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Bem-vindo

Fuyez, fuyez, qui les Algarviens piquer!

2/8/2019

2 Comments

 
Por Gonçalo Duarte Gomes

E ainda por cima, marchent par paires de trois!

Eugène Delacroix cunhou, em 1830, a efígie da República, no quadro “A Liberdade guiando o povo”.

Nesse quadro, Marianne, figura-tipo do povo, surge imponente e inspiradora, à cabeça dos seus concidadãos, erguendo bem alto a bandeira de França, em celebração da deposição da monarquia em terras gaulesas, compondo uma imagem de tal forma poderosa que viria a ter repercussões na iconografia republicana de outros países, como por exemplo Portugal.

Nos últimos dias, e curiosamente em simultâneo com um polémico anúncio surgido na página de Facebook do Aeroporto Internacional de Faro, em que uma campanha propunha aos turistas a fuga da estival “confusão algarvia”, rumo às idílicas paragens de Marselha (!), foi descoberta uma outra versão dessa emblemática pintura.

Nesta, em vez de Marianne, liderando a populaça francesa rumo à putativa liberdade com que os promotores do regime republicano acenavam, surge Maria Ana da Liberdade, moça marafada de Besteiros, à cabeça de uma horda de turistas, devidamente equipados, em feroz debandada rumo ao Sul de França, escapando do caótico Sul de Portugal.

Os haters vão dizer que é Photoshop, que é falso, um ultraje e sabe-se lá que outras vilanias.

Mas o que raio sabem eles sobre arte?

Imagem
"Maria Ana da Liberdade guiando os turistas" - devaneio sobre arte de Delacroix

Em tempos de silly season, a aeroportuária calinada deu para animar e, obviamente, indignar. No entanto, não passou obviamente de um efémero epifenómeno, ou então, e porque o summertime  é pródigo em estrangeirismos, um faits divers, mas que acaba por ser trendsetter para o zeitgeist. Em termos de gestalt, foi mais uma prova da fragilidade do Algarve, o super-destino turístico que treme à mais ligeira brisa.

Muita gente questionou, e bem, a passagem da mensagem, o seu canal, o seu contexto e a sua oportunidade, o termo de comparação… mas menos foram os que, em consciência e de forma fundamentada, desmentiram o seu teor.

Este problema não é algarvio, mas sim nacional: uma paixão arrebatada por questões de forma e um desprezo atávico pelo conteúdo.

De resto, anunciada prova disso é a sequela do filme “MadMaxiano” em que o Algarve, com os seus estratégicos 22 postos de abastecimento (número magicamente dissecado pela Vanessa há dias), está prestes a mergulhar – apenas 4 meses depois do primeiro – com a greve dos motoristas de transporte de substâncias perigosas, agendada para daqui a poucos dias.

Surgiu entretanto ao fundo do túnel aquela que muitos consideram ser a panaceia para todos os males do Algarve, imunizando contra inconsequentes dislates ou profundos desastres: a possível definição de uma região administrativa em 2021.
 
Tal possibilidade surge inscrita no extenso relatório elaborado pela Comissão Independente para a Descentralização, publicado anteontem (disponível aqui) que conta com a participação, entre outros, do ex-reitor da Universidade do Algarve, Professor Adriano Pimpão.

Este documento vem sublinhar um conjunto de características que são de há muito conhecidas: a identidade histórica da região, a coerência entre os seus limites biofísicos e administrativos, as deficiências estruturais, os paradoxos (o PIB per capita e a produtividade do trabalho [em milhares de euros] ao nível de boa parte das regiões da Europa Central, mas elevada incidência de prestações sociais, a par de desemprego e factores de exclusão social – permitindo a conclusão de que as receitas geradas nas empresas não têm retorno sob a forma de investimento socialmente relevante, nem sequer em termos de salários ou estabilidade laboral) ou o seu afastamento dos grandes eixos de inovação (o quadro da repartição da despesa em I&D por sector de execução é particularmente assustador, pois fora da Universidade nada se passa).

Na altura de propor um modelo de governo para essa possível futura região administrativa, existem no entanto sérias chamadas de atenção, principalmente relativamente aos perigos de que o novo nível decisório fique refém das forças e objectivos (leiam-se partidos políticos, a sua gente de confiança e respectivas agendas particulares) que já hoje capturam todo o restante aparelho do Estado, aniquilando assim a tão desejada representatividade, identificação, independência e compromisso dos decisores regionais para com um projecto efectivamente relevante para a região e seu futuro.

Que é no fundo o que mais falta faz ao Algarve: peso e compromisso na altura da decisão.

Juntaria uma outra preocupação: é que não restando dúvidas quanto à necessidade de uma maior autonomia regional em diversas matérias, importa não perder de vista a coerência nacional. Defendi-o em tempos, já aqui no Lugar, através de uma “regionalização táctica” (disponível aqui).

Resta-nos acompanhar a evolução da aplicação deste documento, elaborado por gente de reconhecido mérito e competência.

Enquanto isso, vamos sobrevivendo como podemos à guerrilha estival que o mês de Agosto traz às estradas, ruas, praias, supermercados, cafés e restaurantes de boa parte do Algarve, continuando a indignar-nos com quaisquer outros que tenham a ousadia de constatar tal realidade.
2 Comments
Miguel
3/8/2019 18:22:01

Caro Gonçalo, todas as decisões acarretam benefícios e riscos, sendo que o beneficio de o Algarve usufruir de maior capacidade de gestão e administração comporta (segundo diversos especialistas, estudos e diria mesmo reflexão pessoal ponderada) é superior ao risco.
Eu sou por essência um regionalista, não acredito na benevolência (nem na eficácia) do centralismo ou "agregacionismo" a nível nacional e internacional, uma vez que consequência necessária de tal situação é a dominância dos principais agentes centralizadores sob os centralizados, dominância com alternância e sem alternativa, nunca apoiarei contudo cegamente o que quer que seja.

Não sou anti Lisboa, fiz mesmo parte da minha formação académica por lá, que infelizmente me mostrou o quanto a Ualg, - como o mais importante centro de conhecimento local - precisa de amadurecer, rever a sua estratégia incluindo ao nível da oferta e conteúdo programático das referidas ofertas, paupérrimas que são em áreas como Ciências Humanas ou Direito.

Costumo referir um ponto que pouca gente refere ou presta atenção, é que uma região administrativa, autónoma necessita de agentes autónomos e não de agentes centralizadores disfarçados de locais, ora é isso que em maior ou menor grau representam os partidos nacionais; a perversão neste ponto é de tal forma que está inserido constitucionalmente a proibição da criação de partidos de âmbito regional, algo chocante num país democrático.

Como bem refere Jacinto Palma Dias (não teria chegado nem ao autor nem ao livro sem a sua referência) por diversos motivos bastante bem dissecados na sua obra: "não interessa aos governos nacionais que o Algarve tenha a sua própria história, não vá a região dignificar-se como região autónoma" e dignidade é o que mais o Algarve precisa, e que muitos nacionais externos à região e muitos algarvios labutam e labutaram para que não acontecesse, silly season after silly season continua o Algarve dos monos, e de indicadores sociais, de saúde e de educação que só podem chocar e indignar os cidadãos, não chocando mais porque deles não tomam conhecimento para além do dia a dia perceptível.

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Gonçalo Duarte Gomes
5/8/2019 09:45:10

Miguel, os regionalismos em Portugal fazem todo o sentido, uma vez que a identidade das regiões é histórica, cultural e ambientalmente notória. No entanto, esse sentido perde-se se retirado o contexto da coerência nacional.
O modelo centralista é inegavelmente um falhanço absoluto. Não tanto por defeito estrutural, mas antes por culpa operacional da clientela que os partidos distribuem pelos cargos, que obedece cegamente aos ditames daqueles que, basicamente, mandam nas suas vidas.
Ora é para esse problema que chamo precisamente a atenção. Se a descentralização for apenas pretexto para reforçar os poderes, agora regionalmente, desses homens e mulheres de mão das agendas partidárias, mais vale estar quieto. Porque para neo-feudalismo já basta o projecto de municipalização em curso...

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