoje o que está em marcha é uma pequena parte do que estava inicialmente previsto e existe uma consciência ambiental, do meio que o rodeia que, especulando, diria que não existiria no seu início. E porque é que eu acredito que existiu efectivamente essa mudança? Não me parece que tenha sido uma epifania ambientalista que tenha varrido os investidores (que sejamos justos sempre a apregoaram). Julgo sim que hoje, a exigência do cliente, mais maduro, mais informado, obriga a que investimentos desta natureza tenham que seguir o caminho eco amigo para garantir uma efectiva e real prosperidade do seu negócio e assim garantir o retorno de investimento. Tudo isto porque nos últimos dias o investimento em causa anunciou um projecto pioneiro e ambicioso com vista a instalar um dos maiores sistemas de geotermia da península ibérica. Ou seja, através de um sistema devidamente testado e comprovado, são realizados um conjunto de perfurações no solo que através de um sistema de circuitos fechados, um fluido inócuo circula, transportando o calor e o frio para bombas de calor geotérmicas que permitem a redução das emissões de gases com efeito de estufa, permitindo um consumo mais sustentável. Estando certo que esse é um bom investimento para o empreendimento, não deixa igualmente de ser uma boa noticia pois vai contribuir para uma melhor eficiência energética dos espaços poupando assim o meio ambiente circundante. Adicionalmente a Direcção-Geral da Energia e Geologia olha para este projecto de forma interessada e acompanha-o por forma a verificar como será aplicado e os resultados que vai alcançar, admitindo até que possa utilizar esta experiência para moldar a legislação existente a este tipo de intervenções. Não coloco em causa que ainda vamos assistindo a algumas aberrações pela região fora. Não coloco em causa que existe ainda caminho a trilhar naquilo que é a relação entre os poderes públicos e os poderes privados. No entanto, não deixa de ser igualmente relevante que seja um concelho como o de Loulé, que tem sido pioneiro na implementação de uma estratégia de adaptação as alterações climáticas, a receber um investimento desta natureza. Que estes bons exemplos possam ser utilizados para criar e replicar em boas práticas, devidamente legisladas, controladas e auditadas. Também é assim que se constrói um destino turístico diferenciado.
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