Por Patrícia de Jesus PalmaLá para Setembro, assinalam-se os 500 anos do início da primeira circum-navegação da Terra, comandada por Fernão de Magalhães: o tal português que deu a volta ao mundo a expensas dos espanhóis, isto é, ciência portuguesa com dinheiro espanhol.
Folgo que, tal como nessa altura, se tenha instalado a polémica com os nossos vizinhos espanhóis, o que na verdade só reforça a verosimilhança do programa comemorativo. O que me desaponta é esta tendência secular para, como no provérbio chinês, não se ver o céu que o sábio aponta e fixarmo-nos no dedo que aponta. Ai, a obstinação com o dedo que aponta!… (É um bom tema a desenvolver para o campo pseudocultural). Por falar em dedo que aponta, vale a pena apontar uma visita à Biblioteca Nacional de Portugal, comissariada por Rui Loureiro, para conhecer os livros e os mapas com que Magalhães terá planeado a viagem. «Em demanda da biblioteca de Fernão de Magalhães» está patente até 13.5.2019 na sala de exposições do piso 3. É uma excelente oportunidade para pôr os olhos no raríssimo Almanach Perpetuum de 1496. Magalhães viria a falecer em Abril de 1521, aos 41 anos e, por ser hoje 1 de Abril, lembrei-me desta e de outras estórias da história de Portugal, que João Ferreira, historiador e jornalista, escreveu e compilou em Histórias Rocambolescas da História de Portugal, com a chancela d’ A Esfera dos Livros. Abre com o capítulo «Milagres, Mitos e Mentiras» e não falta a «Escola de Sagres: um mito que fez a escola». São factos históricos insólitos, mitos, falsidades e falsificações (as fake news há muito que estão na ordem do dia), inverosimilhanças, heróis, vilões, intrigas, escândalos que formaram Portugal e que seriam um êxito de bilheteira nos cinemas, como escreve Ferreira Fernandes no prefácio ao livro: «É que na nossa História pode ter faltado muita coisa. Ela é, aliás, uma sucessão de ausências. Faltou o individualismo protestante, a altivez castelhana, a queda alemã para a música e a inglesa para a democracia. Mundializámos o planeta mas logo cedemos a patente, deixámos fugir entre os dedos um imigrante de luxo (Colombro), já para não falar da nata dos nossos técnicos da primeira das indústrias de ponta (os lapidadores judeus) – falhas que conduziram nos tempos recentes, a não termos sabido, para comparar com uma Finlândia do nosso tamanho, organizar a globalização do Nokia. Seja. Mas histórias picantes, brutais e manhosas nunca nos faltaram. Que esperamos para recompilar – e retocar, publiquem-se as lendas, se elas são interessantes – essa indústria de tramas que nunca nos falhou? E se realizadores nacionais não tiverem unhas, pensemos à finlandesa, pesquisemos o património histórico (de histórias) com olhos postos em Hollywood e até Bollywood, já que não somos virgens nisso de chegar à Índia.» Enquanto as não podemos ver no grande écran, joguemos a mão a este livro de História com gente de carne e osso, que nos diverte e faz pensar.
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