Por Gonçalo Duarte Gomes Manuel Teixeira Gomes, insigne portimonense, foi o sétimo Presidente da desastrosa Primeira República Portuguesa. Eleito pelo Congresso em 1923, abandonou, voluntária e espontaneamente, o cargo em 1925, por sentir que o projecto republicano se desagregava e ruía, sem que ele dispusesse de adequados poderes para intervenção, no quadro legal constitucional de então. Abandonando a política em desilusão, embarca no paquete grego Zeus e deixa Portugal, para não mais regressar. Quase 100 anos depois, numa escola baptizada com o seu nome, na sua terra natal, um grupo de jovens percorre um percurso inverso: desiludidos com os falhanços da política face aos seus anseios e expectativas, lançam mãos à obra, e um desafio à sociedade. E é assim que a turma 10.º L, da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, de Portimão, tenta fazer política. Pela melhor e mais nobre via que há: a cidadã. A história é magnífica, e agradeço ao professor Carlos Café a partilha da mesma, que aqui reproduzo, pedindo desde já perdão se o não fizer com exactidão. No âmbito do projeto de Cidadania e Desenvolvimento, e numa aula em que era necessária uma decisão acerca do projecto a implementar, foi feita referência à então recente morte de Gonçalo Ribeiro Telles, e ao seu trajecto cívico e profissional, que tanto legou a todos nós. Pegando na inspiração desse autêntico herói, e com a música “Heroes”, de David Bowie e Brian Eno em fundo, surgiu o repto: porque não ser este conjunto de estudantes ele próprio heróico, aproveitando o projecto para mudar o mundo? E assim surgiu uma ideia simples: pedir à Assembleia da República, através de uma petição, a instituição do Dia Nacional dos Jardins. Certo, nos dias que correm, petições há mais que muitas. Efemérides então, qualquer dia não há dias que cheguem. Mas parece-me que esta é especial. Porque parte de jovens, que tantas vezes são acusados de estarem alheados da vida pública, da cidadania. Porque esta juventude sabe explicar muito bem o que quer, e porque o quer. Porque este apelo parte de uma região em que o espaço público e os quase inexistentes jardins – bem como os elementos naturalizados das paisagens, com as árvores à cabeça – são deliberadamente maltratados e a sensibilidade dos decisores para a sua importância é nula, ou até menos do que isso. Porque esta é a melhor homenagem que se pode prestar a Gonçalo Ribeiro Telles: dar continuidade ao seu espírito de intervenção cívica, de defesa de valores orientados para a comunidade, para o seu bem-estar e para a sua felicidade. Ao seu espírito combativo por aquilo em que se acredita. Eu concordo com estes cidadãos. E convido-vos a lerem a sua petição e, obviamente, assinar, se também concordarem: CRIAÇÃO DO DIA NACIONAL DOS JARDINS (aqui) Para além desta iniciativa, está previsto o lançamento de um e-book (prefaciado por Viriato Soromenho-Marques) sobre a vida e a obra de Gonçalo Ribeiro Telles, numa criação coletiva da turma, com ilustrações alusivas ao tema dos jardins da autoria de crianças do Jardim de Infância do Fojo e da EB1 Major David Neto, de jovens estudantes da EB 2,3 Professor José Buísel e da Secundária Manuel Teixeira Gomes, e ainda de jovens da estrutura de Educação Especial, numa congregação de todos os níveis de escolaridade e ensino deste Agrupamento. Isto para além do envolvimento de encarregados de educação, e do apoio de empresas concelhias e das autarquias (Câmara Municipal e Junta de Freguesia de Portimão). Com isto, estes jovens, e esta comunidade, desde logo criam um jardim. Os jardins são, entre outras coisas, espaços de magia, reclusão, isolamento, paz, serenidade, microcosmos em que as realidades se transfiguram, invariavelmente para melhor. Hoje em dia, nem sempre é fácil acreditar no que quer que seja, e muitas vezes temos dificuldade em encontrar exemplos inspiradores, e sinais de esperança para o futuro. Pois bem, independentemente do resultado desta petição, o esforço destes jovens é um jardim de abrigo face a tal aridez, um farol de esperança, que se espera possa inspirar muitos outros. Por isso mesmo, e independentemente do desfecho da petição, desde já obrigado. P.S. – agradeço também ao Tiago Águas, através de quem tive conhecimento desta inspiradora iniciativa, que ignorava por completo.
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